Pirata, novo disco de Jão, explora lirismo sentimentalista e música pop da MPB - fórmula de sucesso, a julgar pela recepção do mercado
Victória Gearini Publicado em 15/11/2021, às 17h00
“Mas eu sou pirata e hoje eu preciso ir”. Assim inicia Pirata, disco lançado por Jão em outubro de 2021. A frase da faixa de abertura ("Clarão") traz a mensagem do cantor paulista para o trabalho desenvolvido ao longo do ano:
Nas primeiras 24 horas de lançamento, o disco teve 4 milhões de plays. Mas, não só de Jão se fez Pirata. Guilherme Pereira, ou Zebu, é o produtor por trás das faixas com estilo eletro, em parceria com Pedro Tófani, co-compositor já conhecido por dirigir os clipes de Anti-herói (2019) e Paul Ralphes, produtor conhecido por trabalhos de Kid Abelha e Biquini Cavadão.
Como a imensidão dos oceanos, Pirata traz reflexões profundas sobre a liberdade, uma ousadia a ser desbravada, assim como os mares e oceanos são por piratas. Isto é, Jão se reencontra a cada canção.
Diferente dos discos anteriores, Pirata aposta, ainda, em ritmos mais animados enquanto emerge na profundidade do amor, sem distinção de gênero, como é o caso de ("Meninos e Meninas"), uma carta aberta para todos os amores do cantor. (Mas meu coração é grande e cabem / Todos os meninos e as meninas / Que eu já amei).
O clipe de ("Não Te Amo"), por exemplo, mostra um beijo entre dois homens, cuja batida agitada aparenta ser uma música alegre, mas a canção possui uma alta carga de sentimentos, com letras profundas e regadas de metáforas e analogias (A rua vazia, molhada de chuva / O banco do meu carro me lembra da tua nuca / Um copo de bebida queimando na garganta / Eu fui a tua vida, agora eu sou lembrança).
As 11 músicas se contrapõem em meio a imensidão dos sentimentos do artista, em ("Idiota") e ("Coringa") isso fica evidente. Embora a batida eletrônica como plano de fundo, ambas faixas nos fazem refletir sobre a complexidade do amor: momentos de incertezas (Uma parte de mim tem medo / E outra parte quer ficar), mas a certeza do sentir (Somos um do outro e somos tão do mundo / Me chama pelo nome e vem me ver / Eu não quero amar, eu quero você).
Para algumas pessoas mais desatentas, o disco pode soar repetitivo em alguns momentos ou com faixas parecidas. Contudo, as diferenças estão nas entrelinhas. Isto é, nas letras que nos contam uma história pela busca da liberdade, como é o caso de ("Tempos de Glória"), ("Santo") e ("Doce"). Por exemplo: (Não me ponha no altar / Que eu sou meio desonesto / Eu te juro amor eterno / Mas, no fundo, eu não presto, ai).
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("Acontece"), ("Você Me Perdeu") e ("Olhos Vermelhos") despertam o sentir individual, as mudanças internas. São faixas introspectivas (Talvez, quando eu te encontrar de novo / Eu já não seja o mesmo moço, e você não se sinta igual), mostrando a falta de linearidade dos sentimentos mundanos. Portanto, tratam-se de canções sobre autoconhecimento (Descobrindo andar sozinho por aí / Olha, não é tão difícil assim, meu bem).
Se você espera um disco de superação, não encontrará. Pirata é sobre recomeços, erros e acertos, sobretudo, reencontrar a si mesmo. Fala sobre amadurecimento, atrelado a liberdade pessoal — mesmo com todas as recaídas, dualidades e complexidades do amor.
É quase impossível não se identificar com pelo menos uma canção do disco. Jão canta a sua própria verdade. Todavia, usando metáforas e analogias, ele canta o que muito de nós sentimos, mas não conseguimos expressar. Suas músicas não fazem distinção de gênero e se encaixam perfeitamente em quase todas as circunstâncias.
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