Músico chegou a pensar que morreria antes de se recuperar plenamente e retornar aos palcos, cantando com voz mais grave devido a retirada de parte da laringe
Igor Miranda Publicado em 09/09/2023, às 12h00
Branco Mello venceu um câncer após uma luta de dois rounds contra a doença. Primeiro, em 2019, ao ser diagnosticado com um tumor na garganta, o músico dos Titãs foi tratado com radio e quimioterapia. A doença foi erradicada na época, mas retornou em 2021 — e a única forma de eliminá-la em definitivo era com a remoção da laringe.
Isso poderia decretar o fim da carreira de Branco enquanto cantor, sua posição principal no grupo. É ele quem assume os vocais de músicas icônicas como “Tô Cansado”, “O Inimigo”, “Flores”, “32 Dentes”, “Eu Não Sei Fazer Música”, entre tantas outras. O baixo passou a ficar sob sua responsabilidade somente a partir de 2009, após a saída do músico contratado Lee Marcucci — ex-membro da Tutti Frutti chamado inicialmente para assumir o instrumento devido ao rompimento com Nando Reis.
Em depoimento ao jornalista Felipe Branco Cruz para o site da revista Veja, Mello relembrou inicialmente o seu sentimento após os procedimentos para garantir a remoção do câncer. O artista comentou que cantar “sempre fez parte” de sua vida e que ele “não tinha ideia de como ficaria” sua voz “e nem mesmo se voltaria a falar”.
“Quando acordei da operação e ouvi da Angela, minha esposa há mais de trinta anos, que tudo correra bem e a equipe médica havia removido apenas metade da laringe — ou seja, a corda vocal direita pôde ser preservada —, fiquei tão feliz e aliviado que é difícil descrever em palavras. Eu teria uma voz e uma vida diferentes, mas estava vivo.”
Havia ainda outro tumor a ser retirado, na base da língua. Uma hemorragia após o procedimento fez o músico pensar que iria morrer. Contudo, o problema foi controlado. Branco estava vivo — restava saber como seria sua vida a partir dali, especialmente porque, algum tempo depois, foi decidido que seria realizada a turnê Titãs Encontro, que o fez excursionar novamente com Arnaldo Antunes, Nando Reis, Charles Gavin e Paulo Miklos, além de Sérgio Britto e Tony Bellotto, que seguiam com ele na banda.
Mello admite que não sabia se poderia cantar nos vindouros shows, que estão acontecendo ao longo do ano de 2023. Ele cogitou até mesmo apresentar-se somente como baixista.
“Eu já tinha tirado a traqueostomia e estava conseguindo falar, mas ainda não sabia se poderia cantar. Estaria feliz nem que fosse apenas tocando baixo e celebrando minha volta aos palcos.”
Ainda em seu depoimento, Branco Mello creditou sua reabilitação vocal ao fonoaudiólogo e cantor lírico Gilberto Chaves. O músico dos Titãs já estava fazendo tratamento para reeducação da deglutição e da voz, mas faltava algo mais direcionado à parte artística.
A primeira música cantada por ele foi a faixa-título do álbum Cabeça Dinossauro, de 1986. O resultado o deixou tão feliz que ele observa: “quando a gravei, lá nos anos 1980, minha ideia era cantá-la com uma voz parecida com a que tenho hoje”. Em seguida, completa:
“Outras canções, como ‘Eu Não Sei Fazer Música’, ‘32 Dentes’, ‘Tô Cansado’ e ‘Flores’, por exemplo, ganharam nova dimensão e peso porque trazem a história da minha vida na nova voz. A turnê fez tanto sucesso que repetiremos a dose em novos shows em Miami, Nova York e Lisboa e também em outras cidades brasileiras.”
O relato completo pode ser lido no site da revista Veja. Os Titãs seguem com sua turnê Encontro até o fim do ano. A formação fixa da banda, com Mello, Bellotto e Britto, continua na ativa e também tem compromissos no palco em divulgação ao novo álbum, Olho Furta-Cor, de 2022.
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