Redação
Publicado em 10/08/2011, às 11h19 - Atualizado às 11h19Miguel Nicolelis
Companhia das Letras
Neurocientista brasileiro prova que ficção científica pode virar realidade
Com a publicação de Muito Além do Nosso Eu, o neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis se junta a outros ótimos prosadores nacionais (como Marcelo Gleiser e Fernando Reinach) na tarefa de divulgar de forma emocionante complexas descobertas científicas. Considerado pela revista Scientific American um dos 20 cientistas mais influentes do mundo, Nicolelis relata sua obsessão no livro: “Criar novas formas de visualizar, monitorar, medir e decifrar a melodia produzida pelos universos neurais”. O que significa mudar a nossa percepção sobre o mundo e produzir ações dignas da ficção científica mais desvairada. Em 13 capítulos, ele navega pelo passado ao contar a evolução dos estudos sobre neurônios e seus companheiros cerebrais; fala sobre o presente, detalhando suas experiências na Universidade Duke (Estados Unidos), onde já provou que a macaca Aurora pode mover um braço robótico usando apenas a força do pensamento e a magnífica interface cérebro-máquina – ICM; e prevê radicais mudanças para o futuro, quando pacientes de sérios problemas de paralisia voltarão a andar e todos nós (ou nossos bisnetos) se comunicarão pelo pensamento, usando a “brainet”. O cientista Nicolelis explica seus achados não apenas com jargões da área, mas também retirando exemplos da política (os comícios das Diretas Já em 1984), futebol (a final da Copa do Mundo de 1970) e música (que abre e fecha o livro de forma tocante). Além disso, retrata a dura – e por vezes tediosa – vida de um pesquisador que deposita todas as suas esperanças na inteligência de ratos e simpáticas macacas. Mesmo que em sua obra existam alguns trechos muito além da compreensão de um leigo, o autor consegue ser didático, reiterando ideias e fatos concretos. Um livro esperançoso, em que o futuro deixa de ser sombrio e apocalíptico e volta a ser novo e admirável.
ANDRÉ RODRIGUES