Vocalista e guitarrista do Skank disse que geração oitentista do estilo havia perdido força quando os nomes citados por ele chegaram
Igor Miranda (@igormirandasite) Publicado em 16/12/2024, às 17h40
Não restam dúvidas sobre a importância do Skank na música brasileira. Com mais de 6 milhões de discos comercializados — fora os pirateados —, a banda formada em 1991 e encerrada em 2023 é uma das recordistas de vendas no país. E na opinião de Samuel Rosa, tal relevância se mede para além dos números.
Para o vocalista e guitarrista, o grupo composto por ele junto a Henrique Portugal (teclado), Lelo Zaneti (baixo) e Haroldo Ferretti (bateria) foi um dos responsáveis pelo renascimento do pop rock brasileiro na década de 1990. Em entrevista ao G1, o artista destacou, também, outros dois nomes que podem levar esse crédito de forma compartilhada: Raimundos e Chico Science & Nação Zumbi.
Inicialmente, falando apenas sobre o Skank, Rosa relembrou o contexto da época ao declarar:
“Agora tenho afastamento o suficiente para dizer que o Skank foi responsável pelo renascimento do pop rock brasileiro nos anos 1990. Quem viveu, sabe que aquela onda oitentista do rock ser ‘a bola da vez’ tinha passado. A música pop vivia uma ressaca do rock brasileiro, que tinha acabado a década de 80 com Dr. Silvana e Cia, Inimigos do Rei — que já era melhor, porque tem Paulinho Moska, mas não era aquela [coisa]… — e entrou a lambada do Beto Barbosa e a axé music, que nasceu ali. As gravadoras já torciam o nariz para qualquer banda nova do pop rock depois de 1990.”
De acordo com Samuel, a falta de apoio das gravadoras para o rock no início dos anos 1990 levou ao surgimento de iniciativas independentes. O próprio Skank lançou seu álbum de estreia, homônimo, em 1992, sem pertencer a um grande selo.
“As bandas partiram para as empreitadas de discos independentes, ou selos independentes. [...] O Skank era e sempre foi totalmente brancaleônico, sem partido, filiado a nenhum selo, lançou por conta própria seu disco independente. E foi, querendo ou não, pelo menos, das bandas mais promissoras que fizeram a indústria olhar para o pop rock brasileiro — além do pop rock da cena belorizontina. Logo na sequência veio Jota Quest e Pato Fu em Belo Horizonte, depois [Wilson] Sideral e Tianastácia.”
Na visão de Rosa, a ascensão de tais grupos fez com que outros músicos se empolgassem mais com o rock. A partir daqui, também são feitas menções a Raimundos e Chico Science & Nação Zumbi.
“No Brasil inteiro começaram a pipocar bandas com esse ânimo: ‘olha, as gravadoras estão de olho de novo no pop rock e acho que os anos 1990 podem ser uma década do pop rock brasileiro’. E foi. [Fomos] Os pioneiros, diria que não totalmente sozinho, mas junto de Raimundos, Chico Science, aquela primeiríssima leva dos anos 1990. O Skank foi, sim, um dos baluartes desse renascimento do pop rock brasileiro, lançando seu primeiro álbum independente para depois cair na Sony.”
Por fim, o frontman até pontua outras duas grandes bandas que surgiram a partir do ressurgimento do pop rock brasileiro no mainstream: Charlie Brown Jr e O Rappa. Ele diz:
“O Raimundos foi para um selo chamado Banguela, na Warner, que tinha curadoria dos Titãs. Chico Science na [subsidiária] Chaos com a gente na Sony. Acho que essas três bandas, no início dos anos 1990, foram muito marcantes e preponderantes para que a gente pudesse, de novo, ter mais para frente... aí tivemos Charlie Brown Jr, O Rappa…”
Em entrevista anterior à Rolling Stone Brasil, Samuel Rosa compartilhou reflexões sobre Rosa, seu primeiro álbum solo. O músico revelou a razão pela qual optou por lançar o disco no formato completo, tradicional, em vez de distribui-lo entre singles ou EPs.
“Eu ainda não estou convencido de que lançar singles periodicamente é o melhor formato, a melhor maneira de conduzir a sua discografia.”
Samuel Rosa também definiu como “ansiosa” a ideia de lançar um single atrás do outro. Ele ressaltou que nem sempre essa é uma demanda dos próprios artistas, mas da parte executiva da indústria fonográfica, que busca o imediatismo e mede os trabalhos pelos números. Em seguida, afirmou:
“Para você pontuar o padrão estético, valores musicais, o que você estava acreditando… Para ser um ‘álbum de fotografia’ completo daquele artista naquele momento atualizado, precisa de um álbum. [...] Fica difícil assimilar uma música; na hora que você começa a entender a música o cara já lança outra e outra.”
Por outro lado, ele disse entender o momento atual da indústria e destacou que os trabalhos dos artistas estão mais acessíveis atualmente.
“Eu sou de uma época diferente, onde as pessoas tinham mais dificuldade de ouvir um disco. Eu estou impactado porque o último disco cheio que eu lancei foi no Skank ainda há quase 10 anos atrás. Naquela época, quando você lançava um disco, tinha que falar ‘escuta meu disco’; a pessoa tinha que comprar, ela não tinha alternativa. Agora a coisa está mais democrática, isso é bom. O cara já escuta ali, já conhece as faixas todas.”
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