O Kannalha se apresenta no BATEKOO Festival em 10 de dezembro de 2022, na Neo Química Arena
Felipe Grutter Publicado em 17/10/2022, às 17h30
Marcado para acontecer no dia 10 de dezembro de 2022 na Neo Química Arena, localizada na Zona Leste de São Paulo, BATEKOO Festival promete trazer 16 horas de festival, com mais de 20 atrações. O evento é feito por e para comunidade negra, afro-diaspórica e LGBTQ+ do Brasil. Nesta segunda, 17, anunciou a primeira atração, O Kannalha.
O Kannalha é uma banda de pagode nascida na Bahia, nordeste do Brasil, e idealizada por Dan Kannalha, responsável pelos vocais e letras das músicas. O projeto conta com quatro discos, entre eles ao vivo e de estúdio, e o quinto trabalho já está em desenvolvimento. "Eu costumo criar cerca de 25 músicas para escolher 10. Depois que escolho, não quero nem saber das que sobraram. Para o trabalho seguinte é tudo novo," afirmou o músico.
Um dos maiores hits de O Kannalha é "Fraquinha," mas o grupo fez bastante sucesso logo na primeira música da discografia, intitulada "Final de Semana na Favela," gravado em outubro de 2020 - e conta com mais de 10 milhões de reproduções por YouTube e plataformas de streaming.
Atualmente, os ingressos do BATEKOO Festival 2022, cujo lema é "A gente não quer ser assistido, a gente quer se assistir," são disponibilizados exclusivamente pela plataforma Shotgun. Os preços variam entre R$ 80 (meia-entrada) e R$ 160 (inteira).
Em entrevista à Rolling Stone Brasil, Mauricio Sacramento, CEO/Founder e Diretor Criativo da BATEKOO, falou sobre alguns detalhes do festival e a importância dele para o Brasil. Leia abaixo:
Rolling Stone Brasil: Para você, qual a importância de um festival como o BATEKOO Festival?
O nosso mote pro primeiro BATEKOO Festival é "A gente não quer assistido, a gente quer se assistir". Apesar de hoje termos artistas negras e negros em ascensão, ocupando espaços em grandes festivais no país, ainda existe uma grande dificuldade de acesso para a população negra assistí-los. Sabemos qual é o público majoritário da maior parte desses festivais e não somos nós. O festival da BATEKOO vem propondo uma narrativa contrária a esse problema de falta de representatividade (no palco e na pista) que afeta nossa sociedade. Construído para ser um espaço de respiro pensado e proposto por e para pessoas negras e LGBTQ+ negros(as), toda a experiência do festival está sendo desenhada de uma forma que o público seja a nossa maior atração, sem hierarquia, que a troca seja de nós para nós, onde a pista é o palco e o palco é a pista.
Vivemos em um momento em que toda semana somos impactados com um festival novo; porém, a maioria segue a mesma fórmula de line-up, não à toa o próprio público já trata como meme a redundância da curadoria viciada de festivais. Construir um festival brasileiro negro como o BATEKOO Festival é tanto construir um novo espaço para fomentar e impulsionar artistas negros, mas também tensionar o setor de eventos que tem praticado valores muito distantes da realidade da maior parte da população do Brasil. Queremos apresentar a possibilidade da construção de um festival com artistas nacionais e internacionais de renome com um valor muito mais possível para nossa comunidade.
Rolling Stone Brasil: Como foi a curadoria para montar o line-up do evento? Quais aspectos musicais dos artistas vocês consideraram?
Estando presente em diferentes cidades do país (Salvador, São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Brasília, Recife, Santos) e circulando pelo line-up de diversos festivais, a BATEKOO vem construindo um radar cultural de artistas com um olhar mais amplo sobre a produção artística negra de diferentes capitais. Um dos nossos principais motes para a criação da curadoria do line foi refletir esses diferentes ritmos afrodiaspóricos que têm sido construídos e expandidos por artistas e agitadores culturais pelo país, desde funk carioca, dancehall, bregafunk, afrobeat, entre outros tantos. Para além disso, a ideia do line-up do festival é contemplar diferentes linguagens artísticas para além de música, como intervenções artísticas de poesia, dança e performance.
Rolling Stone Brasil: Para você, qual o diferencial do BATEKOO Festival em relação aos diversos outros festivais que rolam no ano?
Queremos, com o festival, apresentar uma curadoria BATEKOO forte, ressaltando nomes emergentes de diferentes cidades e apresentando a um público grande uma série de artistas que ainda não estiveram presentes em lines de grandes festivais.
Acreditamos que o maior diferencial é ter nossos valores inegociáveis. Com autenticidade, defender o que acreditamos e propor uma visão negra sobre festividade e celebração, tirando a festa de um lugar fútil e sem importância e levando para uma experiência política que transforma a vida e identidade de jovens negros de todo Brasil, o que ninguém está fazendo. Estamos observando muitos festivais que tentaram seguir a receita engessada com dificuldade em vendas, muitas vezes não alcançando o público estimado. Nossa análise é que o público tem ficado cansado de ver os mesmos shows semanalmente e que eles estão focados sempre no mesmo público alvo, enquanto trilhamos um caminho contrário. O público que eles não querem e que não conseguem acessar esses festivais é o nosso público.
Rolling Stone Brasil: Qual o propósito da BATEKOO com o festival?
Sempre reforçamos o quanto a pandemia afetou o setor cultural e de eventos. Nosso setor foi o primeiro a paralisar e o último a voltar, com pouquíssimo auxílio de políticas públicas ao longo desses anos. Com a flexibilização da pandemia, a BATEKOO pode expandir e se reestruturar enquanto uma plataforma de cultura, entretenimento e empreendedorismo, tendo triplicado (até quadruplicado) o número de público dos nossos eventos em diferentes cidades. O BATEKOO Festival é um marco em nossa trajetória, simbolizando muito do crescimento do projeto neste último ano e, por fim, se estabelecerá como um dos nossos principais produtos no mercado para os próximos anos.
Rolling Stone Brasil: Existe um plano de levar para outras cidades nas edições seguintes?
A ideia de se tornar um festival itinerante em diferentes cidades é uma proposta em mente. Apesar da maior dificuldade de captação de recursos para a região nordeste, temos grandes planos para o próximo verão em Salvador. Um de nossos planos é tornar o BATEKOO Festival uma celebração de culturas afro-diaspóricas global, principalmente por sermos uma das primeiras plataformas negras que busca exportar a música afro-brasileira para o mundo.
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