ROMPIMENTO

A reação de Andreas Kisser após Eloy Casagrande anunciar saída do Sepultura

Guitarrista disse ter ficado “muito surpreso” com decisão do baterista: “estávamos trabalhando na turnê de despedida por dois anos [...] e ele decidiu sair três semanas antes do início”

Igor Miranda (@igormirandasite)

Publicado em 08/01/2025, às 18h23
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- Sepultura ainda com Eloy Casagrande (Foto: Stephan Solon)

A entrada de Eloy Casagrande para o Slipknot representou não apenas uma grande glória para o baterista — e os fãs, que celebraram como se fosse uma vitória também deles —, como também um problema para o Sepultura. O baterista brasileiro fazia parte da banda desde o fim de 2011 e só comunicou sua saída em fevereiro, às vésperas do início da turnê de despedida Celebrating Life Through Death. O americano Greyson Nekrutman assumiu a vaga.

Casagrande tem explicado em entrevistas que só avisou sobre sua decisão “em cima da hora” porque o grupo americano exigiu sigilo. Mesmo assim, seus ex-colegas parecem ter se chateado — visto que o guitarrista Andreas Kisser discutiu o assunto algumas vezes na imprensa.

A ocasião mais recente se deu em entrevista ao Overdrive.ie (via Blabbermouth). Kisser foi perguntado se Casagrande decidiu sair porque o grupo está prestes a encerrar atividades. Ele respondeu:

“Não faço ideia, cara. Você tem que perguntar a ele. Pois ficamos muito surpresos com a decisão dele. Estávamos trabalhando na turnê de despedida por dois anos — com ele envolvido — e três semanas antes do primeiro show, ele decidiu ir embora do nada. Foi muito estranho. E ele decidiu três semanas antes da primeira data que estávamos trabalhando por dois anos para acontecer, com a aprovação dele e tudo — estávamos discutindo o setlist e todos os efeitos e tudo — mas ele decidiu ir naquele momento e foi embora.”
Andreas Kisser (Foto: Elsie Roymans / Getty Images)

 

Dos males, o menor: o nome de Greyson Nekrutman logo foi lembrado por Andreas, visto que ele havia conhecido o trabalho do baterista nas redes. Ele destacou:

“Greyson veio à minha mente de forma imediata, porque o estávamos seguindo. Meu filho, Yohan, me mostrou seus vídeos, Derrick [Green, vocalista do Sepultura] o viu tocando com o Suicidal Tendencies em Los Angeles. E ele veio à minha mente imediatamente. E eu liguei para ele, e 48 horas depois, estávamos juntos. [Risos]”

Kisser ainda pontuou que a “dança das cadeiras” nas baterias do Sepultura, Slipknot e Suicidal Tendencies “talvez tenha sido melhor para todos”. A saber:

O que diz Eloy Casagrande

Em entrevista à Veja SP (via site Igor Miranda), Eloy Casagrande explicou seu lado da história. O baterista destacou que, sim, aceitou fazer o teste para o Slipknot porque o Sepultura estava com seu fim já encaminhado — a banda não deve passar de 2026.

“Eu recebi o convite para fazer o teste depois do anúncio da turnê. O grande lance, da razão de eu ter aceitado fazer a audição, foi o final do Sepultura. A banda iria acabar, e eu não queria parar de tocar bateria aos 33 anos de idade. Rolou um papo com o Slipknot, perguntei sobre a agenda deles, se daria para conciliar as duas bandas, mas eles falaram que não, não teria como, eu seria exclusivo. Então foi uma decisão minha, pelo término do Sepultura.”

Porém, o acordo com o Slipknot só foi repassado aos colegas de Sepultura no início de fevereiro — o que gerou uma situação não muito agradável. Ele disse:

“Foi complicado, eu comuniquei eles quando tinha fechado o acordo, no dia 5 ou 6 de fevereiro. Logo nesse dia eu convoquei uma reunião e expliquei a situação. Foi isso, uma decisão individual.”
Eloy Casagrande (Foto: reprodução / Instagram)

 

A razão para o fim do Sepultura

Motivações que vão além dos acontecimentos do Sepultura estão vinculadas ao fim. Em entrevista à Loud TV (via Blabbermouth), Andreas Kisser disse que a morte de sua esposa, Patricia, influenciou a opção pelo encerramento. Ela tinha 52 anos e faleceu em decorrência de um câncer de cólon.

O músico diz:

“Sim, com certeza, definitivamente [o fim do Sepultura está associado à morte de Patricia]. [...] O processo foi muito doloroso e difícil, mas tem sido uma experiência aberta: conhecer a mim mesmo, minha família, novas oportunidades de falar sobre a vida por causa da morte.”

Na visão de Andreas, “o Brasil é um dos piores lugares para se morrer”, já que “muitas pessoas são esquecidas pela sociedade”. Por isso, ele tomou a decisão de criar o movimento Mãetricia, que, em suas palavras, “inspira e estimula as pessoas a falar sobre a morte em muitos aspectos” — incluindo temáticas como eutanásia, suicídio assistido e cuidados paliativos.

“Tivemos o privilégio de dar à minha esposa cuidados paliativos, por causa do plano de saúde, mas a maioria das pessoas no Brasil não tem isso. Começamos esse movimento e um festival de música [Patfest] que teve há pouco sua terceira edição, arrecadando fundos para as pessoas que tomam e dão cuidados paliativos nas favelas do Rio de Janeiro.”

Com a perda de Patricia, Andreas Kisser passou a enxergar o fim de outra forma. O guitarrista do Sepultura enfatiza que a morte é sua maior professora.

“Estou aprendendo muito sobre a vida porque respeito a finitude. Não podemos controlar isso. Todos nós vamos morrer. Você vai morrer. A câmera vai morrer. [Risos] Qualquer dispositivo eletrônico vai parar de funcionar. Não podemos escolher. O que podemos escolher é viver o momento. A intensidade do presente é muito mais intensa se você respeitar a finitude.”

Até mesmo em outros campos, a finitude é importante. O guitarrista comenta:

“Se você vai ao cinema e ele não tem fim, não há significado, não há mensagem. Um livro, um trabalho, esta entrevista… qualquer coisa que você faça na sua vida tem que terminar. Pensamos em fases: começo, causa e efeito; início, meio e conclusão. É a vida. Vamos respeitar isso. Não vamos tentar viver para sempre, com IA, robôs e todas essas coisas. Vamos ser humanos e respeitar a finitude, respeitar a morte.”

A própria Patricia discutia a morte de forma aberta, segundo Andreas. Ela chegou a fazer pedidos que antes soavam como brincadeira, mas foram respeitados.

“As pessoas têm essa ideia de que se você falar sobre morrer, coisas ruins vão acontecer e coisas assim. É totalmente o oposto. A Patricia costumava falar sobre morrer: ‘Quando eu morrer, por favor, não esqueça meu travesseiro. Não esqueça meu cobertor. E coloque meu pijama e meias nos meus pés porque eu não quero ficar com frio’. Todos rimos na época, mas quando ela morreu, nós fizemos isso. Não consigo explicar em palavras a sensação de realizar um desejo de sua pessoa amada. São coisas simples. E isso te traz paz, compreensão e um sentimento de gratidão por ela ter feito parte da nossa vida por tantos anos. Tenho três filhos [com ela] e muitos dos Andreas que eu costumava ser morreram com ela. Mas estou descobrindo outro que está surgindo disso.”

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