Convidadas pela Rolling Stone Brasil, MC Soffia, Shygirl, Carol Biazin, Negra Li, Doro Pesch, Claudia Leitte, Karinah e MC Taya refletem sobre o espaço conquistado pelas mulheres no mercado musical
Pamela Malva Publicado em 08/03/2023, às 11h00
Quantas mulheres fazem parte da sua playlist favorita? E, para além dos discos e dos singles, quantas mulheres compõem o mercado da música atualmente? Foram essas e algumas outras perguntas que a Rolling Stone Brasil fez para oito artistas neste Dia Internacional da Mulher, a fim de investigar o espaço conquistado por elas na indústria musical.
Diferentes gerações, gêneros musicais e até países separam MC Soffia, Shygirl, Carol Biazin, Negra Li, Doro Pesch, Claudia Leitte, Karinah e MC Taya. Mas alguns fatores unem essas artistas: desde sua paixão pela música, até a forma como elas interpretam a arte justamente por serem mulheres.
Pensando nisso, em um dia tão repleto de significados, que tem ganhado cada vez mais narrativas — com as novas gerações homenageando lutas, e não apenas ideias —, a RS Brasil buscou compreender o espaço conquistado pelas mulheres na música. E a melhor forma de fazê-lo, é claro, é questionando quem vive e reivindica esse espaço todos os dias.
Um dos principais nomes do rap nacional, Negra Li acredita que a equidade de gêneros já evoluiu bastante na música, mas explica que ainda há muito para mudar. “Para mim, que venho do rap, isso sempre foi nítido. Quando comecei, via muitas mulheres, mas elas não tinham visibilidade. O rap sempre replicou um comportamento machista”, afirmou.
“A mulher sempre precisa se provar mais do que os homens. Eu posso dizer pela minha própria experiência, o quanto tive que me adequar a padrões e reforçar práticas para me manter dentro daquele universo do rap, até o momento em que eu tive a minha virada de chave. Hoje eu percebo como a diversidade de discursos tem evoluído com mais respeito pela potência que as mulheres transmitem com sua música”, pontuou a cantora de 43 anos.
Da mesma forma, quando o assunto são os cargos de tomada de decisão, Negra Li defende que ainda existe bastante espaço para mudança. “O bastidores do show business ainda é dominado pelos homens, especialmente nos cargos de produção, mas observo que cada vez mais as mulheres também têm ocupado e se destacado, ainda que em menor número."
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Um dos maiores nomes da música brasileira, a cantora nascida em São Gonçalo (RJ) já acompanhou diversas tendências na indústria musical e reconhece os obstáculos enfrentados pelas mulheres. “Muita coisa mudou desde que iniciei minha carreira, há 20 anos, e percebi também que sim, dependendo do gênero o espaço se abre ou se fecha mais para nós.”
“Confesso que, por experiência própria, as mulheres têm de se provar muito mais. Eu mesma, por muito tempo, tive que mostrar que tinha competência, não deixar que me resumissem à minha imagem, pra conseguir chegar onde cheguei, principalmente por eu ter começado muito nova”, revela. “As mulheres têm sempre que mostrar que são competentes o suficiente para serem artistas, cantoras, empresárias, gestoras, mães, donas de casa, independentes.”
“Mas graças a Deus e muita luta, hoje nós mulheres temos uma maior liberdade de escolha, além de uma conscientização social ampliada que às vezes funciona como uma rede de apoio, que nos possibilita sermos múltiplas com muito mais tranquilidade. Vejo um aumento considerável de mulheres em cargos de liderança, assim como nas produções. Mulheres fortalecem outras mulheres e assim vamos ganhando ainda mais espaço na cena.”
Aos 42 anos, Claudia Leitte defende que, muito além do discurso, é importante que as mulheres líderes no mercado atuem na luta por mais espaço. “Na minha empresa, isso é algo que vai além do discurso. Hoje, cerca de 8 dos 10 cargos de chefia são liderados por mulheres. Acredito que, além do discurso, da fala, também é importante que exista atitude, que é o que fez e vai continuar fazendo com que consigamos mais espaços”, explica a cantora.
Vencedora de diversos prêmios de artista revelação em 2019 e 2022, Carol Biazin ocupa seu espaço no mundo da música através de suas composições de pop. Nascida em Campo Mourão, no Paraná, a cantora enxerga o gênero como um fator “disruptivo que acaba abrindo os olhos para outros gêneros”. “Esse conceito de diva pop tem ficado cada vez mais forte no Brasil e acredito que isso tem sido um grande agente transformador no cenário”, diz.
Muito por culpa do gênero musical que canta, Carol também conhece um lado diferente da performance feminina. “Com certeza as mulheres precisam provar o triplo para estar onde estão. Eu vejo muito isso nas performances de show ao vivo, porque eu me considero uma artista pop, só que não danço e sinto uma pressão do cenário”, revela. “Muitas vezes parece que nunca vai ser o suficiente você só cantar e ser instrumentista e compositora.”
Aos 25 anos, contudo, a cantora diz não querer ser “100% pessimista”. “De um tempo pra cá, tenho visto mais mulheres em cargos importantes em gravadoras, mesmo que esses cargos sejam majoritariamente ocupados por homens. Acho que sempre que uma mulher ocupa um espaço, todas temos que comemorar, porque é mais fácil uma mulher pensar em contratar outra, do que um homem. Para mim, esse é o caminho, uma mulher puxa a outra.”
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Nascida e criada na Zona Oeste de São Paulo, MC Soffia começou a cantar aos 7 anos, após acompanhar sua mãe, a produtora cultural e estudante de direito Kamilah Pimentel, em diversos eventos culturais na periferia. Hoje aos 19 anos, a cantora de rap espera que as próximas gerações encontrem uma maior tranquilidade para se desenvolverem na música.
“No meu caso e de muitas outras cantoras negras, além do machismo, também lutamos contra o racismo. Temos muitas conquistas, mas ainda falta muito. Temos que provar o tempo todo que somos capazes e, mesmo assim, ainda é difícil. É muito cansativo. Artistas como Elza Soares, Alcione, Sharylaine, abriram o caminho para nós, mas a luta continua.”
Dona de letras que criticam o racismo e o machismo, MC Soffia pontua que as mulheres têm de estar em todos os espaços para que existam oportunidades iguais. “Temos profissionais qualificadas que precisam apenas de uma oportunidade. Sou artista independente e pretendo continuar assim, só fazendo parcerias que fortaleçam meu trabalho.”
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Uma das maiores revelações do rap britânico nos últimos anos, Shygirl usa sua música experimental para falar sobre temas que envolvem a feminilidade, mas que foram distanciados das mulheres. Nascida em Londres, a compositora de 29 anos busca ressignificar a feminilidade e a sexualidade que lhe foram ensinadas por um sistema patriarcal.
“Eu realmente quero criar um ambiente fofo nas minhas músicas. É sobre retomar e ressignificar a nossa feminilidade e nossa sexualidade, porque é algo que eu gosto e tenho direito de falar sobre. Nós escutamos tanto falar sobre esses temas, mas sob a perspectiva masculina”, explicou a britânica.
Acontece que, para Shygirl, é importante reivindicar temas como sexualidade e desejo, uma vez que eles foram afastados das mulheres. “Nós gostamos de ser sensualizadas de vez em quando, está tudo bem. Mas é sobre falar desse assunto, é sobre sermos donas desse desejo e gostar de sermos representadas assim. E é muito importante que isso seja escutado.”
Desafiando constantemente a resistência que o pagode apresenta para as mulheres, Karinah iniciou sua carreira aos 12 anos e acredita que “a mulher precisa ser resistência em qualquer profissão”. Dona de um escritório que investe em projetos artísticos ao lado do marido, a cantora de 40 anos diz acreditar que as artistas “precisam se posicionar, sempre”.
“A mulher precisa ser dona de seu nariz, saber o que quer e ter propriedade no que fala. A entrega precisa ser baseada nos seus propósitos. Ela precisa buscar estar rodeada de pessoas que acreditam em seu trabalho”, defende. “Somos resistência, inclusive no samba. Nesses mais de 100 anos de história, a mulher sempre fez história, sempre. E a luta continua.”
“Nós mulheres percebemos que não devemos esperar por oportunidades. Devemos buscá-las, ou criar nossas próprias oportunidades. Quando o mercado incentiva, claro que contribui muito, e o cenário vem mudando muito. Isso é empoderamento, precisamos fortalecer ainda mais essa base. As mulheres que já conseguiram seu lugar ao sol somam muito para que outras possam seguir seus sonhos. Mulheres que inspiram sempre vão fortalecer as outras.”
Permeando os universos do funk, rap, rock e trap, a música de MC Taya vai de encontro com o movimento Afropaty, cujo objetivo é empoderar mulheres pretas e seus traços, após séculos de marginalização. “O machismo ainda permanece no mercado da música”, explica a cantora. “Acho que conquistamos mais espaço, mas ainda está longe de um espaço de equidade.”
“O patriarcado é cego, é intrínseco e muita das vezes não reconhece vários talentos femininos. É só olhar para os shows. Mulheres são cobradas em tudo: técnica vocal, coreografia, além de toda a pressão estética, né? As mulheres cis (e todas que performam a feminilidade, como as drags) preciam estar duas vezes mais afiadas, e as mulheres trans, cinco vezes. É uma luta árdua, um caminho extremamente difícil se comparado aos homens”, lamenta.
Inspirada por grandes nomes da música, como Pitty, Pink Floyd e Guns N’ Roses, MC Taya também acredita no movimento cíclico que garante espaço para mulheres no mercado. “Se criou a necessidade de ter mulheres no backstage para que as artistas chegassem ao front. Por sorte, temos várias empresárias super competentes no mercado”, comemora.
“Eu mesma só fechei com uma gravadora quando me senti confortável por ser um selo só de mulheres, dirigido pela Alana Leguth do HERvolution [selo musical da KondZilla dedicado para artistas mulheres]. É necessário cada vez mais mulheres na indústria para que possam ter mais de nós como artistas também. É um ciclo.”
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Natural da Alemanha, Doro Pesch é considerada uma das maiores vozes femininas do metal e comemora 40 anos de carreira em 2023. Em entrevista à Rolling Stone Brasil, ao ser questionada sobre o etarismo denunciado por Madonna, a artista comentou que, diferente do que vê em outros gêneros, não identifica esse tipo de preconceito no rock.
“Eu acho que no metal isso não existe, para ser sincera. Eu nunca senti isso, nunca tive que me preocupar com isso. Quero dizer, quando você olha para os nossos ícones, Ozzy Osbourne, por exemplo, tem 74 anos”, explicou Doro. “Para as mulheres, apesar de não termos tantas assim, todas são ótimas, como Ann e Nancy Wilson, as irmãs do Heart. Quando elas cantam, suas vozes estão melhores do que nunca. Todas estão arrasando.”
Bastante positiva e categórica ao dizer que “nunca ouviu falar de etarismo no metal” — apesar de imaginar que tal questão realmente existe no pop, por exemplo —, Doro disse acreditar que “se você tem um espírito jovem, pode fazer o que quiser”. “Você tem que trabalhar duro, nunca pode se deixar ir. Acho que essa é a chave, você tem que fazer o que ama”, afirmou.
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