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A constatação que faz Gene Simmons lamentar pelo rock atual

Vocalista e baixista do já encerrado Kiss é conhecido por fazer críticas à forma como a indústria musical opera nos dias de hoje

Igor Miranda (@igormirandasite)

Publicado em 24/12/2024, às 17h25
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- Gene Simmons, músico do Kiss (Foto: Kevin Mazur / Getty Images)

São muitas as críticas de Gene Simmons à música, especialmente ao rock, na atualidade. Não apenas aos artistas e bandas, como à forma de operação da indústria, que destinou esforços e investimentos a outras searas após o estabelecimento dos formatos digitais.

O vocalista e baixista do Kiss retomou a pauta em recente entrevista à Fox News (via BraveWords). A participação no podcast No Spin News, da emissora, se deu para que Simmons promovesse sua próxima turnê solo pelos Estados Unidos, com shows entre abril e maio. Sua banda original encerrou atividades em dezembro de 2023, após 50 anos de carreira.

Inicialmente, ao explicar por que segue se apresentando mesmo aos 75 anos de idade, ele explicou:

“Estar no palco é algo difícil de se explicar, porque há algo que simplesmente acontece. Somos animais sociais, há algo que acontece quando você está no palco e os fãs estão enlouquecendo... não importa se você é o Papa, há essa movimentação de dar e receber emoções, e é disso que se trata.”

Em seguida, o músico lamentou que muitos artistas e grupos de rock mais jovens não tenham mais a oportunidade de sentir o mesmo em larga escala. Para ele, o modelo de negócios “está morto” devido à perda de valor da música no mercado, o que impede o surgimento de grandes nomes.

Infelizmente, o modelo de negócios morreu. Novas bandas de rock não têm chance. De certa forma, o rock finalmente morreu, pois o garoto sardento que é seu vizinho — que é um bom garoto e tem uma boa família — se tornou privilegiado: ele se sente no direito de poder baixar e compartilhar arquivos e obter toda essa música de graça.”
Gene Simmons (Foto: Ethan Miller / Getty Images)

 

Gene ainda destaca que muitas pessoas não entendem seu ponto. Confundem, segundo ele, com simples ganância.

“Ficam falando: ‘E daí que a música ficou gratuita? Você é rico demais para se importar. Por que você se importa?’. Bem, imagine que você trabalha para viver, escreve um livro, vende mantimentos ou o que quer que seja, e as pessoas não pagam pelo trabalho que você faz. Então você me entende. Você diz: ‘Bem, espere um minuto, eu trabalhei para isso, como é que não sou pago?’.”

Por fim, ele reforçou sua tristeza com o cenário atual, dizendo:

“É isso que está acontecendo com novos artistas. E isso deixa meu coração partido.”

O rock morreu e Gene Simmons é o coveiro

Na maior parte de suas entrevistas nos últimos anos, Gene Simmons bate na tecla de que o rock morreu. Em entrevista ao The Zak Kuhn Show, por exemplo, o vocalista e baixista do Kiss foi perguntado se o estilo “ainda está morto”. O (literalmente) linguarudo garantiu que sim e destacou como o período entre 1958 e 1988 trouxe muitos mais ícones da música do que as décadas seguintes.

“As pessoas não entendem como posso dizer isso quando todos nós temos nossas músicas e bandas favoritas. Mas vamos jogar um jogo. De 1958 a 1988, são 30 anos. Tivemos Elvis Presley, tivemos Beatles, Rolling Stones, Jimi Hendrix, Pink Floyd, David Bowie… no mundo da ‘discoteca’, tinha Madonna. Nas guitarras mais pesadas, AC/DC, Aerosmith e assim por diante. E os artistas da Motown ao mesmo tempo. Tinha Prince. No prog, Yes, Genesis, Gentle Giant. E bandas pesadas como Led Zeppelin e assim por diante. De 1988 até hoje, são quase 40 anos. Quem são os novos Beatles?”

O apresentador do canal mencionou o Nirvana. Simmons reforçou gostar da banda, mas disse que pessoas mais jovens sequer a conhecem. E sobrou até para um nome que foi cotado na resposta anterior.

“Pare. Estamos cegos. Sou um grande fã, mas se você andasse pela rua e perguntasse a um jovem de 20 anos ‘quem é o baixista do Nirvana?’, ele não saberia do que você está falando. Ou pedir: ‘você sabe cantar uma música do Nirvana?’. Todos conheciam os Beatles e, em menor grau, os Stones e Elvis. Mesmo se você odiasse rock, você sabia deles. [...] Mas anos atrás, meu filho viu uma garota bonita e tentou começar uma conversa. Ela estava com a camiseta dos Rolling Stones, aquela com a língua. Para puxar papo, ele disse: ‘ah, então você é fã, hein?’. Ela perguntou de quê, ele disse ‘dos Stones’ e ela perguntou: ‘o que é isso?’. Mesmo com ele cantarolando o riff de ‘Satisfaction’ e de outras músicas, ela nunca tinha escutado.”
Gene Simmons (Foto: Francesco Prandoni / Getty Images)

 

Disposto a refutar qualquer outro artista ou banda que possa ser apontado como “os novos Beatles”, Gene Simmons pediu mais dois nomes. O entrevistador citou Pearl Jam e Foo Fighters. A resposta? “De jeito nenhum”. Ele continua:

“Amo Foo Fighters, amo essas bandas. Mike McCready [guitarrista do Pearl Jam] me disse que cresceu ouvindo Kiss. Um de seus solos [‘Alive’] foi pego nota por nota de Ace Frehley [guitarrista do Kiss, em ‘She’]. Mas meu ponto é: se você andar aleatoriamente pela rua e perguntar ao primeiro jovem de 20 anos: ‘diga o nome de alguém ou de alguma música do Pearl Jam ou cante uma música’... boa sorte. Eles não conseguem.”

Na opinião do músico do Kiss, tanto ele quanto o responsável pela entrevista estão “próximos demais” do rock, o que dificulta a capacidade de julgamento. Ao mesmo tempo, ele destacou informações que nenhum dos dois saberia: quem são os primeiros-ministros da Inglaterra, França ou Canadá.

Ainda em seu ponto de vista, Dave Grohl se tornou “muito mais popular” que o Pearl Jam e o próprio Nirvana, grupo do qual fez parte antes do Foo Fighters. O motivo? O artista transcendeu a bolha do rock.

“Os mais novos podem conhecer Dave por ele ter feito comerciais de TV e convivido com pessoas fora do mundo da guitarra e dos shows. É assim que você se torna um ícone. Todos sabem quem é Snoop Dogg, mas outras estrelas do rap, não necessariamente. Snoop está na mídia, teve um programa com Martha Stewart. Fato é que as massas não têm ideia de quem está no Phish, uma das minhas bandas favoritas, ou no Pearl Jam.”

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