Redação
Publicado em 10/11/2008, às 19h35Samuel Casal e Adriana Brunstein
Conrad
A prequel em quadrinhos do mais recente longa de Zé do Caixão
Samuel Casal é um grande ilustrador. Mas talvez não tenha sido a escolha certa para este que se apresenta como um "prequel" em quadrinhos do sensacional filme de José Mojica Marins, Encarnação do Demônio. O estilo de linhas retas criadas, ao que parece, digitalmente, tirou de Zé a alma quente como o inferno católico e a brasilidade, aliadas a uma certa tosqueira sempre muito bemvinda. Ainda que algumas das páginas arregalem os olhos, como pesadelos em preto-e-branco – sombras de uma beleza insana que conseguem em raros momentos traduzir o ambiente da prisão e os tormentos do protagonista –, os quadrinhos formados por estas frias linhas resultam sem emoção. O roteiro tem texto forte no clímax, em que o coveiro encara um padre que tenta convertê-lo. Porém, recheado de clichês, remete a filmes sobre prisão e programas sobre o tema. A obra de Mojica, o mais original diretor de cinema brasileiro, roga por uma adaptação mais humana, de traços mais artesanais e reais – como os de Mozart Couto incluídos em uma galeria nas páginas finais. Ao retratar a morte e seus mistérios como ninguém, Zé do Caixão merecia uma HQ com mais vida.
Ricardo Franca Cruz