QUAl É A MúSICA?

Redação

Publicado em 12/10/2007, às 14h34
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Beijar o Céu - Simon Reynolds

O poder transformador da música - e das palavras

Na contramão dos estereótipos de críticos musicais, o inglês Simon Reynolds não usa argumentos blasé, não corre atrás de novas sensações do mercado e nem se apóia em gêneros musicais específicos. Considerado um dos jornalistas que melhor entende a cultura pop na atualidade, Reynolds agora tem uma coletânea de artigos editada no Brasil. Nos seus textos mistura, em prosa fácil de ler, Smiths com Public Enemy, compara Morrissey a Genet e faz referências a filósofos. As impressões que ficam são as de que Reynolds acredita no poder transformador da música, da palavra e não tem medo de errar - e isso só torna sua leitura mais importante. Na seqüência, batemos um papo com o crítico-escritor. O que fez você escrever sobre música?

O rock virou minha grande paixão quando tinha 15 anos - culpa dos Sex Pistols e do punk. Logo depois descobri a imprensa musical inglesa, que era excitante e estimulante nessa época. Fiquei apaixonado tanto pela escrita quanto pela música. Quando vi que não tinha nenhuma habilidade musical e que queria participar da cultura do rock, percebi que o caminho era virar crítico mesmo. Essa virou minha única ambição dos 17 anos em diante.

Você tenta escrever sobre quase tudo dentro do espectro da música pop. Por quê? Há certas áreas pelas quais sou particularmente obcecado. Durante os anos 90, fui envolvido na cultura rave e, no início da década atual, gastei muita energia chamando atenção pra cena grime. Tento manter meus ouvidos abertos, sem perder a perspectiva crítica. Não quero que minha escrita seja neutra ou objetiva demais, prefiro que seja engajada e militante.

Qual é seu método para identificar um fenômeno musical?

Não sei se tenho outro método além da simples audição. Procuro as coisas que indicam um novo caminho para a música. Fazendo esse trabalho por 20 anos, desenvolvi ouvidos atentos e um sentido pra farejar o que será a "The Next Big Thing" (a próxima sensação). Às vezes, erro e falo mal de algo que, depois, percebo ser bom. Mas isso acontece muito pouco, em 95% do tempo minhas primeiras impressões estão corretas! Qual a relevância da crítica musical?

A função da crítica musical é aguçar a diversão dos leitores por meio do entendimento. Quando comecei, os críticos realmente importavam, faziam algo interessante parecer melhor ainda. Agora parece que há menos espaço para isso. O papel de proteger certos estilos de música passou das mãos dos críticos "donos da bola" para um sistema mais difuso e igualitário, o boca a boca que se forma nos blogs. Em termos de cultura musical mainstream, acho que os críticos têm apenas uma fração do impacto que costumavam ter. Os músicos costumavam gostar e respeitar críticos - você pode sacar isso na relação tensa, mas respeitosa, entre Lou Reed e Lester Bangs, ou nas conexões entre certos críticos britânicos e bandas específicas - Nick Kent e os Rolling Stones, Paul Morley e Joy Division, Barney Hoskyns e Birthday Party.

Você sabe alguma coisa sobre a crítica musical no Brasil?

Não sei muita coisa sobre cultura brasileira de rock, então não consigo imaginar o que pode acontecer. Uma coisa que saquei é que punk rock é muito importante no Brasil, só de ver o tanto de gente que foi numa tarde de autógrafos do MC5. Depois me contaram que os Ramones tocavam em lugares do tamanho de estádios!

Por André Maleronka

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2006

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