- Andreas Kisser (Reprodução)

Como o rock dos anos 80 acabou com solos de guitarra no Brasil, segundo Andreas Kisser

Assunto foi discutido pelo guitarrista do Sepultura em participação no podcast Amplifica, de Rafael Bittencourt

Igor Miranda (@igormirandasite) Publicado em 22/03/2023, às 14h18

Embora o rock brasileiro esteja repleto de grandes guitarristas, o instrumento nem sempre esteve na linha de frente dos maiores clássicos nacionais do estilo. Músicos como Andreas Kisser (Sepultura) e Rafael Bittencourt (Angra) sabem disso - e discutiram o assunto.

O papo rolou durante edição do podcast Amplifica, apresentado por Bittencourt e tendo Kisser como o convidado da ocasião. Conforme transcrito pelo Tenho Mais Discos Que Amigos, a dupla conversava a respeito do saudoso Eddie Van Halen quando a temática “solos de guitarra” surgiu naturalmente.

Andreas comentou que o rock brasileiro dos anos 1980 não trouxe a guitarra como destaque, diferentemente dos representantes nacionais do heavy metal. Nomes como Titãs e Os Paralamas do Sucesso foram citados como exemplos de bandas que por vezes preferiam colocar solos de saxofone nas músicas.

“Essa é uma das grandes críticas que eu tenho ao rock nacional. Teve aquele ‘limbo’ entre o final do Led Zeppelin e a chegada do Van Halen em que o saxofone começou a tomar conta dos solos, com a guitarra em segundo ou terceiro plano. E aqui no Brasil não foi diferente, bandas como Titãs, Paralamas…”

Entre os que mais privilegiam as guitarras em meio aos grandes representantes do chamado “BRock”, nome dado ao rock brasileiro dos anos 1980, Ultraje a Rigor e Barão Vermelho foram lembrados pelo músico do Sepultura.

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“O Ultraje a Rigor tinha uma pegada um pouco mais metal, e o Barão Vermelho também era um pouco menos ‘tímido’. Mas o resto…”

Repúdio ao pedal de chorus

Em resposta ao pensamento do amigo, Rafael Bittencourt destacou que os guitarristas da época “deveriam ter brigado” para colocar seus solos nas músicas, sob a ótica de que poderiam ter “ensinado as pessoas a gostarem” da cultura deste instrumento. Foi aí que Andreas Kisser lembrou de outro detalhe típico das gravações do rock brasileiro oitentista: o uso ostensivo do pedal de chorus.

Também utilizado em outros instrumentos, o efeito chorus mistura o som original com uma nova versão ligeiramente defasada e desafinada, o que provoca uma sensação de eco. É como uma duplicação para deixar a “massa sonora” mais robusta - algo muito útil para dar uma impressão de som estéreo a uma gravação originalmente mono, mas que com o passar do tempo ganhou apenas a função de dar eco e criar um clima bem característico.

Andreas, então, citou que em décadas anteriores, guitarristas como Lanny Gordin (Gal Costa), Luiz Carlini (Tutti Frutti), Sérgio Dias (Mutantes), além de membros do 14 Bis, faziam “uns puta solos” com protagonismo nas canções. Só que a década de 1980 “mudou o conceito” e ainda colocou o chorus em evidência.

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“Tanto que eu detestava o pedal ‘chorus’. Porque todo mundo usava aquela p#rra! […] O Tony Bellotto [dos Titãs] me falou uma vez que teve que ir pro estúdio regravar as guitarras pra poder tocar na rádio. É brutal isso.”

Outro nome da época que não gostava do uso de chorus na guitarra é Lobão. Em entrevista ao Whiplash, o músico contou que um dos grandes méritos de seu álbum de regravações de clássicos nacionais do rock, Antologia Politicamente Incorreta dos Anos 80 Pelo Rock (2018), foi oferecer uma timbragem mais natural aos instrumentos.

“A gente queria timbrar mais rock mesmo, sabe? Pelo que eu conheço das pessoas da época, reclamavam muito quando você ia gravar e o cara no meio da noite botava uma guitarra com chorus, sabe? Tirava o peso das músicas. Tentei privilegiar uma linguagem de rock contemporâneo e seco. […] Optamos por instrumentos tradicionais e, mesmo mexendo, tentamos manter o máximo possível da estrutura das músicas.”

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