Badauí: do passado turbulento para um futuro promissor do CPM22 - Willer Carvalho

De volta aos palcos, Badauí explica futuro do CPM22: "começou a abrir o céu de novo"

Entre tormentas pandêmicas e pessoais, vocalista do CPM22 resiste e volta aos palcos com energia renovada: ‘a gente tá numa felicidade fu**da, com um p*ta entrosamento no palco.’

Felipe Fiuza Publicado em 29/04/2022, às 17h14

Na noite do primeiro show pós-pandemia e aberto ao público, o vocalista e fundador do CPM22, Fernando Badauí, entrou no espaço reservado para a entrevista, cumprimentou a todos e foi elogiar os pôsteres da turnê, ilustrados pelo talentosíssimo Jonas Santos. Na sequência, deixou sua latinha de cerveja de lado e eu falei "pode ficar com a cerveja, bicho. De boa", e ele respondeu com bom humor: "eu não, fazer propaganda de graça?". Depois do gelo quebrado, Badauí se ajeitou na cadeira e batemos um papo descontraído, relembrando a trajetória da banda, as influências, as recentes polêmicas e os projetos para o futuro, incluindo os singles “Escravos”, “Oriente”, “Ditados”, “Quando...” e “2014”, lançados entre 2020 e 2021, já com a nova formação. Confira:

CPM22: de volta aos palcos (Willer Carvalho)

 

Rolling Stone Brasil – 25 anos de estrada bicho, um baita tempo. Como está a expectativa para o show de hoje?

Fernando Badauí – 27 né? Em agosto são 27 anos (risos). Bom, pra começar, esse show era pra ter sido em 2020, mas  por causa da pandemia não deu certo. Acho que agora que chegou o dia, aquele sentimento de frustração virou ansiedade, vontade de assistir, e não apenas esse show, mas pelo que eu tenho visto por aí, a galera tá com uma euforia diferente do que antes da pandemia, parece que estão dando mais valor à vida.

 

 

 

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RS – Divide um pouco com a gente a história do CPM22 lá atrás e agora, lotando os lugares por onde tocam.

Badauí – O ponto que conecta essa história é que o sentimento de profissionalismo que sempre existiu desde lá do começo, mesmo quando éramos uns moleques sem experiência, aquele pensamento de tentar fazer sempre o melhor, escolher sempre os caminhos certos, errar o mínimo possível e ter foco, pois mesmo quando a gente tocava às 4h da manhã, depois de 20 bandas, era sempre dando o nosso melhor, com muito respeito, independentemente se tivesse 15 pessoas assistindo. A gente estava sempre tentando melhorar, ensaiar, ter um carinho com o som, fazer a passagem antes de tocar, mesmo cansados. Essa vontade de nos tornar profissionais foi um diferencial e talvez o que nos fez perdurar por tantos anos tocando esse tipo de música, num país com tanta variação popular de música, com muita riqueza musical, e a gente vêm de um segmento que foi importado, né?

 

Badauí (Willer Carvalho)

 

 

“A galera tá com uma euforia diferente do que antes da pandemia, parece que estão dando mais valor à vida” (Badauí)

 

RS – Na época que vocês estouraram, a gente não tinha tantas bandas de rock mais pesado tocando nas rádios, e o CPM apareceu tocando um punk rock melódico, cantado em português. Qual a influência de bandas como Blind Pigs, Pennywise e Face to Face pra vocês?

Badauí – Pô, baita referência pra gente (risos). Essa vertente do punk rock californiano, naquele momento, com a MTV muito forte, favoreceu a gente, que toca hardcore só que mais melódico, o que ajudou pra uma absorção melhor da sociedade mais “careta”, e das pessoas que não estavam acostumadas a ouvir esse tipo de música, pois ao mesmo tempo que soava rápido e potente, também tinha letras que falavam do cotidiano, e acho que foi isso que impulsionou a gente.

 

Badauí (Willer Carvalho)

 

 

“Mesmo quando a gente tocava às 4h da manhã, depois de 20 bandas, era sempre dando o nosso melhor, com muito respeito, independentemente se tivesse 15 pessoas assistindo” (Badauí)

 

RS – E por falar nas letras, muitas pessoas que começavam a ouvir o CPM acabavam conhecendo outras bandas da mesma linha, influenciados por vocês, o que disseminou boa parte das bandas de hardcore e punk rock entre os jovens na época.

Badauí – Exatamente, porque se você for pensar, as influências do Garage Fuzz, como “Samian” e “Seaweed” têm letras assim; o Face to Face fala do cotidiano, com letras de esperança, relações humanas, e essa é a nossa referência, o que acabou levando a gente a escrever sobre coisas teoricamente simples, mas que acontecem na vida de todo mundo, e juntando essa temática com uma linha mais melódica, isso casou muito forte. E por mais que a gente não tenha inventado nada, em português era difícil de escrever esse tipo de letra com a melodia que tocávamos, mas acabamos nos arriscando. Eu lembro direitinho cara, na vez que falei com o Wally [ex-guitarrista da banda], quando a gente fez “Anteontem”, a primeira música mais melódica que criamos, ele disse “Cara, imagina ‘Meu Erro’, do Paralamas [do Sucesso], um pouco mais rápida. Uma puta música verdadeira, um sentimento do caralho, um hit eterno”. E foi aí que virou a chavinha, pensamos: “vamos começar a escrever sobre a nossa vida, sobre as relações. Não só amorosas, mas também humanas, sobre os problemas da juventude, esperança”, e acabamos criando uma identidade. E o mais louco é que se você pega todos os discos, tem uns bem diferentes dos outros, mas dentro do mesmo segmento. Felicidade Instantânea é bem diferente do Cidade Cinza, por exemplo, e isso mostra que temos um amplo conhecimento dentro dessa vertente que a gente toca, pois a gente ouve muita coisa e acaba botando dentro do nosso som.

 

“Ao mesmo tempo que nosso som soava rápido e potente, também tinha letras que falavam do cotidiano, e acho que foi isso que impulsionou a gente” (Badauí)

 

CPM22: de volta aos palcos (Willer Carvalho)

 

 

RS – E uma coisa interessante é que a influência que vocês tiveram acaba transparecendo nos discos.

Badauí – Eu acho legal quando alguém conhece alguma banda que eu gosto através da nossa música, mas a gente tem muito cuidado também quando está criando: “vamos mudar essa melodia aqui, que tá parecendo uma música do Pennywise...”, “esse solo aqui tá parecendo outra música...”, a gente nunca quis copiar, então, esse esmero acabou dando uma identidade muito única pra banda, muito característica.

 

“A gente tem muito cuidado também quando está criando: “vamos mudar essa melodia aqui, que tá parecendo uma música do Pennywise...”, “esse solo aqui tá parecendo outra música...”, a gente nunca quis copiar, então, esse esmero acabou dando uma identidade muito única pra banda, muito característica” (Badauí)

 

RS – Comenta um pouco sobre essa volta aos palcos, depois da paralisação decorrente da pandemia e a nova formação, com o Daniel [Siqueira] e o Ali [Zaher].

Badauí – Cara, acho que como todo mundo, a gente estava muito sensibilizado, preocupado em como ia sobreviver, pois nossa fonte de renda foi tirada de uma hora pra outra, e sem perspectiva de quando isso tudo ia acabar, ainda mais que eu tenho um bar – o Cão Véio, em sociedade com Henrique Fogaça – e uma banda, dois dos segmentos que mais foram prejudicados com a paralisação, mas por sorte, minha mulher – a publicitária Mariana Graciolli – trabalha com marketing e publicidade, trabalhou bastante na pandemia e isso ajudou muito. Aí veio aquele problema com o Japinha [ex-baterista da banda], e pô, eu já tava com uma mágoa muito grande e, de repente, vem umas pessoas do nada, aliás, do nada não, teve um problema, mas não envolve a banda, e sim um membro da banda, mas foi um problema pessoal dele, e a gente teve que resolver, só que eu ouvi coisas sobre a banda... Sabe quando as pessoas esperam esse momento de fraqueza para enfiar a faca dentro do seu coração? Cara, eu li coisas sobre mim ali que... Mas, por outro lado, isso acontece com todo mundo hoje nas redes sociais. Principalmente com pessoas públicas, e eu preferi ficar na minha. Procurava não ficar lendo nada. Mas tiveram muitas pessoas que deram força pra gente, como o Marcelo Rossi, do [festival] João Rock, que foi um cara que ajudou muito, pois tínhamos uma live marcada pra poucas semanas depois e ele falou "mano, vocês tão dentro, vão tocar, podem chamar quem vocês quiserem, se quiserem fazer um acústico... mas vocês tão dentro" e foi uma baita exposição, até com uma carga de emoção maior, por tudo que a gente tava passando, e também fizemos a [live] do Dia Mundial do Rock, que deu uma sobrevida pra banda, já com o Ali [Zaher] no baixo. Depois falamos com o Daniel [Siqueira, baterista], que aceitou e é um cara que eu sempre fui fã, toca pra caralho, e aí a gente começou a pensar no futuro, principalmente nos singles que a gente queria lançar antes da pandemia, e aproveitamos 2020/21 pra esse projeto, já com a formação nova. E aí cara, já começou a abrir o céu de novo. Fomos pra estrada com tudo resolvido, deixamos todos os problemas pra trás, e agora a gente tá numa felicidade fudida, com um puta entrosamento no palco, você vai ver hoje.

 

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“Sabe quando as pessoas esperam esse momento de fraqueza para enfiar a faca dentro do seu coração? Cara, eu li coisas sobre mim ali que... Mas, por outro lado, isso acontece com todo mundo hoje nas redes sociais. Principalmente com pessoas públicas e eu preferi ficar na minha, procurava não ficar lendo nada” (Badauí)

 

RS – E pra finalizar: casa lotada, como está essa preparação para um show tão especial?

Badauí – A gente tem uma conexão muito boa com essa casa, sabe. Não fizemos tantos shows aqui, acho que três, mas pra mim é a melhor casa de São Paulo, tamanho bom, o som é bom. E pra hoje a gente fez um set com músicas de todos os discos, vamos meter bronca (risos)...

CPM22: de volta aos palcos (Willer Carvalho)

 

 

“Já começou a abrir o céu de novo. Fomos pra estrada com tudo resolvido, deixamos todos os problemas pra trás, e agora a gente tá numa felicidade fudida, com um puta entrosamento no palco” (Badauí)

 

RS – Vai rolar um Face to Face?

Badauí – Putz, não vai. Mas vai rolar um cover muito foda. Na verdade é uma versão que a gente tá fazendo, você vai se surpreender.

 

Findada a entrevista, Badauí pegou sua cerveja, provavelmente já meio morna, e fomos assistir a banda de abertura, os caras do Não Há Mais Volta. Nos perdemos um pouco nos corredores, mas chegamos a tempo de pegar mais da metade do show, que ele estava louco pra ver.

 

Ah, a música era "Por Enquanto", da Cássia Eller, e mesmo com tantos motivos pra deixar tudo como está, o CPM22 não vai desistir, pois estão indo de volta pra casa: os palcos.

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