O rapper Abebe Bikila lançou Icarus em novembro de 2022 e se prepara para seguir à próxima etapa da carreira em meados de 2024
Felipe Grutter (@felipegrutter) Publicado em 06/12/2023, às 07h00
Responsável por hits como “Músicas de amor nunca mais,” “Planos” e “Amores, Vícios e Obsessões,” BK’, nome artístico do carioca Abebe Bikila Costa Santos, iniciou a preparação para encerrar a era de Icarus (2022), quarto disco de estúdio e essa fase nos mostrou como ele é um dos grandes do rap brasileiro.
A carreira de BK’ sempre veio em uma crescente, com muita maturidade a cada álbum adicionado na discografia. Além de Icarus, ele lançou Castelos & Ruínas (2016), Gigantes (2018) e O Líder em Movimento (2020), cada um com um estilo sonoro próprio e letras profundas e reflexivas, que também aproveitam para mostrar um lado mais despojado do cantor em algumas ocasiões.
Há praticamente um ano, ele realiza shows da era Icarus, lançado em 17 de novembro de 2022, que conta com 13 faixas ao todo, como “Músicas de amor nunca mais,” “Só me ligar,” “Continuação de um sonho” e “Foto armado.” Durante entrevista à Rolling Stone Brasil, BK’ contou como tem sido a experiência dele nesse período, assim como a situação do rap nacional e novos nomes.
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Vale lembrar como, em maio de 2021, BK’ fundou um selo próprio, chamado Gigantes, que também conta com outros artistas. O cantor relembrou como, com o fim da pandemia de covid-19, ele e a equipe buscavam por algo que representasse essa volta da indústria musical como um todo, com algo realmente grandioso para a carreira e fãs dele.
“Icarus chegou bem nesse lugar. Logo de primeira já bateu muito bem na galera. Foi algo que me deixou muito feliz,” disse. “Em comparação aos outros álbuns, eles sempre levaram um tempo para a galera associar e digerir. Icarus foi bem rápido. Então é isso: estou muito feliz com tudo que fazemos com esse álbum.”
Em 6 de abril de 2024, BK’ fará o aguardado show de encerramento do mais recente disco de estúdio, na Praça da Apoteose, Rio de Janeiro, para aproximadamente 15 mil pessoas. A pré-venda iniciou na última terça, 5, e foi grande sucesso. Já a venda geral acontece nesta quarta, 6.
O artista explicou como essa será a maior apresentação da carreira, com uma performance mais elaborada, construída e bonita. O rapper quer “surpreender,” seja na estrutura, setlist com músicas inéditas ou participações especiais. E o que os fãs também podem esperar do encerramento de Icarus na Apoteose? Muita música nova e ampliação nos arcos, balé e coral.
“Quero fazer um show um pouco maior, de 2h no mínimo. Sempre queremos marcar, vamos ser sinceros. Estamos aqui porque queremos marcar essa geração e passagem pela música e arte,” afirmou. “O show, além dos álbuns, é uma forma de você marcar a memórias, momentos e a cena, de alguma forma.”
Temos essa ambição e vontade com esse show, de realmente fazer algo incrível e entregar... ser realmente uma parada especial e que fique na memória de geral. [..] Foi o disco que, até o momento, representou o melhor momento da minha carreira. Gostamos de agradecer, e essa é nossa forma de agradecer: entregando um espetáculo para os fãs.
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Além das músicas, Icarus também chamou atenção nos palcos. Quando BK’ canta “Continuação de um sonho,” o telão atrás dele mostra uma imagem dele criança cantando os versos, criada com auxílio de Inteligência Artificial (IA). Principalmente neste último ano, surgiram diversas discussões sobre o uso dessa tecnologia, especialmente no âmbito criativo.
À Rolling Stone Brasil, o rapper explicou como existe a preocupação dele e da equipe em usar IA para “agregar e elevar” o nível da arte. Inclusive, ele colaborou com uma empresa especializada para criar essa parte do show.
“São pessoas que, com nosso time, conseguirão pensar coisas que não fiquem cafonas ou forçadas, e realmente consiga agregar e elevar o nível daquilo,” contou. “O resultado foi incrível. Minha mãe ficou superemocionada quando viu. Eu acho que daqui para frente o que vamos usar é isso.”
Desde Castelos & Ruínas, os trabalhos de BK’ foram bastante marcados por colaboração dos mais variados artistas, do rap ao pop. Segundo o artista, esse lance de parcerias (também conhecidas como feat no mundo da música) vem da cultura do hip hop.
Para o cantor, as parcerias precisam surgir do ponto de partida de levar a música para outro patamar, e não apenas ter um nome para enfeitar o título. Ou seja, precisa fazer sentido com a arte. Como exemplo, ele citou “Foto armado,” que tem letra mais debochada, e um nome ideal para agregar foi Major RD, que possui um estilo parecido, além de também “colocar o dedo na ferida.”
Existem diversos artistas que inspiram BK’ atualmente. Existem os nomes gringos conhecidos mundialmente, como Jay-Z, Kanye West, Tyler, the Creator, A$AP ROCKY e Kendrick Lamar. Nesta lista, também existem brasileiros em evidência: FYE!, Sain e Victor Xamã.
Desde antes do momento no qual se tornou um nome estabelecido no rap, BK’ costuma fazer diversas parcerias e apostar em novos nomes, como FYE!. Em 2021, ele apareceu em Visão Periférica, disco de estúdio de estreia de Ebony, uma das principais rappers atualmente, na faixa “Camarim.”
Em 15 de novembro de 2023, ela lançou uma diss (termo em inglês que designa uma crítica de um rapper ou grupos de rappers, e o tom pode ser sério ou humorístico), intitulada “Espero Que Entendam.” BK’ é um dos primeiros nomes citados por Ebony, assim como Djonga, Filipe Ret, L7nnon, entre outros.
Amo o BK, porque ele é como um pai para mim. Eu dou comida, troco a fralda, ele já tá velhinho. Foi meu mentor, meu padrinho e investiu em mim. Foi pro estúdio de andador gravar ‘Camarim,’” disse Ebony na faixa.
Na conversa com Rolling Stone Brasil, BK’ revelou como levou a música na boa, e entendeu a mensagem da cantora. “Então, ela mandou a mensagem um dia antes e falou: ‘Vou te citar na música aqui.’ Falei: ‘Ah, é isso. Faz parte do game. Cita e manda lá,’” relembrou. “Aí no dia ouvi a diss e falei: ‘Po***, me tirou para vovô legal [risos].’”
“Teve uma galera ali que ela deu umas alfinetadas mais pesadas. A galera diz: ‘Ah, Ebony não tem o que falar do BK.’ Na real, ela tem,” continuou o cantor. “Conviveu comigo muitos anos, vivia lá na nossa casa, conhece até nossas mancadas. Ela pegou até leve. Tamo junto, Ebony!”
Muito mudou na cena do rap desde que BK’ lançou o primeiro disco de estúdio em 2016. Segundo o cantor, o gênero sempre foi um movimento de colocar o dedo na ferida e algo “realmente revolucionário” — e foi assim que ele teve o primeiro contato com o estilo.
“O momento atual do rap é muito legal, tem muita gente fazendo muita grana… isso é incrível, né? Mas eu sou da época na qual precisava ter um estudo a mais no rap, outra postura,” opinou. “Em alguns momentos entendo que isso é outra época, outro público, outro momento, outro rolê… mas eu sinto um pouco de falta da galera entender os fundamentos do que realmente a cultura faz pelas pessoas.”
“Claro, você tem a música para entreter, mas você precisa pensar no que é o mundo e as pessoas ao seu redor. Pelo menos eu aprendi rap e conheci a cultura hip hop dessa forma,” complementou. “Você pode falar sobre tudo. Eu amo falar sobre dinheiro.”
Mas eu acho que é isso: precisamos pensar no que iremos deixar para as pessoas, de que forma influenciaremos as pessoas. É essa responsabilidade! Rap é compromisso. Pode brincar, pode fazer tudo, mas acho que tem que estar ligado que rap ainda é compromisso.
Com grande número de artistas, que cresce cada vez mais, surgem muitos sons similares e fórmulas a serem seguidas. No entanto, BK’ segue com um trabalho diferenciado, no qual cada disco de estúdio soa completamente diferente, como se fosse cada um estivesse num universo separado, e o rapper aproveita para ser ele mesmo na música.
“Quando entrego um disco, consigo mostrar para as pessoas outro lado meu. A gente vai trocar uma ideia assim e você não acessará o BK dos álbuns, você não acessará o BK que escreveu ‘Caminhos’ trocando uma ideia aqui, mas você vai conseguir acessar ouvindo o álbum, ouvindo Castelos & Ruínas,” exemplificou.
“O ponto da arte é você realmente se entregar, ser verdadeiro com aquilo. Cada álbum meu, mostra um pouco do meu momento, um pouco do que sou, um pouco do que sinto,” continuou. “Aproveito isso para poder mostrar para as pessoas o que passa na minha cabeça, o que passa no meu coração, quais são minhas ansiedades.”
O rap sempre me mostrou a liberdade de você estar fazendo isso, desde vários caras, várias minas, várias músicas. O rap te dá a liberdade de criar de diversas formas. Todo artista quer marca uma era, quer marcar uma geração, quer marcar vidas, quer inspirar pessoas… a forma que a gente tem de fazer isso é sendo verdadeiro ao máximo com a arte. É o que eu penso nos meus trabalhos - e tem funcionado, graças a Deus.
O futuro de BK’ promete bastante! Além do show de encerramento de Icarus no Rio de Janeiro, o cantor já prepara as próximas etapas da carreira, com uma mixtape com a galera do selo Gigantes. Claro, ele já garantiu como pensa no quinto disco de estúdio da carreira.
Quero explorar outras coisas porque eu acho que, de certa forma, esse BK que as pessoas conhecem até Icarus eu entreguei. Quero pensar em outro BK, explorar outras linhas de pensamento, outros flows, outras paradas. A partir de agora quero começar um novo ciclo e o próximo álbum virá com isso.
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