Uma das atrações do MECA (Inhotim) 2023, Daniela Mercury falou com Rolling Stone Brasil sobre o festival, axé, álbum Baiana e homenagem a Zé Celso
Felipe Grutter (@felipegrutter) Publicado em 31/07/2023, às 13h05 - Atualizado às 19h25
Ao longo da aclamada carreira como cantora, Daniela Mercury recebeu a alcunha de Rainha do Axé com razão. Dona de hits como "Nobre Vagabundo," "O Canto da Cidade" e "À Primeira Vista," a artista de 58 anos é uma das representantes do gênero no Brasil e no mundo.
Por falar nisso, Mercury trará todo repertório para o show que acontece no MECA (Inhotim) no próximo sábado, 5 de agosto de 2023. Durante entrevista à Rolling Stone Brasil, a cantora falou sobre as expectativas para o festival - e adiantou como a apresentação será dedicada a Zé Celso, dramaturgo e um dos fundadores do Teatro Oficina que morreu aos 86 anos no último dia 6 de julho.
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"Fazer o show em Inhotim é uma experiência nova. É fantástico cantar entre as obras de arte. A música vai dialogar com a arquitetura do lugar e com as obras," afirmou. "O show que apresentarei é do álbum Baiana (2022) e esse será em homenagem a Zé Celso Martinez, que adorava a cena de Macunaíma no meu show."
A homenagem a Zé também tem uma convidada especialíssima, a artista plástica e artista visual Jeane Terra, que é mineira. Ela fará uma intervenção artística, criada por nós duas, especialmente para o festival, com apresentação única em Inhotim.
Já a setlist contará com as canções mais recentes da artista, como "Bombinha," "Baiana," "Mulheres do Mundo" e "Me Dê," assim como músicas consagradas, como "Proibido o Carnaval," "Banzeiro," "Nobre Vagabundo," "Mutante" e "O Canto Da Cidade," que completa 30 anos em 2023.
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Além disso, Daniela Mercury destacou a diversidade dos artistas presentes no MECA (Inhotim) 2023: "Sou apaixonada pela música brasileira, acho que é a melhor música popular do mundo. Vejo com muita alegria o line-up com uma nova mistura de gerações e de artistas de gêneros musicais diversos. Isso enriquece a experiência do público."
Vale destacar como a amizade, carinho e respeito que Daniela Mercury tem com Celso vai muito além da homenagem que ela fará no festival mineiro. Ela trabalha na publicação de obras, peças e textos feitos pelo artista.
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"Eu busco uma maneira de realizar os sonhos de Zé Celso, porque ele merece todo o meu amor e admiração e o Brasil tem que ter a chance de ter as geniais peças publicadas," explicou. "Os 64 anos de teatro de Zé Celso revolucionaram a maneira de se fazer teatro no Brasil, influenciaram o mundo e deram origem ao movimento Tropicalista, ao Teatro Oficina e a companhia Oficina, Uzyna, Uzona.
Zé era tão F*** que ele só se compara aos maiores dramaturgos e encenadores da história da humanidade. Zé tinha uma inteligência raríssima e sempre identificou as questões brasileiras e mundiais mais relevantes de cada época e as levou para o palco.
Segundo a cantora, o dramaturgo "lavava a roupa suja do Brasil em suas cenas e diálogos emocionantes, potentes e poéticos." Daniela Mercury também o descreveu como intelectual, artista múltiplo e ativista de direitos humanos, “Senhor da própria criação” responsável pelas obras-primas mais importantes produzidas para o teatro brasileiro, integrantes da história social e política do Brasil.
Ele era a encarnação da arte, amava a cultura brasileira, o Brasil, o nosso povo e me trazia uma enorme alegria e esperança. Em cada espetáculo ele nos alimentou com seu profundo amor. Viva Zé Celso e o Teatro Oficina e a sua companhia de teatro!
Como Daniela Mercury citou, Baiana tem sido um dos focos dos shows dela desde 2022. Inclusive, o trabalho se mostrou grande sucesso na estrada: "Estou amando cantar as novas músicas. E os meus fãs gostaram muito do disco e vão se afeiçoando à medida que as ouvem ao vivo. 'Macunaíma' é uma potência no show. 'Bombinha,' 'Me dê' e 'Intimidade com Entidade' estão entre as que os fãs mais pedem para tocar. Eles amam também as mais rápidas como 'Soteropolitanamente na Moral' e 'Aglomera.'"
Porém, mesmo em um gênero musical bastante popular e querido pelo Brasil e mundo, Mercury enxerga muitos preconceitos e erros quando se trata do axé, descrito como "um gênero brasileiro, nordestino, popular, amado pelo público de todo Brasil e de vários outros países, mas pouco respeitado e compreendido por críticos e formadores de opinião brasileiros, principalmente do sudeste."
Segundo a cantora, essas pessoas associam o gênero ao carnaval, e assim não compreendem as "singularidades do que fazemos e que artistas criaram as matrizes mais importantes que identificam o gênero."
Percebo que poucos entendem a diferença entre os ritmos do axé e como concebemos e geramos nossos trabalhos.
Daniela Mercury comentou como existe um "vazio crítico" com "algumas das coisas que não são observadas," como criar um gênero novo, com arranjos que nunca haviam sido feitos, além de uma estética diferente. Ela também citou "as formas de tocar, de harmonizar, conseguir cantar esses ritmos e dominar multidões no Brasil e no mundo swingando como aprendemos, ter a versatilidade e o virtuosismo dos músicos e produtores, o domínio rítmico, etc."
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"Não falo do sucesso popular, falo sobre o reconhecimento da criação musical. Os nossos prêmios de música de carnaval não julgam esses aspectos, julgam apenas a popularidade da música nos dias de Carnaval," adicionou. "A Bahia influencia a música pop em todo o mundo. Vejo que pequenas bandas de rock e artistas estrangeiros são mais considerados pelos críticos do que às vezes os artistas nacionais."
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