Em entrevista exclusiva à Rolling Stone Brasil, o cantor criado em São Paulo revelou os bastidores de 'Silêncio Elétrico', seu disco de estreia
Pamela Malva Publicado em 19/02/2023, às 09h00
Quais foram as coisas mais malucas que você já fez em busca da felicidade? Essa é uma das perguntas por trás de Silêncio Elétrico, disco de estreia de Tolentino. Uma mistura das experiências vividas pelo cantor em sua juventude e de sentimentos reais demais, que precisaram ser colocados no papel, o exímio álbum foi lançado em dezembro do ano passado.
Tendo crescido na periferia de São Paulo, no Itaim Paulista, Tolentino recentemente expandiu suas asas e mudou-se para Londres, na Inglaterra. E, em entrevista à Rolling Stone Brasil, revelou que Silêncio Elétrico é uma mistura de todas as experiências que viveu até agora — e também é sobre “confundir amor com rezar para ser objetificado”.
O trabalho apresenta uma visão ousada e desafiadora às classificações sonoras: tudo é pop e, dentro dele, o artista brinca habilmente com influências do funk e techno. Feito sob esse olhar rebelde, Silêncio Elétrico é o resultado da combinação entre poesia nas letras e ganchos melódicos marcantes.
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"Silêncio Elétrico é a felicidade, e todas as coisas impulsivas que faço para chegar nela. É sobre sentir as pupilas dilatadas pela primeira vez, sobre questionar o quão real e inocente posso ser com o mundo. Esse álbum é uma grande homenagem a nunca perder o fogo, a faísca de ser um adolescente. De lembrar disso para não deixar o mundo tirar nosso brilho no olhar.”
Através de letras que expõem o desejo da sexualidade e as inseguranças de um jovem crítico com o próprio corpo, que nunca acredita ser bom o bastante, Tolentino teceu o disco com muito carinho, a fim de criar um universo repleto de pop. “Tenho uma tendência a escrever coisas bem introspectivas (e tristes, talvez?), mas meu objetivo era produzir um disco que pudesse ser uma companhia pras pessoas”, revelou.
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Pensando em criar “sons fáceis, que ficassem na cabeça e que coubessem em diferentes playlists”, o cantor buscou inspiração em grandes nomes da música. “Além da Madonna e Cazuza, fui muito inspirado pela Rosalía, Charli XCX e Bjork, artistas que realmente construíram o legado de devoção pelo fazer da música”, comentou.
Falando em inspirações, foi em Silêncio Elétrico que Tolentino conseguiu tirar do papel uma parceria sonhada há tempos. Na faixa “Aqui”, o brasileiro troca versos com a norte-americana Vérité, de quem é fã desde seus 15 anos. “Eu voltava da aula ouvindo ela no ônibus. Em 2020 começamos a trocar mensagens, mandei uma pasta com ideias e ela gostou muito de ‘Aqui’. Depois de algumas semanas, recebi os versos dela, em inglês, e fiquei apavorado”, brincou. “Foi um momento bem mágico, tenho sonhado com o dia em que vamos cantar juntos ao vivo”.
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No total, Silêncio Elétrico conta com oito faixas e uma capa que, segundo Tolentino, traduz o som do álbum à perfeição. “Queria que a capa registrasse o momento que um raio cai, porque é mais ou menos assim que me sinto registrando este momento da minha vida neste disco.”
Fã de Almodóvar e Andy Warhol, Tolentino é aquele tipo de artista que pensa em cada detalhe do disco durante meses e faz questão de que tudo saia do seu jeito — e do melhor possível. “A gente só amadurece para ser um adulto uma vez, eu acredito. E tudo nesse disco foi escolhido com muita intenção, da capa, até as letras das músicas”, ele pontua, categórico.
“Quero ser aquele artista que alguém ouve para se sentir conectado e seguro, sabe? Eu só preciso que seja especial e real”, afirma, por fim. “Escrevo muito sobre sentir coisas, mesmo que todos digam que esses sentimentos são exagerados. Quero que todo mundo lembre que a gente é humano e o que faz nossa vida valer é sentir coisas sem medo.”
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"ELÉTRICO"
Foi quando percebi que estava fazendo um projeto e que ele tinha uma história a ser contada. Queria que a faixa soasse pop, mas punk ao mesmo tempo — quase crua, mas chiclete ao mesmo tempo. Tem minha frase preferida até hoje dentre o que já escrevi, que é “tudo que penso sobre poder e inocência são minhas formas preferidas de pornô”.
Parece que o mundo me diz a todo momento que preciso ser mais esperto e tirar vantagem de todas as situações, obter poder sempre. Mas não sei se acredito em poder, não quero jogar esse jogo. Essa inocência, de acreditar nas pessoas e nos sonhos é algo que nunca quero perder.
"TRANCADO"
Eu realmente fiquei doidinho na pandemia. Escrevi músicas de amor pra quem eu nem beijei. Essa eu escrevi, produzi e gravei 100% no meu quarto, com meus amigos por Zoom.
"AQUI" (Feat. VÉRITÉ)
Isso é uma curiosidade, mas… eu faço a produção vocal de todas minhas músicas. Não deixo ninguém mais selecionar quais takes entram ou qual afinação está certa. E fazer isso com os vocais da Vérité foi surreal. A voz dela não precisava de nenhuma edição. Aprendi demais trabalhando com ela.
"PAREDE"
Essa foi 100% produzida e escrita por mim, sozinho. Virei muitas noites acertando todas as camadas de vocais e gravei algumas guitarras também. Eu nem sei tocar guitarra direito… mágicas da produção musical.
"JACQUEMUS"
Escrever essa foi um ponto de virada. É com certeza a letra com mais camadas que já fiz. E é a coisa mais pop e cheia de referências do disco. Entrar em contato com gente de outros lugares e cultura, no início, me fez sentir que eu valia menos. Cresci na periferia de São Paulo, no Itaim Paulista. E escrever "Jacquemus" me fez perceber que isso é muito cool. E meu amigo FUSO! me fez chegar lá com a produção, que é quase um funk melody dos anos 1990. Escrevi essa com o Number Teddie e foi muito f*da trabalhar com alguém que está dentro do game como ele. Os versos do meio da música tem um flow quase de K-pop, que é uma coisa que ele trouxe e fez tudo ficar ainda mais complexo.
"ROXO"
Essa é sobre um momento da minha juventude que eu preferia ser objetificado e só usado, a ter que lidar com a solidão. E meu jeito de expressar isso foi trazendo um ukulele triste e fofo, mas com uma letra muito safada por cima.
"ESCORPIÃO" (Feat. FUSO!)
Eu e meu amigo FUSO! estávamos com a cabeça muito zoada. Ele me disse que queria escrever uma com a frase “vou te matar do meu coração” e mandou a ideia da produção. A gente escreveu tudo numa tarde, juntando nossos amigos compositores. A faixa termina num som techno, quase uma narrativa de como eu e meus amigos nos recuperamos de um coração partido: a gente sente tudo e fala muito sobre as coisas, mas depois vai para um techno pesado e sente as pupilas abertas de novo, prontos para outra.
"HIPOMANIA"
Nos últimos dois anos descobri coisas importantes sobre mim… uma delas é que tenho comportamentos impulsivos e mudanças de humor, o que percebi com acompanhamento médico. “Hipomania” é sobre acreditar no que você está sentindo, mesmo que digam que é demais ou errado. A rejeição sempre vem com a sensação de que “se eu fosse melhor, mais bonito…”. Ninguém pode quebrar nosso coração tanto quanto a gente mesmo. E a gente ser real e assumir tudo isso é corajoso.
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