Em turnê pelo Brasil e exterior com o álbum 'D'; Djavan desabafa sobre os desafios da estrada
Fernanda Decaris (@ferdecaris) Publicado em 25/05/2023, às 16h22 - Atualizado em 26/05/2023, às 19h14
Djavan acaba de voltar de uma série de shows nos Estados Unidos. O músico de 74 anos, 55 de carreira, está de volta à estrada com a turnê internacional do 25° disco, D. No último final de semana, desembarcou em São Paulo, onde apresentou novidades, como "Iluminado", em meio a clássicos como "Flor de Lis" e "Samurai" no Espaço Unimed.
Debruçando-se sobre a longeva carreira, o músico alagoano conversou com a Rolling Stone Brasil sobre algumas de suas composições mais clássicas, presentes na nova turnê, bem como sobre seu processo de escrita, que se renova em D, álbum de 2022 em que coloca o otimismo como resposta ao obscurantismo e à falta de esperança.
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Enquanto existem artistas que se esforçam para criar letras complexas e melodias originais, para Djavan, escrever é natural. O músico conta que tem muitas letras feitas mas ainda não terminadas.
"Eu nem termino uma canção na hora, só quando eu realmente preciso compor novas músicas, é quando eu sento e escuto algumas coisas que eu já fiz. Se eu gostar eu pego aquele início e faço uma canção definitiva. É algo que faço sempre, pego o gravador e registro alguma coisa."
Foi de um processo como esse, inclusive, que surgiu uma de suas canções mais populares, "Oceano". Lançada originalmente no álbum Djavan, de 1989, ela surgiu quando o músico estava viajando e sua filha telefonou para falar sobre uma letra encontrada. Ele então decide retomar o que havia começado, criando assim um dos grandes hits de sua carreira.
Do processo, surpreende talvez a distância de temas autobiográficos em suas faixas - mesmo as composições mais românticas, que o tornaram conhecido, têm origem em uma criatividade abstrata, que afasta, por exemplo, da vivência prática de seu casamento com Rafaela Brunini, com quem está junto há 25 anos:
"Eu não preciso estar apaixonado para compor. Coincidentemente eu vivo em um estado de euforia com a minha relação, a gente [o casal] tem uma relação de crescimento. mas a composição deve-se exclusivamente ao fato de você querer fazer."
Questionado se a personagem da faixa "Maria das Mercedes" de 1975, realmente existiu, ele explica:
"Maria das Mercedes não existiu. Essa foi uma historinha que criei na minha cabeça, mas sabemos que Maria das Mercedes existe na cabeça e no coração de muita gente, por isso que a gente consegue inventar. No fundo a gente não inventa nada, a gente reproduz histórias que vemos por aí."
"O que funciona pra mim é o desejo de compor. No entanto, se você tem amor no coração, as coisas fluem melhor. Eu invento amores e invento situações", diz. "Se não fosse a imaginação, a arte não existiria. Esse é o elemento primordial."
Enquanto segue com turnê pelo Rio de Janeiro e depois, Europa, Djavan reconhece os desafios de voltar à estrada - ainda que os reconheça como um processo de natural evolução.
"Os desafios de uma carreira naturalmente cresce de ano a ano e e você precisa estar bem para corresponder a esse crescimento a essa evolução, não é? Porque fazer uma turnê mundial, não é uma coisa simples, você precisa estar com o corpo preparado."
Apesar de ter relatado uma gripe enquanto rodava os Estados Unidos, além do diagnostico raro de um distúrbio chamado tremor essencial, Djavan esbanja poesia, sabedoria e disposição, ao afirmar que a recompensa para a superação e para o esforço sempre está no palco.
"A temperatura de país a país muda tudo. Depois dessa turnê americana, peguei uma gripe porque estava muito frio e e foi um pouco difícil, mas a gente conseguiu levar em frente. Então é tudo muito cansativa, o que branda essas dificuldades é o palco. Chegar ali e cumprir seu dever é renovador."
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