Dupla conhecida por interpretar Totonho e Palmito nas novelas 'Mar do Sertão' e 'No Rancho Fundo' lançou o EP 'Visse & Verso'
Heloísa Lisboa (@helocoptero) Publicado em 04/06/2024, às 15h09
Antes da estreia na televisão, Juzé e Lukete já compunham músicas juntos. Os pais de ambos eram donos de restaurante em João Pessoa, mas não se conheciam. Foi somente no Rio Grande do Norte que Juzé e Lukete foram apresentados por um amigo em comum.
“Foi engraçado porque eu disse: ‘Ôxe, tu é filho de Cabal e Monica?’. E ele: ‘Ôxe, tu é filho de Natália e Ferro? Eita!’. Aí a gente começou a tocar e cantar e ver que gostávamos da mesma gama de artistas, poetas paraibanos como Marcelo Piancó, Paulo Vinícius, Paulo de Tarso… E aí ficamos amigos”, declarou Lukete em comunicado à imprensa.
Acho que Juzé e Lukete são Totonho e Palmito sem censura. - Lukete
Uma conversa de bar com o diretor Allan Fiterman resultou nos repentes apresentados ao final de cada capítulo da novela Mar do Sertão, da TV Globo.
"A gente passou por esse teste, que foi bem cansativo. Pediram para a gente escrever 18 textos, a gente não sabia como escrever. Eles queriam repentes, mas a gente pensava em algo mais elaborado, para não ficarmos presos ao repente, e chegamos com 12 esquetes à meia-noite num domingo", lembrou Lukete em entrevista por texto à Rolling Stone Brasil.
A gente era parceiro de composições, tínhamos desenhado alguns projetos já, mas não tínhamos tirado nada do papel. Existia um trabalho para materializar isso, independentemente do caminho, uma hora isso iria acontecer. - Lukete
A participação foi um sucesso e, por isso, a dupla paraibana foi convidada para reprisar os papéis como Totonho e Palmito na nova novela das seis, No Rancho Fundo. O anúncio aconteceu durante evento de divulgação da Globo, em que Juzé e Lukete apresentaram uma esquete especial.
“Subimos ao palco pedindo um espaço na trama e eles negaram. Aí a gente disse que sabia tudo sobre os personagens e começamos a fazer música sobre eles, e a galera amou. Fomos aclamados pelo elenco e contratados na hora”, contou Juzé sobre a brincadeira feita na cerimônia, conforme comunicado enviado à imprensa.
Fora da televisão, Juzé e Lukete lançaram seu segundo EP, Visse & Verso, com referências no pop, rap, piseiro e MPB. "Nosso processo de composição é natural. Temos uma ideia e vamos em busca dela. Seguimos o processo libertador da criação, sem bordas e freios. Depois de muitos ingredientes, vamos embalando o presente", afirmou Juzé.
A capa do EP foi feita por Welder Rodrigues, designer e humorista que também interpreta o prefeito Sabá Bodó em Mar do Sertão e No Rancho Fundo. Visse & Verso segue o lançamento de Lukete & Juzé (2023).
Os dois também trabalham em projetos de carreira solo. Lukete foca em seu próprio álbum, enquanto Juzé tem "um livro encaminhado desde a pandemia" e escreve roteiros para cinema. "Lançar um albúm daqui para o fim do ano é meu desejo, bem como voltar aos palcos com shows", acrescentou Juzé.
Confira entrevista com a dupla na íntegra:
Rolling Stone Brasil: Como aconteceu o reencontro na novela Mar do Sertão? Vocês já formavam uma dupla ou só passaram a trabalhar juntos a partir da produção da Globo?
Lukete: A gente era parceiro de composições, tínhamos desenhado alguns projetos já, mas não tínhamos tirado nada do papel. Existia um trabalho para materializar isso, independentemente do caminho, uma hora isso iria acontecer.
Eu já estava na novela para fazer um personagem, e aí a gente se encontrou. Eu estava com o Zé, a gente foi para um bar em Botafogo. Nesse bar, o diretor Allan Fiterman chegou e a gente foi tomando aquele chopp, conversando e tal... O Allan soltou que a novela precisava de um preenchimento, que os capítulos estavam pequenos, e que tinha a ideia de repentistas no final. Ele não queria viola porque Pantanal já estava com viola, queria pandeiros — no caso, ele queria embolada.
Zé disse: "Dê os textos para a gente escrever". Ele olhou para mim, olhou para o Zé... Ele já tinha visto uma participação minha no workshop de Mar do Sertão, onde apresentei uma poesia autoral, bem nordestina — por causa dessa poesia, eu entrei na novela para fazer Casimiro. Ele já tinha me visto fazendo aquela parada, dentro do universo que ele imaginava. E ele nos convocou para um teste, que demorou, mas rolou [risos].
Nós não somos uma dupla firmada, profissional mesmo, mas existia uma dupla ali de compositores. A gente sentava para compôr, a gente fazia um dueto, de certa forma. Não tínhamos algo concreto para oferecer ao público, mas tínhamos algo guardado nas criações, a gente se sente nesse lugar. Quem é dupla mesmo é Totonho e Palmito, mas a gente faz isso por tabela. Enfim, começamos a trabalhar, de fato, em um produto na Globo. Antes, a gente compunha juntos.
Juzé: O reencontro foi maravilhoso. Uma nova oportunidade de abraçar esse trabalho que nos abraçou tanto e nos trouxe tanto carinho do público. Eu já estava com saudade.
Nos tornamos parceiros em composição, essa foi nossa primeira nomenclatura e acho que é a melhor denominação para nós. Não éramos uma dupla. Éramos amigos que compunham juntos. A sugestão dos dois juntos em cena veio do diretor artístico Allan Fiterman, que tem olho clínico para isso. Parece que ele acertou.
Rolling Stone Brasil: De onde vêm seus nomes artísticos?
Lukete: Meu nome vem a partir de uma música viral dos anos 90 que dizia assim: "Qual é o seu nome? Claudete! Quantos anos você tem? 27! De que você anda? Chevette! O que é que você chupa? Chiclete! O que é que você faz? [cantando]". Aí eu não lembro mais, porque faz tempo. Essa música viral fez com que todo mundo da minha rua começasse a se chamar com o nome e o sufixo "ete". Então, era Brunete Felipete, Tiaguete, Yurete e Lukete. Só o meu ficou — saiu gente da minha rua para estudar comigo no colégio, disseminou o apelido, comecei a surfar com 11 anos... E aí a galera do Sul me conheceu como Lukete.
Juzé: Juzé vem do meu nome mesmo, que segue uma tradição de família muito comum no Nordeste em ter José no nome dos homens. Na família do meu pai, todos os filhos de minha avó são “José”, eu só quis escrever de um jeito diferente. Já tinha em mente colocar o “Zé”, como comumente é a abreviatura, apelido para José, e um amigo sugeriu colocar a letra “u”, para evidenciar a prosódia popular do nome. Mas sou apenas um Zé no meio de tantos...
Rolling Stone Brasil: Como vocês receberam a ideia de contar o que viria no próximo capítulo da novela com repentes?
Lukete: A gente passou por esse teste, que foi bem cansativo. Pediram para a gente escrever 18 textos, a gente não sabia como escrever. Eles queriam repentes, mas a gente pensava em algo mais elaborado, para não ficarmos presos ao repente, e chegamos com 12 esquetes à meia-noite num domingo.
No estúdio, mostramos essas esquestes para a galera. No outro dia, de manhã, a gente tava na Globo, seis horas da manhã — dormimos duas horas —, e gravamos. A galera curtiu, o diretor curtiu.... Na quarta, ele nos convocou para gravar de novo, só que olhando para câmera. Na sexta, ele nos convocou para gravar de novo, para sermos mais didáticos. Eles pediram para a gente ser bem didático no começo até o povo entender o projeto e a gente ficar mais solto. E aí o público gostou, deu resposta — e ainda bem, porque aparecer todo dia e o povo não gostar é um grande risco de ser apedrejado no meio da rua.
Juzé: Estávamos num fim de noite, na hora de matar a fome no famoso Galeto Sat’s de Botafogo, quando a conversa se estendia com Allan Fiterman, diretor artístico de Mar do Sertão e No Rancho Fundo. Ele confidenciou esse desejo de ter finais assim na sua próxima novela para preencher os capítulos.
De bate pronto pedimos para fazer os textos, pois nós temos familiaridade com essa linguagem e sabíamos que poderíamos cumprir esse desafio. Allan foi além, e isso tem a ver mesmo com o nome dele pois ele vê à frente, e sugeriu um teste com a gente.
De início, claro que essa ideia assusta um pouco, pois não somos dupla e nem tínhamos esse produto que ele sugeria. Criamos alguns textos e fomos juntos ao estúdio de Ricardo Leão, diretor musical da novela, onde Allan confirmou o que imaginava. Ele disse: “Eu acertei!” Acreditamos nele e fomos ao PROJAC gravar as primeiras cenas. O resto é história.
Rolling Stone Brasil: Como decidiram levar a parceria iniciada na TV para fora da novela, criando EPs?
Lukete: Essa parceria na TV veio depois da parceria na vida, então a gente já compunha juntos e tínhamos isso guardado. A novela foi um grande boom e um grande empurrão para que a gente materializasse isso. Tudo tem seu tempo, e isso chegou na melhor hora.
Juzé: Esse desejo veio anterior a novelas. Nós já compúnhamos juntos várias canções, inclusive gravadas por outros artistas. Fazer um álbum juntos era uma questão de compromisso com nossa arte e aquilo ali que fluía tão natural entre nós dois.
Rolling Stone Brasil: Precisou de muito para convencer a produção de No Rancho Fundo a repetir a dose de Totonho e Palmito? Como se sentem reprisando os papéis?
Lukete: Em meados de setembro do ano passado, recebemos o convite de Allan para fazermos isso novamente. A gente estava nessa expectativa mesmo. É muito bom poder reaparecer, é uma nova responsa, é uma responsabilidade maior de continuar agradando e, ao mesmo tempo, de trazer coisas novas.
É muito bom refazer um personagem. Você vem mais seguro sobre ele, você trabalha, corrige certas coisas, dá uma pausa para poder esfriar e depois voltar, faz com que você analise bem de fora coisas a melhorar...
Juzé: Essa é uma pergunta que deixo para nossos queridos da produção. Mas no que sinto, acho que as redes sociais falavam um pouco disso. As pessoas diziam sentir nossa falta, e nós também estávamos com essa saudade de poder comunicar com nossa gente através de nossas esquetes e nosso sotaque. E no maior espaço de comunicação do país, que é a rede Globo, isso é divino. Se deu a volta!
Rolling Stone Brasil: O que mudou desde a estreia na televisão?
Lukete: Ganhamos notoriedade, né? Nos tornamos um rosto conhecido, afinal de contas, a gente aparece de segunda a sábado [na televisão] para 23 milhões de pessoas. Somos abordados, no dia a dia, na rua, recebemos muito carinho.
Ao mesmo tempo, aumenta a responsabilidade — você se torna uma figura pública, tudo que você faz gera um impacto. Aumentam as decisões a serem tomadas. Muitas vezes, essas decisões vêm de última hora, para você decidir o seu futuro. Essa notoriedade nos traz muita responsabilidade, muita maturidade.
Esse holofote é um presente muito grande. Nada melhor para um artista do que público, gente que está ali para assistir e escutar, isso não tem preço. Isso é uma conquista muito grande. Por isso, eu criei essa estratégia para que esse ano eu possa mostrar tudo de Lukete: música, poesia, teatro, apresentador, palestrante, esse comboio todo dentro desse holofote — aproveitando ele para poder me comunicar mais, passar mais mensagens.
Juzé: A nossa crença na nossa arte está mais forte. E isso é um alento. Conseguimos chegar nas pessoas, e elas aparentam gostar do que fazemos. O carinho do público revela isso, nas redes sociais e nas ruas. Isso é muito legal, encontrar pessoas que falam adorar nosso trabalho, que nos parabenizam por onde a gente passa.
Dá um conforto no coração, de saber que aquilo que aqueles dois poetas, músicos, atores, palhaços, humoristas — como queiram chamar —, pensam e criam ali, juntos, se refaz nas pessoas e nos sorrisos delas. O presente está aí. A mudança também ocorre em poder dar uma força à família quando preciso e ter mais tranquilidade no juízo para seguir fazendo arte.
Rolling Stone Brasil: Acho que "Nietzsche Aboyador" é uma das músicas do EP mais recente que melhor demonstram como suas faixas relacionam o ritmo regional com letras contemporâneas. Como conseguem fazer essas misturas?
Lukete: Realmente, "Nietzsche aboyador", ela tem a estética de repente. Acho que Juzé e Lukete são Totonho e Palmito sem censura. A gente fez essa música bem antes de Mar do Sertão. Então, mostramos que a gente tinha uma familiaridade com isso e criamos essa música, que tem várias estrofes dentro da estética do repente, um refrão do nosso jeito... Repentista provavelmente não faria como a gente fez.
Nós não somos repentistas, a gente brinca disso. "Nietzsche aboyador" é uma música que fala de absurdos, como poetas como Zé Limeira, que dizia nada com nada e, ao mesmo tempo, diz tudo e é muito bonito. Essas misturas estão na gente, e é muito bom trabalhar com isso, ter a liberdade de não definir gênero e fazer mesmo e pronto.
Meu álbum, que vem em outubro, ele tem rap, ele tem brega, ele tem funk, um funk mais James Brown, ele tem balada, ele tem poesia, ele tem ska. Quando eu conversei sobre isso com algumas pessoas, elas disseram: "Mas rapaz, você está misturando gêneros? Não é importante que você crie uma estética?" A estética está criada. Como? Na forma que eu componho, na minha musicalidade, na linguagem que eu uso.
E quando você escuta todas essas músicas no álbum, você vê que elas conversam entre si. Eu sei que isso é precioso, e me sinto feliz por ter conquistado isso. Então, esse álbum vem diferente, nada igual no nosso país. Se vai ser bom, aí eu já não sei, mas diferente ele vem.
Juzé: Nosso processo de composição é natural. Temos uma ideia e vamos em busca dela. Seguimos o processo libertador da criação, sem bordas e freios. Depois de muitos ingredientes, vamos embalando o presente. Cada criação é um desafio — e os criadores que o digam —, um criador sempre está disposto a se desafiar. Desafiar sua capacidade de criar, de inovar, de se surpreender e transformar ideia em realidade, nem que seja abstrata, como música e poesia, mas que tem uma magia danada dentro da nossa alma.
Rolling Stone Brasil: Quais os próximos passos da dupla? Juzé foi um dos nomes incluídos no Future of Music, da edição impressa da revista Rolling Stone Brasil.
Lukete: Concluir a novela No Rancho Fundo — vai ser uma grande vitória para a gente, e a gente vai realizar isso, só temos essa opção [risos]. São 173 esquetes para gravarmos. Já gravamos 57. Estamos indo, estamos caminhando. Isso vai ser uma grande realização.
Lançamos esse EP de forma orgânica, voz e violão, sem ensaio, sem dividir muito, apenas no feeling. Isso tem muito a ver com como a gente é criando, isso é muito bom.
Estamos em estúdio, produzindo uma música chamada "Tu Vem", que é um xote que fala de cordel. Vamos lançá-la, essa está certa, e daqui para o fim da novela, a gente vai lançar mais outras coisas. Então, os próximos passos para a gente são concluir essa novela e lançar esse singles para estar sempre alimentando essa união. Em paralelo, tem o trabalho individual de cada um, aumentando o leque de possibilidades e também deixando permanente a liberdade que todo artista quer. Ter isso é massa.
Juzé: No momento estou focado no presente. A novela consome, e muito, minhas ideias. Meu juízo está correndo pelos personagens e pelas histórias de No Rancho Fundo. A música é minha paixão de vida e ela nunca sairá de meus planos. Lançar um albúm daqui para o fim do ano é meu desejo, bem como voltar aos palcos com shows.
Atuar é a nova paixão que me faz pulsar, e creio que nunca mais vou abandonar esse caminho. Tenho um livro encaminhado desde a pandemia, mas esse projeto precisa de mais atenção minha. Tenho escrito alguns roteiros para cinema, e esse também é um desejo. E estudar, estudar e estudar cada vez mais as artes que me abraçam. Me aperfeiçoar e buscar minhas curas dentro desses processos.
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