Em entrevista à Rolling Stone Brasil, Pitty falou sobre os preparativos para show no The Town, além do momento de celebração de Admirável Chip Novo (2003)
Felipe Grutter (@felipegrutter) Publicado em 08/09/2023, às 16h25
Não apenas Bruno Mars, Racionais MC's com Sinfônica Heliópolis, Post Malone ou Foo Fighters, um dos shows mais interessantes da primeira edição do The Town é de Pitty, que conversou com a Rolling Stone Brasil para falar sobre a aguardada edição do festival que acontece no Autódromo de Interlagos.
Um dos grandes ícones da música brasileira e, especialmente, do rock, prepara um show bastante diferenciado. Atualmente, Pitty está com turnê que celebra os 20 anos do álbum de estreia dela, Admirável Chip Novo (2003), mas esse não será o tema da apresentação no The Town, que acontece no próximo sábado, 9, no Palco Skyline.
Segundo a artista, o show terá participação da Nova Orquestra, formada majoritariamente por mulheres e que tem proposta de trazer “uma nova experiência em Orquestras.” Inclusive, Pitty trabalhou incansavelmente para se preparar para o evento nos últimos dias - ou melhor, semanas.
“Olha, estamos a todo vapor! Todos os dias montando, pensando, esquematizando… vai ser um show especial, feito especialmente para o The Town,” afirmou. “Conversando com Zé Ricardo [vice-presidente artístico do The Town e Rock in Rio] e a galera de direção artística do festival, a gente pensou na oportunidade de trazer uma coisa única e diferente.”
Então, eu convidei a Nova Orquestra para fazer parte do show, e a gente organiza os arranjos para fazer um show de rock com elementos sinfônicos, zero careta, bem massa, bem pesadão e lindo!
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Mesmo que pareça uma mistura inusitada, Pitty explicou que ambos gêneros musicais (rock e música clássica) não são tão diferentes, e deu destaque para a junção entre metal e orquestra, algo que combina bastante.
“Por ter feito faculdade de música clássica e erudita, eu sempre enxerguei esse link entre música clássica e rock, e acho que dá para fazer isso de várias formas,” disse. “Arranjo é questão de gosto. Instrumentação é questão de gosto. Você pode escolher os elementos para fazer isso lá, do jeito que você quiser. As possibilidades são infinitas.”
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Em seguida, a artista falou sobre a importância da Nova Orquestra nessa projeto: “Justamente a proposta deles é trazer inovação e modernidade para esse ambiente, desmistificar essa questão de quando a gente fala ‘orquestra,’ imediatamente já vem na cabeça das pessoas uma determinada imagem, um determinado som.”
E é isso que a gente está falando aqui. Orquestra pode ser muita coisa. Acho que é importante trazer essa ruptura e ressignificação, talvez, da palavra, ‘orquestra.’ Como é que a gente encara isso?
Para Pitty, a imagem “padrão” de uma orquestra deve existir, mas é preciso “trazer outras possibilidades,” inclusive com uma orquestra majoritariamente feminina, com esse protagonismo. “Então acho que vai ser bem interessante de assistir.”
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The Town é mais um dos grandes feitos de Pitty em 2023. Com todos os finais de semana do ano com agenda ocupada, a cantora teve grande recepção em relação à turnê comemorativa de ACN, mas ela não deve se alongar em 2024.
“A ideia inicial era fazer uns dez shows, em capitais e tal. Mas a parada foi crescendo, surgiram diversos pedidos, e aí a gente já está com mais de cinquenta datas,” afirmou. “Se quiser, dá para continuar ano que vem, mas eu já quero tentar fazer alguma outra coisa, porque aí já não serão 20 anos, mas 21. Aí é sacanagem.”
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“Os shows estão lotados, as pessoas se emocionam muito,” continuou. “Bolei o conceito para esse espetáculo de tocar o disco inteiro e na íntegra, uma proposta artística e de conceito que quis fazer. E tem rolado muito bem ter essa experiência de escutar o disco todo e depois, claro, eu passeio por outras partes do repertório, mas tem toda uma cenografia pensada… tô curtindo muito a experiência.
Tem sido atual, não sinto como era lá atrás, é tudo novo, essas músicas são totalmente novas para mim.
Logo no primeiro disco de estúdio da carreira, Pitty já fez história e lançou um trabalho, no mínimo, memorável. Porém, ela começou a prestar atenção nesse detalhe um tempo após o lançamento de Admirável Chip Novo em 7 de maio de 2003.
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Segundo Pitty, sobre as músicas do álbum, ela ouve frequentemente comentários como “bateu para mim agora,” e alguns engraçados: “Caraca, tem vinte anos que eu ouço essa música e só agora eu entendi o que isso quer dizer.”
Para a cantora, isso acontece por alguns fatores, como mudança de idade, vida, estilo, e a música pode continuar com sentido (ou até mesmo mudar completamente). Ela tem até uma teoria para isso:
Isso é um fenômeno bem interessante de pensar: como a música atravessa nossa vida e gerações. Entendo esse sentimento porque lembro de escutar Legião Urbana com uns 14 anos e absolutamente não sabia quem era Rimbaud. E anos depois, estudando poesia, percebi: ‘Rimbaud é aquele cara que estava na música!’ Então eu entendo também que isso pode acontecer com determinadas canções.
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“Vejo que isso aconteceu muito com ACN. Tem muitas referências literárias e de situações que batem agora na contemporaneidade, especialmente por causa da tecnologia, pelo fato das redes sociais e dos algoritmos e de toda aquela história distópica e utópica que estava sendo contada ali,” explicou. “De certa forma, estávamos vivenciando isso.”
Alguns meses antes das celebrações de Admirável Chip Novo, Pitty estava em turnê com Nando Reis, e eles até lançaram um disco, intitulado PITTYNANDO – As Suas, As Minhas e As Nossas (2023). Eles cantavam músicas icônicas da carreira de cada e faziam mashups incríveis. Ela descreveu esse período como “incrível.”
“Minha intenção criativa era justamente fazer um mashup das músicas. Tanto é que trabalhei muito com sample e não só tocando a música um do outro,” falou. “Por exemplo, a bateria de ‘Do seu lado’ é a mesma bateria de ‘Admirável Chip Novo’ sendo sampleada e colocada.”
Trabalhei muito com essa linguagem eletrônica e direção artística em estúdio para fazer essas músicas funcionarem de outra forma, como PITTYNANDO, não como Pitty e Nando.
Desde que começou na música, a indústria fonográfica mudou drasticamente. Na época de ACN, o meio era dominado pela popularidade das rádios e vendas de CDs. No entanto, a era do streaming e redes sociais mudou bastante a maneira como um artista atinge o sucesso e se mantém nos holofotes - e Pitty está sempre antenada.
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“Então, eu vivo no meu tempo, no tempo atual. Vivo talvez até um pouco no futuro, algo que não deveria fazer porque eu sou uma pessoa ansiosa e deveria viver o agora, mas eu estou sempre um pouco ali já pensando como será,” comentou.
“O que mais me ocupa é justamente ter essa coerência dentro dessas mudanças e também não ficar naquela coisa de perseguir a onda que você acha que a outra pessoa vai pegar, porque aí você não vai pegar nenhuma, mesmo,” complementou Pitty.
Qual é a sua onda? Qual é a minha onda? Nem sempre a gente sabe, mas a gente vive de erros e acertos, de tentativas intuitivas, amorosas e afetivas em relação à arte. Então é o que eu tento fazer.
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Durante a pandemia, Pitty explorou outros aspectos artísticos. Por exemplo, ela virou diretora, streamer e roteirista. No entanto, ela não está com muito tempo nem para o “Lado A, quem dirá pro lado B.”
“Bicho está pegando aqui. Mamãe, empresária, cantora em turnê, produzindo e montando um espetáculo especial para um puta festival. Você imagina como é que eu estou. Daquele jeito, correria. Mas eu gosto. Esse ano está muito pleno assim para esse lado,” afirmou.
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Na Twitch, a cantora tinha uma programação bastante especial, com programas roteirizados e até mesmo com editorias. Além disso, ela mexia no switch e operava as câmeras: “Descobri como gosto desse tipo de comunicação e que talvez eu me dê melhor com esse meio digital do que no pessoal, acho que eu fico menos tímida.”
Agora, para o restante de 2023, Pitty quem “sobreviver com louvor.” “Cada mês é um tiro no meu psicológico [risos] porque vai ter The Town, que é um lance no qual estou muito concentrada e montando esse espetáculo com muito cuidado, com muito afeto, com muita atenção para os detalhes, para entregar um lance muito massa,” disse.
E aí eu não sei o que eu vou fazer. Vou entender como vou encerrar essa tour do Admirável Chip Novo. Pretendo encerrá-la [ainda em 2023].
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