Pode ser difícil para a maioria dos fãs, mas a própria cantora conseguiu resumir sua carreira em algumas de suas canções mais lembradas – só um disco se repete
Igor Miranda (@igormirandasite) Publicado em 27/08/2024, às 14h11
Poucos artistas se tornaram tão referenciais quanto Madonna. Ícone da música pop, a cantora construiu um catálogo imenso de hits ao longo de uma carreira iniciada na década de 1980.
Em meio à extensa discografia, é até difícil separar as canções mais icônicas. Contudo, a própria artista fez esse trabalho em uma entrevista.
Durante uma matéria do HuffPost (via Far Out Magazine), Madonna foi convidada a escolher suas cinco músicas mais icônicas. Embora o número seja pequeno em comparação com a quantidade de hits, ela conseguiu fazer suas escolhas visando contemplar algumas das fases mais importantes de sua trajetória.
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As cinco músicas mais icônicas de Madonna, segundo a própria, estão listadas abaixo. Elas foram listadas pela cantora de forma aleatória, sem ordem de importância.
Faixa-título e principal single do segundo álbum de Madonna, “Like a Virgin” se tornou uma de suas marcas registradas assim que foi lançada, em 1984, poucos dias antes do disco em si. Composta por Tom Kelly e Billy Steinberg, a canção aborda um novo relacionamento engatado pelo segundo citado, após um período complicado em sua vida.
De início, a música não caiu no gosto do produtor Nile Rodgers (Chic). Porém, agradou à Madonna.
Em entrevista para a Rolling Stone EUA em 2009, ela comentou sobre suas primeiras impressões a respeito de “Like a Virgin” e “Material Girl”, que foram mostradas a Rodgers ao mesmo tempo, ainda em sua versão demo.
Eu gostei de ambas, porque eles eram irônicas e provocativas ao mesmo tempo, mas também não eram como eu. Eu não sou uma pessoa materialista e certamente não era virgem e, a propósito, como você pode ser como uma virgem? Eu gostei do jogo de palavras, achei inteligente. Elas são tão específicas, tão legais. Nunca percebi que elas se tornariam minhas marcas registradas.”
Além do sucesso radiofônico, “Like a Virgin” ficou marcada pelas apresentações ao vivo. Na turnê Blond Ambition, de 1990, Madonna estreou seu famoso visual com os “cones” nos seios, design do famoso estilista Jean Paul Gaultier.
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Como “Like a Virgin”, “Like a Prayer” irritou os mais conservadores e os religiosos na época de lançamento.
A faixa-título do álbum de 1989 é repleta de elementos religiosos – especificamente católicos – tanto na letra, quanto em seu também polêmico clipe. Madonna teve uma criação católica e falou sobre ela para a Rolling Stone EUA quando a música foi lançada.
Uma vez que você é católico, você sempre será católico – em termos dos seus sentimentos de culpa e remorso e sobre se você pecou ou não. Às vezes estou destruída pela culpa quando não precisava estar e isso, para mim, foi o que sobrou da minha criação católica. Porque no catolicismo você nasce um pecador e você é um pecador por toda a sua vida. Não importa o quanto você tente fugir disso, o pecado está dentro de você o tempo todo.”
O vídeo de “Like a Prayer” causou problemas com vários grupos religiosos e o próprio Vaticano por retratar cruzes queimadas, uma igreja e pessoas que parecem vestir uniformes da Ku Klux Klan. A cantora também é mostrada se relacionando com um santo católico de pele negra.
“Like a Prayer” também foi usada em um comercial dos refrigerantes Pepsi. Por conta da polêmica religiosa, a empresa cancelou o contrato com a cantora, bem como o patrocínio da turnê Blond Ambition. Madonna ainda ficou com US$ 5 milhões como compensação pelo ocorrido.
A terceira escolha de Madonna foi mais uma música do álbum Like a Prayer (1989): “Express Yourself”. Considerada hoje uma espécie de hino feminista pelos direitos e livre sexualidade das mulheres, a música foi a primeira parceria de composição com o produtor Stephen Bray. Os dois se conheceram quando fizeram parte do grupo The Breakfast Club.
No livro Madonna 'talking': Madonna in Her Own Words, a artista comenta sobre a letra da canção, que por si só já é bastante clara. Ela explicou (via Songfacts):
A coisa definitiva por trás dessa música é que se você não se expressar (‘Express Yourself’), se você não falar o que quer, então não vai conseguir. E como efeito você está preso por sua inabilidade de dizer o que sente ou ir atrás do que quer.”
O clipe da faixa, dirigido pelo cineasta David Fincher, custou US$ 5 milhões e foi o mais caro já feito na época. No vídeo, Madonna aparece como uma figura masculina, deliberadamente trocando os papéis de gênero.
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Em 2011, Lady Gaga lançou o álbum e single “Born This Way” e foi acusada de plagiar a canção de 1989. Contudo, a própria Madonna apoiou a artista mais jovem e chegou a fazer um mash-up das duas músicas ao vivo.
“Express Yourself” também selou a paz entre Madonna e a Pepsi, mas só em 2016. A faixa foi usada pela empresa em um comercial durante a final do Super Bowl daquele ano.
“Ray of Light”, faixa-título do álbum de 1998, traz uma Madonna bem diferente do que os fãs estavam acostumados até então. Uma série de mudanças em sua vida pessoal — especialmente o nascimento da filha Lourdes — e o trabalho no cinema em Evita (1996) também levaram a mudanças em seu trabalho artístico.
Com uma pegada mais eletrônica, a faixa é inspirada em “Sepheryn”, uma música techno da dupla britânica David Curtis e Curtiss Muldoon. Eles foram creditados como compositores na versão de Madonna, que falou à Billboard (via Songfacts) sobre a faixa original:
É totalmente fora de controle. A versão original tem mais de 10 minutos. Era completamente indulgente, mas eu amei. Foi de cortar o coração ter que diminui-la para uma duração administrável.”
A letra, por sua vez, traz referências ao misticismo e ao esoterismo orientais sobre os quais Madonna passou a se interessar na metade dos anos 90. Foi nessa época que a cantora passou a pautar sua vida pelos ensinamentos da Kabbalah, uma corrente esotérica originada no judaísmo medieval.
Desta vez, nada de clipes polêmicos ou megaproduções. O vídeo da faixa trazia apenas imagens de várias cidades ao redor do mundo, com Madonna cantando a música. Mesmo assim, a direção de Jonas Åkerlund fez efeito e a produção foi um dos destaques do MTV Video Music Awards daquele ano.
Por fim, Madonna citou “Vogue” como uma de suas músicas mais icônicas. A faixa foi lançada em 1990, como parte de I’m Breathless, um álbum inspirado no filme Dick Tracy, que serve também como trilha sonora para ele.
A cantora aparece no longa, onde conheceu o diretor e ator Warren Beatty. À Rolling Stone EUA, a artista contou que a ideia por trás da canção surgiu através dele:
Eu a compus quando estava fazendo Dick Tracy. Depois que filmamos, Warren Beatty me pediu se eu poderia fazer uma música que se encaixaria no ponto de vista do meu personagem, que ela poderia ter criado. Ela era obcecada com bares discretos e estrelas do cinema e coisas assim. A ideia da letra veio através deste pedido.”
Apesar da relação direta, “Vogue” não aparece no filme. Mesmo assim, ganhou destaque pelo clipe – nova parceria com David Fincher – e por detalhes na letra onde Madonna cita estrelas antigas do cinema. Não demorou muito para que a música fizesse sucesso e passasse a fazer parte dos shows da artista, sempre com destaque no setlist.
O título “Vogue” vem do “voguing”, um tipo de dança muito comum nos bares da comunidade gay daquela época, onde as pessoas paravam em determinados momentos fazendo poses inspiradas em modelos de revistas. Madonna se interessou pelo estilo de dança, que também aparece no clipe, e lançou toda uma moda no início dos anos 90, ao lado do produtor e DJ Shep Pettibone, com quem ela assina a canção.
Colaborou: André Luiz Fernandes.
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