Virada idealizada por Renato Russo ampliou o espectro musical da banda no segundo disco, acrescentou a suavidade responsável por fazer do grupo um fenômeno pop
Alexandre Matias (texto) e Pablo Miyazawa (edição) Publicado em 22/06/2022, às 16h08
A banda que colocou Brasília no mapa da cultura nacional tinha suas raízes no punk e no pós-punk, como havia deixado claro em seu álbum de estreia, Legião Urbana (1985). Mas quando a turma de Renato Russo se reuniu para gravar o aguardado sucessor, o líder sabia que queria expandir-se para além daquele modelo musical. Obcecado pela história do rock, o vocalista e compositor deu um tempo na guitarra e gravou uma série de músicas de apelo folk, para que os outros integrantes compreendessem a sonoridade que ele desejava trazer ao novo álbum.
Originalmente chamado Mitologia e Intuição, o segundo disco do Legião Urbana estava planejado para ser duplo, com boa parte de suas canções conduzida pelo violão. Desta primeira ideia, só a proeminência do instrumento acústico acabou sobrevivendo e deu a tônica do lançamento, ampliando ainda mais o alcance das músicas e da poesia de Renato. Da crueza do primeiro disco, apenas “Metrópole” e “Fábrica” ecoam os rugidos revoltados de “Geração Coca-Cola”. No lugar do barulho e agressividade do punk, violões dedilhados, levadas pastoris e músicas para se tocar ao redor da fogueira surgiam, revelando uma nova e convidativa banda para o restante do Brasil. Músicas como “Quase Sem Querer”, “Andrea Doria” e a saga “Eduardo e Mônica” mostravam o apreço do Legião Urbana pela canção tradicional, ao mesmo tempo em que se tornavam hits radiofônicos imediatos.
Em Dois (EMI, 1986), a agressividade punk dava lugar a uma tensão constante, que podia ser traduzida tanto na eletricidade dúbia de “Daniel na Cova dos Leões”, no lamento noturno de “Música Urbana 2”, na descrença de “Índios” ou na constatação final do maior sucesso do disco, “Tempo Perdido”, que lembrava a toda uma geração que “somos tão jovens”. Reescrevendo rapidamente a própria história em um disco sem capa (o ocre que se tornaria cor nas edições seguintes era apenas a cor do papelão que formava o material original da embalagem), o Legião Urbana escapou da armadilha fácil do segundo álbum, ampliando tanto o espectro musical quanto seu alcance popular e dando o passo definitivo para tornar-se a maior banda de sua geração.
Destaques do disco incluem “Tempo Perdido”, “Eduardo e Mônica” e “Índios”.
Abaixo, o disco completo:
Parte do Dossiê 40 anos do Rock Nacional, edição especial de colecionador da Rolling Stone Brasil, a lista "Os 80 Maiores Discos do Rock Nacional" reúne os principais trabalhos do que parece ter sido um levante artístico, unificado e contínuo mobilizado inicialmente pela juventude do Rio de Janeiro dos anos 1980, a geração 82. Na revista, já disponível em bancas físicas e digitais, você confere a curadoria realizada pelos editores da Rolling Stone Brasil com os 80 discos mais importantes do rock nacional, separados em quatro categorias e organizados por ordem cronológica de lançamento.
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