DJ brasileiro mais ouvido do mundo se reinventa junto ao pop nacional e a povos da Amazônia: “olho para o Alok de 2019 e não reconheço muita coisa"
Eduardo do Valle (@duduvalle) Publicado em 14/03/2022, às 13h44
A história começa há sete anos. Alok era então um nome em ascensão — um artista de 23 anos que entraria, apenas meses depois, para a lista dos melhores DJs do mundo pela renomada revista de música eletrônica DJ Mag. Sobrava talento. Faltava inspiração. Sua busca por respostas o conduziu por 13 horas até Cruzeiro do Sul, no Acre. De lá, partiria por mais nove horas de barco até uma aldeia próxima à divisa do Brasil com o Peru. Foi lá, em meio à comunidade Yawanawá, que ressignificou a si mesmo.
Corta para o final de 2021. O artista que me atende tem números estratosféricos. São 26,8 milhões de seguidores no Instagram, 6,25 milhões de inscritos no YouTube e 21 milhões de ouvintes mensais no Spotify. É o DJ brasileiro mais ouvido do mundo — e alterna com Anitta o topo de nome nacional mais ouvido globo afora. Da 44ª posição no ranking da DJ Mag, onde estreou em 2015, saltou para o 4º lugar em 2021. É pai, marido, empresário, filantropo e gamer. E tira folgas, sempre que possível.
Foi em uma dessas folgas que Alok falou com Rolling Stone Brasil. De Jericoacoara, no Ceará, contou sobre a retomada da agenda de shows, sobre os novos projetos e sobre a família, que virou prioridade após a chegada de Raika, de 1 ano, e Ravi, de quase 2. “Sempre que eu posso trago eles para as minhas viagens, sempre coloco a família em primeiro plano.”
É um recomeço para o goiano de 30 anos, 18 de carreira, que encontrou na família um dos motivos para repensar o ritmo de sua vida. Foi refletindo sobre filhos e sobre o futuro que ele olhou para o passado e encontrou na experiência amazônica com os Yawanawá a resposta para seu novo projeto: “Eu andava me perguntando muito para onde era o futuro, e aí entendi: o futuro é ancestral”.
“Simplesmente parei tudo o que tinha para fazer, parei agenda por dois meses, e fui fazer esse primeiro álbum inspirado nas aldeias indígenas com 12 povos indígenas diferentes”, conta o DJ. Todo o envolvimento com a musicalidade e a ancestralidade indígena vai render a Alok pelo menos um álbum e um documentário ainda em 2022. Foi o que o levou de volta às águas do rio Amazonas, de onde transmitiu, no último mês de setembro, uma apresentação para o Global Citizen Live. Em um palco montado na água, fez soar para mais de 360 mil pessoas as vozes das etnias Huni Kuin, Yawanawá e Guarani em meio a um line-up com nomes como o BTS e Elton John. Em sua retomada de shows, no Festival Untold, da Romênia, ele finalizou o set com três canções gravadas junto aos indígenas. A recepção, segundo ele, superou as expectativas.
Para além da música, Alok desembarcou em Brasília em agosto, em uma rara ocasião de posicionamento político, onde visitou a manifestação contrária ao marco temporal, tese que busca redefinir (e, efetivamente, reduzir) as demarcações de reservas indígenas no Brasil. Em meio a lideranças indígenas, deu seu testemunho, relembrou sua passagem pela aldeia na juventude e emprestou visibilidade à causa, que segue em discussão: “Acho que os indígenas são muito discriminados, porque falta muito o lugar de pertencimento”, diz, “então meu papel em Brasília foi, de alguma forma, potencializar, amplificar essas vozes”.
O recomeço de Alok, com a paternidade e com a floresta, está longe de ser uma exceção. Durante toda a carreira, o artista goiano parece relacionar-se com fases de redescoberta. Foi assim quando estreou na cena psytrance aos 12 anos, ao lado do irmão gêmeo Baskhar; ou quando decidiu seguir com seu projeto solo, em 2001, mais ligado à House Music. Lembranças que ele compartilha no podcast As Histórias Não Contadas da Música Brasileira, disponível no Spotify.
Hoje, com a luz no fim do túnel da pandemia começando a aparecer, Alok é um artista diferente daquele que entrou em 2020. “É muito louco, mas quando olho para o Alok de 2019 não reconheço muita coisa”, diz. A decisão de mudar, reforçada pela formação da família e por um acidente aéreo do qual escapou ileso fez repensar as prioridades. Sua agenda, antes lotada de shows, hoje divide espaço com compromissos ligados ao universo gamer, com streams semanais do jogo Free Fire, e com os trabalhos do Instituto Alok, um terceiro “filho” fundado há pouco mais de um ano:
“O Instituto nasceu porque eu sempre fazia as minhas ações de uma forma independente. E a partir do momento que a doação envolveu um montante alto, entendi que precisava de um instituto para estruturar de uma forma inteligente esse sentimento que tenho. Foi quando criei o instituto.” Somente nos primeiros seis meses de funcionamento, o Instituto investiu 15 milhões de reais em mais de 20 projetos entre Brasil, África e Índia, incluindo a Casa PretaHub, aceleradora e incubadora de fomento ao empreendedorismo negro, e a Associação Gastromotiva, de formação, qualificação e distribuição de alimentação de qualidade a pessoas de baixa renda.
A música, é claro, segue protagonista na agenda do DJ. Foram 48 lançamentos, entre drops e remixes, somente em 2021 – quase uma faixa nova por semana. A surpresa veio em colaborações cada vez mais comuns com nomes do pop nacional, como Matheus & Kauan, Ludmilla, Orochi, GR6, MCs Don Juan e Hariel. Movido pela necessidade de conectar-se ao público nacional, Alok supera o que considerava uma “prisão” de somente trabalhar com artistas internacionais. “E foi libertador pra mim, porque eu pude virar um artista mais pop”, pondera.
“Li em uma reportagem que 93% do que é consumido no Brasil é nacional. E eu sou o 7%. Tenho só o 7% para poder disputar com Ed Sheeran e Dua Lipa. É um trabalho árduo, mas eu também preciso estar nos outros 93%, no Brasil, sempre trazendo minha personalidade, minha identidade”, diz.
O DJ conseguiu ser o único nome com música em inglês entre os 10 artistas mais ouvidos de 2021 no Spotify Brasil. No fim do ano, apareceu no título de uma playlist dos maiores sucessos do ano, com o nome “De Barões da Pisadinha a Alok”. Seguindo o plano de furar a bolha da música eletrônica em inglês, Alok anunciou duas novas parcerias para este ano. Primeiro com o cantor de trap Matuê, depois com o fenômeno Juliette, com quem com quem lançou um single ainda em janeiro. Com o começo de março, veio a faixa "Meu Amor", feita em parceria com Ixã, adolescente do povo Huni Kuî, no Acre (“uma das músicas mais especiais que já produzi na minha carreira”).
Depois de conquistar o mundo no eletrônico e de resgatar a ancestralidade na Amazônia, Alok quer conversar com o pop nacional. Nada controverso para alguém tão habituado a mudanças, ele garante: “hoje, se você me pergunta qual é meu estilo musical, eu falo que sou ‘free spirit’, um espírito livre”.
Rolling Stone Brasil: Alok, com a maioria dos artistas nós falamos sobre o retorno aos shows, à rotina nesse começo de 2022. Acontece que você teve dois filhos, virou streamer... foram muitas viradas. Como é essa retomada para você?
Alok: Realmente para mim é um recomeço. Por várias questões, não só por ter dois filhos agora, mas muito por questão de como quero seguir minha vida daqui em diante. É muito louco, mas quando olho para o Alok de 2019 não reconheço muita coisa. Eu vivia uma rotina muito insana, muito show, era pauleira. Então quero ter uma vida mais equilibrada para também ter a energia de fazer outras coisas. Em 2020, como não tive nenhum show, apenas lives, acabei abrindo meu leque. Virei streamer, me conectei muito com o universo gamer, muitas campanhas institucionais comerciais também. Então agora com esse retorno, ou recomeço, eu tô realmente querendo ter uma vida mais equilibrada. Minha família passa a ser minha prioridade. Sempre que posso trago eles para as minhas viagens, sempre coloco a família em primeiro plano.
Rolling Stone Brasil: Você falou das lives que realizou. Foram milhões de visualizações, o que é um pouco fora da curva até para você.
Alok: A maior transmissão que fiz ao vivo foi a live em casa, junto com a Globo. Aquela foi muito grande. No final nós pegamos os números e estava em quase 60 milhões depois de duas horas, somando tudo. Foi muito doido! Mas era durante a pandemia, então os números eram muito astronômicos. O pico da livestream simultânea, de pessoas assistindo ao mesmo tempo, foi 2 milhões e alguma coisa. É outro parâmetro.
Rolling Stone Brasil: E em 2020 você teve um projeto com ativações pelo país todo. Foi praticamente o país inteiro vendo um show.
Alok: Essa live veio para mim como um posicionamento importante, muito pela questão do uso da tecnologia, da narrativa que a gente construiu para a ativação em todas as cidades ao mesmo tempo. Foi realmente um trabalho imenso, que demandou muita energia nossa, mas o resultado ficou incrível. Essa é uma tecnologia complexa de você fazer, ainda mais em live. Foi transmissão ao vivo mesmo, foram pouquíssimas falhas, mas a gente quis reinventar, inovar, saca?
Rolling Stone Brasil: E você acha que esse formato deixa algum aprendizado? Você vai seguir investindo em lives?
Alok: Acho que as lives perderam a atração. Houve um boom, mas hoje já não converte mais tanto, então elas tendem a mudar o formato. O que tem sido legal, que fiz nesse último festival na Romênia, foi a transmissão ao vivo online, para a galera também. Live por live não vejo sentido, mas quando é uma transmissão online ali ainda rola.
Rolling Stone Brasil: Apesar de você só ter retomado a agenda de shows recentemente, 2021 foi um ano cheio. Foram mais de 40 lançamentos, entre faixas e remixes, além da participação no Global Citizen... queria saber como você avalia a sua produção nesse último ano.
Alok: Em 2020 saiu uma parada muito curiosa, que foi a lista dos 10 artistas mais ouvidos do Brasil. Aí estava eu lá, Alok, perdido no meio dos 10 [risos]. Achei louco, porque quando você faz música eletrônica, que não é em português, que tem uma barreira linguística, é complexo estar entre os 10. Pensei “pô, que foda!” Aí veio 2021 e a gente entrou como o brasileiro mais ouvido do mundo. Naquele momento eu achei fantástico. Você começa a colher os frutos de todo o trabalho que a gente estava fazendo. Mas rolou que 2021 foi um divisor de águas para mim. Enquanto minha equipe toda, eu inclusive, achava que a gente estava indo por um caminho, tive um insight. Eu andava me perguntando muito para onde era o futuro, e aí entendi: o futuro é ancestral. Então simplesmente parei tudo o que tinha para fazer, parei agenda por dois meses, e fui fazer esse primeiro álbum inspirado nas aldeias indígenas com 12 povos indígenas diferentes.
Rolling Stone Brasil: E você conseguiu? Como foi a operação, a produção para isso?
Alok: Foi uma parada muito foda. Primeiro porque tem a questão logística, como faz para reunir eles? É treta. Só para você ter noção, nós tínhamos o Mapu, da etnia Huni Kuin, que participou do projeto. De onde ele nasceu para o aeroporto mais próximo são duas semanas de viagem. Porque não tem estrada, ele vai de barquinho em barquinho, dorme, pega outro barquinho. Isso eu consegui, reunir, porque conhecia o filho do cacique da etnia Yawanawá. Fiquei uma semana na aldeia há sete anos e ele voltou comigo pra São Paulo, trabalhou comigo. Eu liguei pra ele e contei do insight. De Rio Branco, onde ele estava, começou a falar com outras aldeias, com todo mundo. E aí foi engraçado, porque eu ia falar com o povo Huni Kuin, e o povo Huni Kuin pegava referência com os Yawanawá, aí falava com o povo Yawanawá, que pegava referência com os Kariri-Xokó... E aí, depois que eu consegui reunir todo mundo, tendo gravado também um documentário junto com a Maria Farinha Filmes, que fez Aruanas, aí veio o processo, o estúdio. Quando fui para lá há sete anos, acabei percebendo que eles queriam resgatar a juventude, pra não perder a essência de sua cultura, que estava sendo perdida, saca? Quando eles começaram a cantar, perguntei há quanto tempo eles tinham feito aquela música e eles responderam: “pelo que a gente se lembra, essa aqui tem uns 500 anos”. Então imagine você ter a autorização de mexer em uma obra de 500 anos atrás? É muito forte, muita responsabilidade. Fiquei emocionado e disse que não lembrava deles cantando quando estive por lá. Eles me responderam: “a gente lembra de você, só que a gente era criança’. Naquele momento vi o tanto que valeu a pena o trabalho dessa recuperação, do resgate dessa essência com a ancestralidade.
Rolling Stone Brasil: Você fala dessas músicas, dessa tradição, e me parece algo desconhecido mesmo para nós, do restante do Brasil. Como é a responsabilidade de mexer com essa cultura, de dar essa nova roupagem?
Alok: A gente fala muito sobre a preservação da floresta para o futuro. E fiquei pensando como fazer para preservar o que as pessoas não entendem, não conhecem? Eu, você, a floresta, a gente é uma coisa só, e falo isso sem papo de viajandão [risos]. A gente tem que ouvir o que a floresta tem a dizer. E a melhor forma de entender é através dos cantos indígenas, porque eles são os cantos ancestrais da floresta. Então esse trabalho é muito maior que somente musical, ele é um trabalho para mudar o imaginário coletivo. Quando a gente pensa em futuro, como é que a gente imagina? É um futuro apocalíptico, cidade neon, carro voador. Por que o futuro não pode ser um indígena, numa canoa, andando no rio Amazonas? Ele tira um aparelho supersofisticado, rastreia os pássaros, olha a borda do rio, vê vários centros de pesquisa integrados com a natureza, buscando soluções e curas para a humanidade... isso é 2050! Por que não pode ser assim? Quando falei que ia fazer música com os indígenas, houve quem dissesse “indígena é coisa do passado, indígena nem existe mais”. É muito doido e é um desconhecimento. Você não precisa entender a língua Yawanawá para entender o que eles têm a dizer, você entende através da música. Então é um trabalho de ampliação da consciência, que é o primeiro passo para as pessoas passarem a respeitar. Se a gente quer preservar as florestas, os maiores guardiões são os indígenas.
Rolling Stone Brasil: E é aí que entra você e essa experiência com ritmo, com linguagem não verbal, é o que você já faz há muito tempo...
Alok: E sorte que tá tudo gravado, tudo documentado, vai sair em um documentário. Mas você não tem noção como foi a questão criativa com eles no estúdio. Era uma doideira. Eu falava “quando eu levantar essa mão você fala isso”, “quando eu levantar essa mão você canta”, porque eles não têm o ritmo quatro por quatro, é um ritmo diferente. As coisas são diferentes, mas foi uma experiência muito divertida, foi uma parada que parecia um caldeirão em que ia rolando uma alquimia muito incrível.
Rolling Stone Brasil: Então é um trabalho de diálogo, uma mistura de ritmos?
Alok: Eu não fiz só o álbum com eles. Gravei 130 músicas tradicionais indígenas com todos os povos, para que eles pudessem ter esse ativo para sempre que quiserem, poderem acessar. Porque eles não escrevem nada. Toda a mensagem, tudo o que eles ensinam é por via oral, então falei “cara, eu quero construir isso pra juventude poder ter, para as próximas gerações terem”. Inclusive, a internet tem blockchain para que isso aí não se perca.
Rolling Stone Brasil: E esse álbum, esse documentário, o projeto como um todo já tem data para sair?
Alok: A gente quer lançar no primeiro semestre do ano que vem, só que talvez não role por causa do documentário. Nós imaginamos que fosse ser só ali no estúdio, mas depois que começamos a gravar as coisas foram ampliando, ampliando, e quando eu vi estava lá na manifestação [contra o marco temporal] com eles em Brasília. Agora tô fazendo um monte de coisa, então o documentário começa a criar vida. Os povos tradicionais costumam dizer que “quem conduz é a jiboia”. E a jiboia tá conduzindo a gente pra mais coisa aí [risos]. Mas acredito que no máximo ano que vem tá lançado, porque tem coisas legais acontecendo.
Rolling Stone Brasil: Você comentou sobre Brasília. Nós acompanhamos sua passagem por lá em agosto, junto com os indígenas, contra o marco temporal. Qual a importância de nomes como você posicionando-se em questões como essa? É preciso se posicionar?
Alok: Para mim o chamado veio quando eu estava em casa, vendo a manifestação. Aí a Célia Xakriabá, que era uma das lideranças, falou assim: “Alok, muito legal o que você tá fazendo com as canções indígenas para preservar e tal, mas você precisa também salvar quem canta”. Então pedi que ela me explicasse melhor do que se tratava, porque eu não entendo direito isso, mas falei “de qualquer forma, eu tô chegando” [risos]. Quando cheguei lá passei meu testemunho, que é muito genuíno do que vivenciei com eles, de como os enxergo. Acho que os indígenas são muito discriminados, porque falta muito o lugar de pertencimento. Eles não se veem na televisão, não se veem na novela, não se veem em lugar nenhum. Quando fui criar meu personagem em Free Fire, em 2019, me perguntaram qual superpoder eu queria ter. Respondi que se pudesse escolher um, escolheria o que aprendi com os indígenas, queria poder curar as pessoas. Ele virou um best-seller. E os indígenas piram, porque tem vários campeonatos de Free Fire indígena. Quando conto que essa habilidade eu aprendi com eles, a resposta é sempre “caraca, que foda, a gente também tá ali, tá naquele lugar”. Então meu papel em Brasília foi, de alguma forma, potencializar, amplificar essas vozes.
Rolling Stone Brasil: E não houve reações contrárias? Ou quem o questionasse sobre isso, de repente?
Alok: Me perguntaram “mas você não tem medo de perder seguidores, indo pra Brasília, dando força pra esse posicionamento?” E respondo que eu tô fazendo aquilo em que eu acredito, aquilo que devo fazer. É algo que as pessoas podiam olhar de uma forma mais aberta e menos polarizada. É doido! Tenho vários amigos que mexem com agropecuária e tão fazendo um trabalho incrível com blockchain pra fazer exportação somente de produtos que são sustentáveis. A questão é só criar políticas para isso. Então em Brasília foi um posicionamento meu, acho que o primeiro que eu fiz. Não sou muito de me envolver, mas ali dou minha cara a tapa, porque genuinamente me conecto com isso.
Rolling Stone Brasil: Você é o DJ brasileiro mais ouvido no mundo. Falando do público global, fora do Brasil, como os fãs recebem essa mensagem? Existe identificação?
Alok: Super! Eu finalizei o show no Festival onde toquei na Romênia com três músicas indígenas que fiz para esse trabalho, e foi muito legal. Vou te dar o exemplo do Global Citizen Festival. O Brasil ia participar junto com o Rock’n’Rio. Ia ser no Morro da Urca, acho. Só que não dava para fazer o trabalho com os indígenas lá. Se eu fosse tocar mesmo, teríamos que ir lá na casa deles, lá na Amazônia. A tecnologia sempre foi aliada na minha carreira, então vamos para o lugar mais tecnológico do mundo, que é a Amazônia. E quando a gente mandou o material para eles, lá fora, para o Global Citizen, repercutiu muito e eles colocaram a gente na abertura, entre o BTS e o Elton John [risos].
Rolling Stone Brasil: Falando de outros artistas, nesse 2021 suas parcerias foram de John Legend a Matheus & Kauan, de Soffi Tuker a Ludmilla e Orochi. É uma versatilidade grande. Como foi essa entrada nos ritmos pop brasileiros? Vem mais feat pela frente?
Alok: Eu fui um cara que, durante muito tempo, só queria ficar no segmento eletrônico. Realmente nichado assim, muito por influência dos meus pais, que são DJs, pioneiros da cena psytrance. Mas ultimamente percebi que estava numa grande prisão que eu mesmo estava criando. Percebi que queria levar minha criatividade para outros lugares, só que me colocava naquela prisão. Eu acredito que a forma como a gente julga o mundo é a forma como a gente acha que vai ser julgado. Então fui quebrando meus próprios paradigmas, deixando minha criatividade fluir mais, ficando mais abrangente mesmo. E foi libertador pra mim, porque pude virar um artista mais pop. Claro que eu continuo me comunicando de uma forma muito consistente com o meio eletrônico, principalmente por meio de de minha gravadora, a Controvérsia. A gente só faz lançamento eletrônico. Eu não poderia lançar a música com o Orochi e com a Ludmilla na minha gravadora, porque não é a comunicação que a gente faz por lá. Mas ao mesmo tempo também não vou limitar minha criatividade. Então se você me pergunta qual é meu estilo musical hoje, falo que sou “free spirit”, um espírito livre.
Rolling Stone Brasil: E como você sente a recepção a esses projetos mais pop – ou “free spirit”?
Alok: [risos] É engraçado. Ano passado eu fiz uma música chamada “Ilusão (Cracolândia)”, que em um ano, somando só Spotify e YouTube, deu mais de 300 milhões de streams. Uma música que fala sobre Cracolândia no topo da parada do Brasil. E teve outra chamada “Liberdade”, um funk consciente que fiz, que tá hoje com 200 milhões nas duas plataformas e é Top 2 do Brasil. É isso, se você pega o Top 50 do Spotify Brasil, vai ver que quase não tem música internacional. Li em uma reportagem que 93% do que é consumido no Brasil é nacional. E eu sou o 7%. Tenho só o 7% para poder disputar com Ed Sheeran e Dua Lipa. É um trabalho árduo, mas também preciso estar nos outros 93%, no Brasil, sempre trazendo minha personalidade, minha identidade. Se pego minha música em inglês e tento passar uma mensagem para o Brasil, vai ser muito difícil, pela barreira linguística. Se precisar levar um trabalho de conscientização para a juventude, devo ir atrás de quem eles ouvem. Eles tão muito descentralizados. Não ouvem mais só os veículos de mídia principais. Quando quis fazer uma música de conscientização, fui atrás deles. Dito e feito, a mensagem chegou.
Rolling Stone Brasil: Falando de show, você falou do Festival Untold na Romênia, onde tocou em setembro. Desde então já te vimos aqui e ali. Como fica essa programação para 2022?
Alok: Ainda não sabemos como vai estar tudo com essa quarta onda na Europa, mas, se tudo der certo e os planos continuarem, devo ficar por volta de 6, 7 meses fora do Brasil e 5 meses no Brasil, pegando os principais momentos e eventos. Tem Carnaval e as festas juninas, que possivelmente vão acontecer também, tem uns festivais que eu faço bate-e-volta, tem o Rock in Rio, tem o Lollapalooza... mas é isso, vou estar 6, 7 meses fora do Brasil.
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