Entrevista

Black Pumas vence pressão de sucesso vertiginoso e lapida diamante em novo álbum: 'Agora nos conhecemos melhor'

Black Pumas lançou 'Chronicles of a Diamond' e confirmou retorno ao Brasil; confira entrevista de Eric Burton à Rolling Stone Brasil

Heloísa Lisboa (@helocoptero)

Publicado em 07/11/2023, às 21h00
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- Black Pumas (Foto: Jody Domingue)

Adrian Quesada já colecionava indicações ao Grammy, como membro do Grupo Fantasma, quando seu caminho cruzou com o de Eric Burton, que aflorava o lado musical em pequenos shows por Los Angeles. Quesada precisava fazer mais além do funk latino e, por isso, passou a buscar um parceiro para fundar o Black Pumas.

Em 2017, vídeos de Burton no YouTube, indicados por um amigo em comum, o impressionaram. Logo Eric recebeu um convite para se juntar ao projeto. A empreitada deu mais do que certo e, após o lançamento do disco homônimo de estreia, Adrian adicionou outras nomeações pelo Grammy ao currículo, mas, dessa vez, com a ajuda do cantor.

“Eu amo trabalhar com Adrian. Acho que o que temos em comum é simplesmente a paixão por fazer música que tem um grande impacto sobre nós mesmos,” disse Burton em entrevista à Rolling Stone Brasil. Eles são separados por 13 anos de diferença em idade, mas o sucesso de “Colors” foi uma das primeiras demonstrações de que os dois — que nunca tinham ouvido falar um do outro até se conhecerem — funcionam muito bem juntos.

Adrian Quesada e Eric Burton (Foto: Jody Domingue)

 

Para o vocalista, "Colors" foi “a canção perfeita no momento perfeito,” quando o mundo precisava de positividade. A evolução da dupla veio justamente com o desenvolvimento de uma amizade: “Acho que o que mais mudou é que agora nos conhecemos muito melhor,” afirmou Eric. “Sabemos qual a capacidade um do outro para fazer músicas no estúdio. Acredito que aprendemos a usá-la muito melhor para criar esse álbum,” contou o artista sobre como atinge uma “unidade” com Adrian no sentido criativo.

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A pressão criada pela prosperidade vertiginosa do Black Pumas não os impediu de produzir um álbum tão bom quanto o de 2019. Chronicles of a Diamond, faixa-título do disco, retrata a “jornada da banda nos últimos anos," em que enfrentaram "altos e baixos”. O período ao que Burton se referiu corresponde ao da pandemia, quando não era possível comemorar o triunfo musical com uma turnê extensa — e o amor pelo que fazia precisava provar sua força, para não deixar que a banda acabasse ali mesmo.

Capa de 'Chronicles of a Diamond' (Foto: Divulgação)

 

Isso não quer dizer que não houve pressão alguma: “Adrian e eu temos um nível saudável de confiança. [...] Por causa das expectativas que colocamos sobre nós mesmos e dos outros, houve um pouco de pressão. Mas esse é o significado de Chronicles of a Diamond. Fazíamos música de maneira muito natural e orgânica e, de repente, passamos a experimentar a pressão que fez o diamante, que vocês ouviram, ser lapidado e deu vida ao novo álbum.”

More Than a Love Song

A música entrou na vida de Burton por meio da igreja: “Vim de um lugar de pura honestidade e seriedade para falar minha verdade de um jeito que possa ressoar em mim mesmo e em outras pessoas.” Ainda antes de se arriscar na música, porém, ele se dedicou à atuação e chegou a fazer uma ponta em Mesmo Se Nada Der Certo (2013).

“More Than a Love Song” também coloca o cantor em contato com sua infância e é uma homenagem para seu tio. “Sabe o que meu tio fez além de me inspirar? Ele me disse que a vida é mais que uma música de amor quando eu comecei a compor e quando eu realmente comecei a me ver atraído pelo sexo oposto. Ele foi um ótimo tio ao me lembrar que a vida é mais do que buscar um relacionamento romântico.”

O videoclipe do primeiro single do álbum retrata muito bem a mensagem: “Você vê famílias, vê unidade, um lar, e você sente muito amor. Isso definitivamente estava presente quando me inspirei no meu tio naquele momento.”

Angel

Eric também incluiu no disco uma composição que esperava seu momento de brilhar há dez anos. Ele confessou que ama todos os seus “bebês”, mas foi “Angel” que o deixou mais feliz. “Poder ver ‘Angel’ formar o círculo completo e chegar aos holofotes… Acho que merecia isso. [...] É uma ótima faixa e serve como um ótimo validador para que eu continue sendo honesto nas minhas composições e continue o meu trabalho.”

Lembro de me sentir oprimido por tudo o que estava acontecendo com minha família e com a vizinhança onde eu morava. Tinha esperança de encontrar refúgio na voz real de um anjo. Havia uma lavanderia próxima que servia como um lugar tranquilo para mim, e aquela música começou a vir até mim enquanto eu olhava para uma pintura de flores de natureza morta. - Eric Burton em nota à imprensa

Mrs. Postman

Em “Mrs. Postman”, o Black Pumas abriu espaço para uma parceria com JaRon Marshall. “Acho que todos nós realmente gostamos de hip hop e há muitos elementos do gênero naquela música,” comentou sobre como foi trabalhar ao lado do tecladista.

JaRon e eu costumávamos nos reunir à tarde e fazer batidas de hip-hop para nos divertir, e ‘Mrs. Postman’ acabou saindo de uma dessas sessões. Em parte, estava pensando em quanta alegria os carteiros podem trazer para a vida das pessoas, mas também queria encorajar as pessoas da minha família e qualquer outra pessoa que trabalhe em um emprego operário. Sei por experiência própria como isso pode ser árduo e queria enviar uma mensagem dizendo: ‘Ainda vejo toda a beleza e luz em você’. - Adrian Quesada em nota à imprensa

O que Eric Burton tem ouvido

Um cover de "Fast Car" não passa despercebido em meio às faixas do Black Pumas (2019) e já indicava algumas das influências da banda. Eric Burton confirmou sua admiração por Tracy Chapman: "Eu amo o que ela defende". Além da autora do hit "Baby Can I Hold You", Burton gosta de ouvir Neil Young, Bob Dylan, Al Green, Marvin Gaye, Otis Redding, Aretha Franklin e Wilson Pickett. "Para mim, esses são meus rock stars originais. Acho que, de diversas formas, não houve muita gente que fez isso melhor do que eles," confessou.

Completando o círculo

Teve sorte quem pôde assistir ao Black Pumas na edição de 2022 do Lollapalooza Brasil. E a banda também se sentiu sortuda por poder se apresentar para o público brasileiro:

Definitivamente, foi uma das poucas vezes em turnê que o universo refletiu sobre mim e me fez pensar que somos rock stars. Somos uma banda de rock e essa foi uma forma de sermos validados como uma grande banda de rock. O Brasil tem uma das culturas mais bonitas e um jeito muito apaixonado pela música e pela própria cultura. Foi muito divertido, porque sentimos que temos muito o que aprender com a cultura brasileira.

Para acalmar aqueles que não puderam presenciar esse show: Black Pumas estará de volta o Brasil em 2024. "Algo está sendo planejado enquanto nos falamos. Espero muito que consigamos voltar ao país muito em breve. Foi um dos meus lugares preferidos que visitei."

Bônus: Nova

Se, assim como eu, você ficou curioso sobre o cachorro que aparece em alguns dos videoclipes do Black Pumas, como "More Than a Love Song" e "Mrs. Postman", trago informações: Nova, a cachorrinha de Eric, tem apenas 11 meses. O nome vem de supernovas — estrelas que, ao morrerem, provocam grandes explosões luminosas no universo.

 

 

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