Gay Talese
Bruna Veloso Publicado em 21/11/2016, às 00h41 - Atualizado às 00h53
Nem parece um livro de Gay Talese, escritor tido como um dos pais do chamado Jornalismo Literário e conhecido por mergulhar por anos nas histórias que resolve investigar. O Voyeur parte de uma premissa diferente. Talese relata ter sido contatado nos anos 1980 por Gerald Foos, empresário que criou uma plataforma de observação no hotel do qual era dono, a fim de satisfazer suas “necessidades voyeurísticas”. Invadindo
a privacidade dos hóspedes sem se fazer notar, Foos escrevia diários nos quais gotejava patéticas análises a respeito de quem observava. E é isso que temos em boa parte de O Voyeur – a reprodução das visões de um homem que acredita, pretensiosa e delirantemente, ser um “estudioso” sobre o comportamento humano. Somente décadas depois de conhecê-lo, Foos deu a Talese o direito de publicar este livro, que implica diversos questionamentos morais e éticos (Foos detalha um assassinato que diz ter presenciado, além de afirmar ter visto cenas de estupro
e abuso infantil, sem jamais ter feito algo em prol das vítimas). É difícil entender por que Talese, cheio de credenciais, resolveu colocar no mercado uma obra tão insípida. A falta de consistência não parte apenas do personagem principal: o autor falha em fazer uma análise autoral e em seus métodos de investigação, tanto que a veracidade dos relatos de Foos foi posta em cheque por uma reportagem do jornal Washington Post,
que conduziu uma pesquisa que deveria ter sido feita pelo próprio Talese antes da publicação. O único aprendizado que fica da leitura de O Voyeur é o de que nem os mestres são infalíveis.
Fonte: Companhia das Letras
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