Vocalista original do Black Sabbath e líder do Motörhead eram amigos de longa data e criaram músicas juntos
Igor Miranda
Publicado em 27/12/2022, às 19h12 - Atualizado em 29/12/2022, às 18h55O saudoso Lemmy Kilmister construiu uma relação muito forte com Ozzy Osbourne. O vocalista e baixista do Motörhead chegou a compor algumas músicas para a carreira solo do eterno cantor do Black Sabbath, mas o que sempre chamou a atenção dos fãs foi a duradoura amizade que os dois desenvolveram, inclusive com aparições conjuntas em eventos diversos.
Não é de se surpreender, portanto, que Osbourne tenha sido uma das últimas pessoas a conversar com Kilmister, falecido em 28 de dezembro de 2015, aos 70 anos, em decorrência de uma série de problemas de saúde. Em entrevista à Planet Rock (via Ultimate Guitar), concedida em 2021, o Madman relembrou o triste contato final com o amigo.
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“Provavelmente, fui uma das últimas pessoas a conversar com ele. Eu telefonava, mas alguém atendia dizendo que ele não iria conseguir falar. Daí liguei de novo e o colocaram na linha, mas eu não conseguia entender o que ele dizia. Foi horrível.”
Ozzy também destacou que um dos últimos encontros que teve pessoalmente com Lemmy ocorreu durante uma turnê pela América do Sul, ainda em 2015. Na ocasião, Osbourne e o Motörhead foram escalados junto de outras atrações para se apresentar no festival Monsters of Rock, promovido no Brasil e na Argentina. Kilmister, inclusive, passou mal antes de subir ao palco da edição brasileira e desfalcou o evento.
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“Fui à América do Sul com ele uns seis meses antes [de sua morte]. Ele estava terrivelmente magro e mal vestido. Fiquei de coração partido.”
Sharon Osbourne, esposa e empresária de Ozzy, também participava da entrevista e complementou:
“Todos sabiam àquela altura que Lemmy estava doente. Ele havia perdido muito peso.”
Mesmo assim, o Madman preferiu manter a discrição e não abordar o assunto diretamente com o amigo.
“Ele tentou seguir em frente dentro da normalidade, mas era uma daquelas situações em que você sabe o que está ocorrendo e não comenta nada. Ele foi até o fim. Ele até dizia que poderia ter vivido por mais uns 10 anos se não tivesse seguido seu estilo de vida, com o cigarro e tudo, mas sempre se dizia orgulhoso por ter vivido do jeito que desejou. Ainda assim, foi triste. Sinto falta dele.”
Em outra entrevista, agora concedida em 2018 à Metal Hammer, Ozzy Osbourne contou a mesma história do telefonema a Lemmy Kilmister. Porém, acrescentou um detalhe importante: ele tentou se deslocar à casa do amigo o mais rápido possível, sem sucesso.
“Liguei para ele no dia de seu falecimento, eu já sabia que ele estava para nos deixar. Ele sequer sabia que era eu. Tive que dizer: ‘Lem, é Ozzy’. Ele apenas balbuciava, daí eu falei: ‘pelo amor de Deus, fique aí, eu estou indo’. Falei para Sharon: ‘f#da-se, entre no carro, vamos visitá-lo. Quando estávamos saindo, ela me disse que ele já havia partido. Isso me afundou, me atingiu muito forte.”
As colaborações de Lemmy Kilmister à carreira solo de Ozzy Osbourne podem ser ouvidas em quatro músicas de No More Tears (1991), um dos álbuns de maior sucesso da trajetória do Madman. Ele coescreveu as letras de “I Don’t Want to Change the World”, “Mama, I'm Coming Home”, “Hellraiser” e “Desire”. As duas primeiras citadas foram promovidas como singles e a primeira chegou a render um Grammy para Osbourne, em 1993, na categoria Melhor Performance de Metal pela gravação ao vivo presente no disco Live & Loud (1992).
Ozzy, claro, retribuiu a gentileza e participou com o guitarrista Slash da música “I Ain’t no Nice Guy”, disponibilizada pelo Motörhead no álbum March ör Die (1992). O trabalho ainda apresenta uma versão para “Hellraiser”, faixa que já havia sido lançada por Osbourne.
Durante a já mencionada entrevista à Planet Rock, Sharon Osbourne relembrou como foi o trabalho de Ozzy com Lemmy.
“Essas músicas foram criadas muito rapidamente. Lemmy fez várias turnês com Ozzy e nós morávamos na mesma cidade, ele era um grande amigo. Ele era, talvez, o homem mais culto que eu conheci em toda a minha vida. Era um homem brilhante, tinha um vocabulário muito vasto. Muitas pessoas não notam isso.”