NOVOS TEMPOS. O alemão Klingler medita sobre seu tempo na cadeia brasileira - WEINRETTER/DIVULGAÇÃO

Memórias do Submundo

Redação Publicado em 10/07/2009, às 16h26 - Atualizado às 16h29

Rodger Klingler

Best Seller

Erro Trágico

Ex-detento lança olhar estrangeiro sobre a vida nos presídios brasileiros

Relatos de ex-presidiários não são novidade na literatura. Memórias do Submundo é exatamente isso, com uma diferença: foi escrito por um alemão que passou os anos de 1985 a 1989 em diferentes cárceres do Rio de Janeiro. Rodger Klingler era um jovem cozinheiro quando veio ao Brasil pela primeira vez. Encantou-se com a liberdade, as mulheres e a cocaína. Com a perspectiva de fazer uma pequena fortuna comprando o pó aqui e revendendo na Alemanha, tentou voltar para casa com 1 kg em uma costura falsa da jaqueta. Detido, cumpriu pena de quatro anos e suas desventuras incluem brigas com outros presos, torneios heróicos de futebol e uma fracassada tentativa de fuga. Foi testemunha ocular do início da aids e do surgimento do crack na cadeia. Tinha 21 anos. Hoje, com 44 anos e vivendo em seu país natal, Klingler trabalha como roteirista. Nada é inédito para nós: a precariedade do sistema carcerário, a brutalidade e a corrupção que grassam entre os policiais e o judiciário, a sociedade paralela formada dentro da detenção e até mesmo as figuras surpreendentemente humanas que emergem desse ambiente tão contrário à vida. A obra vai bem nas partes puramente narrativas, na ação de fato. O autor derrapa nas digressões, muitas vezes infantilizadas e enfraquecidas pela pouca substância referencial. Porém, o atrativo reside justamente no olhar estrangeiro sobre a cruel realidade vivida na pele do autor.

Entrevista com Rodger Klingler

Você mostra um claro ressentimento em relação ao modo como seu caso foi tratado pelo consulado alemão...

A embaixada alemã realmente não fez nada por mim. Vinham a cada seis meses ao presídio para me visitar, não me ajudaram em relação a um advogado, me viram como um objeto que sujava a imagem da Alemanha. A Unicef do Brasil me ajudou mais do que o consulado da Alemanha.

A impressão que fica é a de que você tratava tanto o uso da droga como o tráfico internacional de uma maneira leviana, quase ingênua. Você teve a ilusão de que poderia voltar com a droga para a Alemanha?

Olha, fui um jovem aventureiro e queria ganhar dinheiro. Foi mais do que uma ilusão para mim, quis vender a coisa na Alemanha e voltar ao Brasil como homem feito. Com 1 kg de cocaína vendida aqui na Alemanha você não tem mais problemas financeiros. Na Alemanha você paga pelo menos 100 euros por 1 grama de cocaína boa, que corresponde a R$ 300. O lucro é imenso.

POR MAURICIO DUARTE

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