Redação Publicado em 11/10/2007, às 18h09 - Atualizado em 12/10/2007, às 14h19
Pequenas desgraças
Pequenas desgraças
Adaptar para HQ este clássico da tragédia carioca, já interpretado em duas versões cinematográficas e em diversas montagens teatrais desde 1961, poderia descambar para a caricatura. Nessa peça, onde uma das forças motrizes é o exagero, o Anjo Pornográfico retratou as hipocrisias mais medíocres como uma explosão de egoísmos desesperados no processo de uma mentira ser repetida até tornar-se verdade - a unanimidade burra gerando desgraças individuais e intransferíveis na sua busca pelo lucro. O absurdo é desencadeado após o pedido de um atropelado em seu leito de morte pelo beijo de outro homem. Mas a escolha do balanço entre os semblantes chapados dos personagens ilustrados em traços preto-e-branco concisos, lembrando xilogravuras, e a veemência das dores de cada um deles, mantida nos diálogos virulentos, funciona. E até preserva algo do autor original, que escreveu alternando a linguagem culta vinda da literatura e o folhetim com tanta intimidade a ponto de criar uma voz própria.
Por André Maleronka
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