Grupo que já se apresentou no Brasil aposta em métodos de composição nada ortodoxos, com vários projetos trabalhados ao mesmo tempo
Igor Miranda Publicado em 25/10/2024, às 08h00
O rock conta com alguns dos artistas mais prolíficos da história da música. Porém, uma banda tem se encaminhado para fazer história nesse quesito: o King Gizzard & the Lizard Wizard.
A banda australiana existe desde 2010. Seu álbum de estreia, 12 Bar Bruise, saiu em 2012. Doze anos depois, o grupo já entregou 26 discos de estúdio, sendo cinco deles só em 2017, com mais cinco em 2022. Como isso é possível?
Formado em Melbourne, o sexteto consegue conciliar uma quantidade enorme de material produzido com uma diversidade absurda. Entre os gêneros abordados na extensa discografia estão o rock psicodélico, hard rock, progressivo, heavy metal, jazz fusion, folk, eletrônico e por aí vai.
Um dos líderes da empreitada é o vocalista e guitarrista Stu Mackenzie, também um dos mais inquietos da banda. Em entrevista à Louder, ele disse que o King Gizzard geralmente trabalha em no mínimo dois projetos diferentes ao mesmo tempo.
A regra é: não descartar nenhuma ideia por completo. Ele, que completa o grupo com Ambrose Kenny-Smith (guitarra e teclados), Joey Walker (guitarra), Cook Craig (guitarra e teclados), Lucas Harwood (baixo) e Michael “Cavs” Cavanagh (bateria), conta:
Sempre fazemos um monte de demos. E muitas delas são super vagas. Às vezes, eu nem sei se duas delas vão acabar no mesmo disco. Às vezes, eu penso que duas vão estar no mesmo disco e, na verdade elas vão para dois discos diferentes. Elas podem evoluir de jeitos diferentes.”
Entre as marcas inusitadas em estúdio do King Gizzard & the Lizard Wizard, vale destacar o álbum Nonagon Infinity (2016), feito para ser tocado em looping, sem ter uma sequência de começo, meio e fim. No ano seguinte — que teve cinco discos —, Flying Microtonal Banana (2017) foi feito com instrumentos construídos pela própria banda e gravado de forma microtonal, como o título indica.
Em 2023, um ano após a banda ter lançado mais cinco discos, foi preciso tirar o pé do acelerador e aí “só” dois álbuns saíram: um de thrash metal, outro de pop eletrônico. O único de 2024 (até agora) foca no blues e no country rock.
Para atingir tamanha produtividade, o King Gizzard & The Lizard Wizard não segue convenções na hora de compor. Com exceção de alguns álbuns — como I'm in Your Mind Fuzz (2014) —, todos os músicos assumem qualquer instrumento enquanto as ideias estão sendo trabalhadas. Não há vaga fixa. Além disso, todos contribuem com o processo de criação: adicionam partes e juntam ou separam trechos.
E são incansáveis. Quando eles terminaram de trabalhar no “álbum infinito” de 2016, a ideia era dar uma pausa, mas as ideias continuaram a fluir. Stu Mackenzie explicou, em entrevista resgatada pela Far Out Magazine, como uma coisa levou a outra, até que o período sabático acabou se transformando em cinco discos no mesmo ano:
Estávamos experimentando com todos os tipos de coisas diferentes: coisas pesadas, rápidas que pareciam ligadas a Nonagon, e então ideias de jazz mais tranquilas, que pareciam ser de um universo totalmente diferente desse. Daí, parecia que tínhamos essas quatro ideias diferentes para criar quatro álbuns distintos, e então, de alguma forma, acabou virando cinco (álbuns).”
Um problema que pode surgir por funcionar dessa forma é em relação ao setlist dos shows. Stu explica que, inicialmente, as apresentações do King Gizzard consistiam basicamente em improvisações e trechos. Quando o catálogo ficou grande demais, eles focaram em aprender a tocar as músicas.
Agora, o grupo parece ter chegado a um meio termo, segundo o frontman:
Agora os sets são soltos e livres, mudando toda noite. Escolhemos de cerca de 100 músicas e tocamos 16 a 18 por noite. A cada passagem de som, nós passamos por músicas que não temos ideia de como tocar e tentamos lembrar dos acordes e essas coisas. Então, estamos seriamente no limite do que podemos fazer no palco.”
Um exemplo de setlist inesperado dos australianos aconteceu recentemente no Brasil, na edição de 2024 do Lollapalooza (via site Igor Miranda). Foram 10 canções, abordando 8 álbuns, em uma seleção bastante focada no material mais pesado, o que surpreendeu quem esperava uma apresentação mais inclinada ao rock progressivo e ao psicodélico.
Se a quantidade de álbuns é grande, o número de shows, também. Em 2019, o Institute of Contemporary Music Performance colocou o King Gizzard & The Lizard Wizard no 21º lugar de um ranking mundial dos artistas musicais que mais trabalham.
Entre janeiro de 2018 e agosto de 2019, foram 113 apresentações — média de uma a cada seis dias, relativamente alta se considerarmos que seguem lançando um alto volume de músicas inéditas quando não estão na estrada. Já entre os anos de 2016 e 2017, foram 188 performances ao vivo — média de uma a quatro dias.
Colaborou: André Luiz Fernandes.
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