A cantora disponibilizou uma versão remasterizada de 'Amores,' canção de Milton Nascimento e Fernando Brant, lançada no álbum Grandes Amores (1987)
Pedro Figueiredo (@fedropigueiredo) Publicado em 09/08/2024, às 13h44
Se você acompanha Fafá de Belém nas redes sociais, viu que a artista fez mistério sobre um lançamento especial nos últimos dias. A cantora, que comemora 68 anos nesta sexta, 9, disponibilizou hoje uma nova versão de "Amores," canção de Milton Nascimento e Fernando Brant, lançada originalmente por ela em Grandes Amores (1987).
Em conversa com a Rolling Stone Brasil, Fafá conta que está ha cerca de um mês e meio sem muitos movimentos por conta de uma fratura no joelho. O que é incomum para a artista, sempre muito ativa. "Essa imobilidade parcial me jogou também para dentro de mim. Há algum tempo queria tirar dois meses para cuidar de mim, preparar-me para o Círio de Nazaré, em outubro, eu nunca tenho esse tempo."
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Fafá brinca que desejou tanto isso que Deus falou: "Pera aí que eu vou dar um jeito de você se aquietar." Ela vem refletindo sobre o aniversário, os 50 anos de carreira que completa em seis meses e o fato de ter deixado Belém aos 18, apesar de ainda se ver naquela garota "agoniada e intempestiva".
Nesse período o DJ Zé Pedro, com quem trabalhou em Do Tamanho Certo para Meu Sorriso (2015) e Humana (2019), a enviou o que classificou como "uma joia." "Era a minha voz, tirada absoluta com inteligência artificial. O arranjo completamente apagado em um novo arranjo feito a partir de uma música que ganhei de presente de dois grandes amigos."
A música havia se perdido um pouco no arranjo que foi feito. E ele me trouxe de presente nessa pérola tão delicada, cercada agora da delicadeza que é preciso para o que fala a música, para o que trata a letra do Fernando Brant.
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A cantora, encantada com o que ouviu, decidiu lançar no próprio aniversário. Para isso, ela ligou para todas as pessoas necessárias para que a regravação fosse autorizada. A peça foi coroada pela foto de Aryanne Almeida, feita em Belém. A música ainda ganhará um lyric video.
"Tudo se juntou de uma forma muito forte, mas muito delicada, como é essa canção," conta. "Conseguimos com essa junção de amigos e pessoas queridas, fazer esse presente para a minha alma e um presente que eu ofereço também às pessoas, a música de dois grandes compositores brasileiros."
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Fafá relembra que a relação com Milton se inicia quando ela tinha apenas 13 anos. "Eu morava no Rio e meu irmão, que era sempre envolvido com música e artes, perguntou se eu queria ver um ensaio do Milton Nascimento. Meu olho esbugalhou e ele disse 'não pode rir, não pode gargalhar, vou te botar escondida embaixo da arquibancada.'"
Esse era o lançamento do espetáculo Milton Nascimento, ah, e o Som Imaginário, que completa 55 anos em 2025. "Fui conhecendo os músicos, Milton e fizemos uma parceria de mais de 50 anos."
Nos vemos todos os dias? Infelizmente, não. Estamos juntos todos os dias? Infelizmente, não. Mas o amor não é uma coisa que precisa constância. O amor e a amizade existem. E é com essa emoção gigantesca que fui arrebatada por essa canção, dada de presente por dois amigos queridos e ídolos.
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Fafá falou também sobre a relação com os fãs mais jovens. Ela diz que isso "é muito doido," seguido da gargalhada mais famosa da música brasileira. "Eu acho que a gente se conecta pela irreverência, pela minha não postura careta, por eu não ser uma pessoa programável."
Ela tem olhado para entrevistas que fez no passado. Zé Pedro escreve a biografia da cantora e, às vezes, faz perguntas que terminam em ataques de riso: "Ele busca entrevistas de quando eu tinha 18, 20 anos, e continuo pensando igual. Claro que eu não sou a mesma pessoa, porque passaram quase 50 anos desde que virei uma cantora, uma pessoa pública. Mas eu não me encaretei, não me engessei."
Eu não sentei no baú do 'Você sabe quem eu sou?' Nem eu sei quem eu sou. Então essa busca, essa curiosidade, esse querer subir no banquinho e olhar o outro lado do muro é uma coisa que eu jamais perdi. E que eu jamais perderei.
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A conexão com o público mais jovem vem de um sentimento do qual a cantora não abre mão: a liberdade. "A liberdade em não me levar a sério. Eu sei tudo o que eu gosto, eu levo muito a sério a minha vida, mas existe todo um mundo de questionamentos, de verdades que podem ser questionadas. Eu não tô aqui cagando regra, não estou repetindo história."
Essa relação com outras gerações se deu durante a pandemia, quando ela percebeu o boom no Instagram — que saiu de 90 mil para cerca de 700 mil (hoje, são 1,1 milhão de seguidores). "Perguntei o que estava acontecendo, falaram que o público cresceu muito e que era entre 15 e 29 nove anos. Eu falei: 'É para as avós' e disseram que não, 'as avós estão em 2 milhões no Facebook'," conta, aos risos.
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Fafá pode estar temporariamente imobilizada, mas parada, nunca! A cantora diminuiu o ritmo dos shows em 2024 para focar em outros projetos igualmente especiais. A Varanda de Nazaré, que faz durante os círios de todos os anos, é um deles. "Eu comecei isso muito antes do Pará ser moda. Muito antes da gastronomia do Pará estar indicada entre as melhores do mundo. Há 14 anos, eu tenho a Varanda de Nazaré para fazer as pessoas olharem para o meu povo, do jeito que nós somos.
Não somos óbvios. Somos amazônicos! Ano que vem são 15 anos de Varanda, 50 anos de carreira e a COP em Belém.
Durante a pandemia, a artista entendeu que existem diversos caminhos pelos quais ela pode se manifestar. No ano passado ela se envolveu na organização de um fórum para o debate de assuntos amazônicos — o Amazônia Somos Nós — e neste ano o evento está mais robusto. "Eu volto aos espetáculos no início de janeiro." Conta a artista que ainda lançará um projeto com canções de compositores amazônicos. Fafá está vivendo no próprio tempo e nada pode ser mais especial que isso.
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