Redação
Publicado em 15/10/2010, às 12h23 - Atualizado às 12h23Mikal Gilmore
Companhia das Letras
Coletânea de artigos de célebre jornalista mostra medo e delírio nos anos 60
Mikal Gilmore tinha 16 anos no assombroso ano de 1967. Na época ele não sabia disso, mas estava vivendo a última – e mais intensa – chama do sonho americano. Era possível devorar sanduíches de peru com LSD nas ruas de São Francisco. Os álbuns The Doors e Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band excitavam os neurônios. Meninos e meninas se davam as mãos, alguns pelados, pedindo amor livre, paz e uma arte transgressora. Mas esses jovens foram longe demais, rápido demais, e logo descobririam o preço de sua ousadia. A retaliação veio firme e rancorosa, empurrando todos para o abismo. Sob a carranca de Richard Nixon, a juventude despertou levando cacetadas da polícia. Nas décadas seguintes, a maioria foi lentamente corroída pela dor de diversos tipos de câncer e pelo excesso de drogas e álcool. Houve arrependimento? Como escreve Gilmore neste formidável Ponto Final, “foi uma experiência notável demais para ser renegada”. O autor, jornalista da Rolling Stone norte-americana, reúne aqui artigos nos quais descreve as ambições – e certa ingenuidade também – “da mais controversa geração do século 20”. São perfis dos Beatles, Johnny Cash, Timothy Leary, Hunter Thompson, entre outros, que definem uma década de inesgotável criatividade na música, na cultura e na política mundiais. O texto informativo e emocionante não é só um painel daqueles tempos incendiários, mas é também uma desesperada tentativa de encontrar no meio dos escombros alguma brasa que possa iluminar tudo de novo.
André Rodrigues