Guitarrista do Queen e PhD em astrofísica expressou seu receio em torno do uso da tecnologia, seja na música ou fora dela
Igor Miranda Publicado em 15/09/2023, às 09h30
Não dá para negar que o avanço da inteligência artificial chegou à música para ficar. Há várias formas de uso: emular com perfeição vozes de grandes artistas em canções que eles nunca gravaram, compor discos inteiros a partir de uma simples execução de algoritmo ou outras formas mais técnicas de exploração, como “limpar” registros com ruídos ou algo do tipo.
Como toda nova tecnologia poderosa, a IA inspira cuidados. Brian May, guitarrista do Queen e entusiasta da ciência — não à toa, PhD em astrofísica —, revelou algumas de suas preocupações sobre o tema em recente entrevista à revista Guitar Player.
Embora a inteligência artificial possa ser aplicada em diversas áreas da sociedade — também gerando possíveis problemas — May admite que seu maior receio está justamente no campo musical. Para ele, chegará em um ponto onde não será mais possível identificar música feita por tecnologia ou por humanos.
“Acho que a esta altura do próximo ano, o cenário será completamente diferente. Não saberemos qual é o caminho para frente. Não saberemos o que foi criado pela IA e o que foi criado pelos humanos. Tudo vai ficar muito confuso. Acho que podemos olhar para 2023 como o último ano em que os humanos realmente dominaram a cena musical.”
Seria exagero por parte de Brian? Ele garante que não.
“Eu realmente acho que isso pode virar algo bem sério. E é algo que não me enche de alegria, me deixa apreensivo. Estou me preparando para ficar triste com isso.”
Porém, nem tudo é negativo na inteligência artificial sob o ponto de vista Brian May. O músico do Queen entende que a robustez desse tipo de tecnologia “aumentará o poder dos humanos para resolver problemas”. A questão é saber balancear.
“O potencial da inteligência artificial para causar o mal é, obviamente, incrivelmente enorme. Não apenas na música, porque ninguém morre na música, mas pessoas podem morrer se a IA se envolver na política e na dominação mundial de nações.”
Por fim, o guitarrista destaca:
“Acho que a coisa toda é extremamente assustador. É muito mais abrangente do que qualquer um imaginava — bem, certamente do que eu imaginava.”
Um dos grandes nomes da música a não poupar críticas ao uso de inteligência artificial nessa área é Ed Sheeran. Em entrevista ao Audacity (via American Songwriter), o dono de hits como “Thinking Out Loud” e “Shape of You” recorreu à ficção para dizer que as pessoas deveriam estar cientes dos possíveis problemas causados pelo uso indiscriminado de tecnologia.
“O que não entendo sobre a inteligência artificial é que, nos últimos 60 anos, os filmes de Hollywood vêm dizendo: ‘não faça isso’. E agora todo mundo está fazendo isso. E eu fico tipo: ‘você não viu os filmes em que eles matam a todos nós?’. Além disso, simplesmente não sei por que você precisa disso – se você está tirando o emprego de um ser humano, acho que provavelmente é uma coisa ruim. O ponto principal da sociedade é que todos nós desenvolvemos trabalhos. Se tudo for feito por robôs, todo mundo vai ficar sem trabalho.”
Em entrevista à Kerrang! Radio (via Blabbermouth), o vocalista do Slipknot, Corey Taylor, seguiu caminho parecido. Para ele, a IA é apenas uma evolução acomodada de outras ferramentas que corrigem vozes desafinadas ou performances ruins.
“Para ser honesto, eu não estou nem aí para nada disso. Não sei o que as pessoas estão tentando provar. Elas estão tentando provar que os computadores podem fazer as coisas tão bem quanto as pessoas? Porque, se sim, então qual é o ponto? um exemplo ainda pior da tecnologia substituindo o talento do que venho reclamando há anos com o Pro Tools, afinando e usando os mesmos sons. E as pessoas continuam a dizer: ‘oh, não é legal?’. Não, não é legal. Você está maluco?”
Outro grande vocalista do heavy metal contemporâneo a demonstrar sua opinião sobre inteligência artificial é M. Shadows. O frontman do Avenged Sevenfold, porém, discorda completamente de Taylor e diz que ficaria feliz até mesmo em ceder sua voz para que a tecnologia crie músicas e performances a partir dela.
Fora do som pesado, o ídolo alternativo Nick Cave demonstrou ter um posicionamento parecido com o de Taylor. Para ele, IA não tem nada a ver com arte, pois compor uma música é um ato profundamente humano.
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