Cantora surpreendeu ao dizer que não está preocupada com tecnologias capazes de emular sua voz e explicou a razão
Igor Miranda Publicado em 10/10/2023, às 10h30
A discussão mais recorrente no mundo da música em 2023 gira em torno do uso de inteligência artificial. As ferramentas podem ser empregadas para emular com perfeição vozes de grandes artistas em canções que eles nunca gravaram, compor discos inteiros a partir de uma simples execução de algoritmo ou outras formas mais técnicas de exploração, como “limpar” registros com ruídos ou algo do tipo.
Com relação à possibilidade inicial, de se reproduzir registros vocais, há diversas preocupações em torno de direitos básicos dos artistas. Porém, Shakira não parece ter qualquer preocupação.
A cantora foi convidada a refletir sobre o assunto em entrevista à Billboard (via Music News). Na ocasião, surpreendeu ao dizer que a tecnologia comete muitos erros ao tentar replicar a voz de um artista. Por isso, seria “difícil” se deparar com alguma boa imitação de sua performance.
“Já me mostraram como soo com inteligência artificial. Mas não acho que eles acertaram ainda. Não consigo me ouvir lá.”
Em seguida, a estrela pop colombiana destacou alguns dos elementos que a ferramenta ainda não teve sucesso ao aprimorar.
“A letra E, por exemplo, soa como a minha voz, mas as outras quatro vogais, não. Acho que será difícil para a IA me imitar.”
Consciente de que ainda deve levar algum tempo para a tecnologia evoluir a tal ponto, Shakira comentou que está de olho em outras questões, mais próximas de sua atual realidade.
“Tenho problemas maiores para lidar agora. Minha maior preocupação é descobrir como Milán [filho dela] pode praticar futebol americano, futebol e beisebol na mesma semana.”
Em outro momento da conversa, Shakira comentou a venda de seu catálogo musical para a Hipgnosis. O negócio foi concretizado em 2021. Ao todo, 145 canções da artista agora têm seus direitos vinculados à empresa. Os valores não foram revelados.
“Sou muito amigo do Merck [Mercuriadis]. Ele é um especialista em musicologia que conhece meu catálogo intimamente desde a primeira música que escrevi, quando tinha 8 anos. Sei que minhas composições estão em melhores mãos, tendo ele como guardião delas, e estou muito feliz. Eles estão fazendo um trabalho muito bom. Se você vende seu catálogo, precisa ser para alguém que valoriza sua música e conhece música.”
Um dos grandes nomes da música a não poupar críticas ao uso de inteligência artificial nessa área é Ed Sheeran. Em entrevista ao Audacy (via American Songwriter), o dono de hits como “Thinking Out Loud” e “Shape of You” recorreu à ficção para dizer que as pessoas deveriam estar cientes dos possíveis problemas causados pelo uso indiscriminado de tecnologia.
“O que não entendo sobre a inteligência artificial é que, nos últimos 60 anos, os filmes de Hollywood vêm dizendo: ‘não faça isso’. E agora todo mundo está fazendo isso. E eu fico tipo: ‘você não viu os filmes em que eles matam a todos nós?’. Além disso, simplesmente não sei por que você precisa disso – se você está tirando o emprego de um ser humano, acho que provavelmente é uma coisa ruim. O ponto principal da sociedade é que todos nós desenvolvemos trabalhos. Se tudo for feito por robôs, todo mundo vai ficar sem trabalho.”
Em entrevista à Kerrang! Radio (via Blabbermouth), o vocalista do Slipknot, Corey Taylor, seguiu raciocínio parecido. Para ele, a IA é apenas uma evolução acomodada de outras ferramentas que corrigem vozes desafinadas ou performances ruins.
“Para ser honesto, eu não estou nem aí para nada disso. Não sei o que as pessoas estão tentando provar. Elas estão tentando provar que os computadores podem fazer as coisas tão bem quanto as pessoas? Porque, se sim, então qual é o ponto? um exemplo ainda pior da tecnologia substituindo o talento do que venho reclamando há anos com o Pro Tools, afinando e usando os mesmos sons. E as pessoas continuam a dizer: ‘oh, não é legal?’. Não, não é legal. Você está maluco?”
Outro grande vocalista do heavy metal contemporâneo a demonstrar sua opinião sobre inteligência artificial é M. Shadows. O frontman do Avenged Sevenfold, porém, discorda completamente de Taylor e diz que ficaria feliz até mesmo em ceder sua voz para que a tecnologia crie músicas e performances a partir dela.
Fora do som pesado, o ídolo alternativo Nick Cave demonstrou ter um posicionamento parecido com o de Taylor. Para ele, IA não tem nada a ver com arte, pois compor uma música é um ato profundamente humano.
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