Frescobol dispensa as guitarras e cai na pista para o segundo EP
'Do Chão Não Passa' mergulha ainda mais fundo na fantasia pop de Bruno Palma, com cinco músicas e participação de Marina Vello
Eduardo do Valle (@duduvalle) Publicado em 16/09/2022, às 10h23
Foram anos entre projetos de indie rock e de hardcore até um já longínquo 2019, quando Bruno Palma resolver abraçar o pop com seu projeto solo, o Frescobol. Corte seco para a pandemia, agora ele volta com seu segundo EP, Do Chão Não Passa, no qual dispensa as guitarras em nome de um experimentalismo dançante:
"Tudo pra mim vem do pop. Eu demorei muito tempo pra admitir pra mim mesmo que gostava de pop, mas na real eu sempre amei. As letras sempre têm alguma acidez, um pouquinho de humor", diz Bruno.
Do Chão Não Passa chega com cinco faixas e participações de Peo Tavares (cais) e Lucas Araújo (The Baggios) e Marina Vello (Madrid), que estrela também o primeiro clipe do EP, "Quando o Milo Ainda Era na Minas Gerais", um registro nostálgico de Bruno - e de toda uma geração que viveu parte boa da vida na icônica casa do rock underground paulistano.
"Às vezes algum amigo relembra alguma história e eu amo rebater com 'Nossa, mas isso aí rolou quando o Milo ainda era na Minas Gerais'. Virou quase uma medida de tempo pra mim. O Milo era uma casa noturna que eu curtia muito."
Foi no novo endereço do Milo que Bruno e Marina gravaram o vídeo [abaixo], com direção de PC Pereira, que une a veia dançante do projeto à percepção melancólica da passagem do tempo. "Tenho andado bastante emotivo com isso", diz Bruno.
Por todas as cinco músicas, o que amarra o projeto é a despretensão pop de Bruno, que assume um lado diferente daquele visto em seus outros projetos, como os mais recentes Twinpine(s) e Chalk Outlines. Aqui ele mira na pista de dança. E traz também seu melhor humor para a entrelinha de faixas como "Pronto" ("na minha cabeça é super Britney, mas quem ouve fala que tá mais pra Depeche Mode").
Neste sábado (17), ele apresenta Do Chão Não Passa no estúdio Aurora, onde ele gravou os vocais do projeto. "Fazer um trampo mais dançante e sem guitarras me fez ter vontade de experimentar outra parada ao vivo", adianta Bruno, que garante, o clima será mais de festa e menos de show - o de um "rolê com os amigos", como ele resume o som referscante do Frescobol. Ingressos aqui.
Ouça Do Chão Não Passa abaixo:
Confira a entrevista com Bruno Palma, do Frescobol, sobre o EP Do Chão Não Passa:
Rolling Stone Brasil: Do Chão Não Passa chega três anos depois de Fiasco, seu primeiro EP. Para além do impacto óbvio da pandemia, como o tempo mudou o som do Frescobol?
Bruno Palma: O Frescobol, pra mim, sempre teve a ver com festa, papo de boteco, rolê com os amigos. Quando chegou a pandemia, tudo isso ficou suspenso, então eu não via nada sobre o que eu pudesse ou quisesse falar. Depois de algum tempo as ideias foram vindo e resultaram nas músicas desse EP. Acho que essencialmente é a mesma ideia do Fiasco: uma mistura de histórias minhas, coisas inventadas, coisas aumentadas, causos que aconteceram com pessoas que eu conheço. A diferença é que dessa vez eu decidi não gravar nenhuma guitarra. Foi tudo no computador mesmo.
Rolling Stone Brasil: E esse nome, Do Chão Não Passa, como chegou a ele?
Bruno Palma: Veio por conta da capa mesmo, que é uma foto de arquivo do Ian [Hermann], um amigo meu. Mas eu me identifico muito com esse nome. Minha vida é uma coleção de tombos, mas aí vou dando um jeito de me reerguer. E os tombos acabam virando história pra contar, às vezes música.
Rolling Stone Brasil: Como foi a produção do EP - quando surgem essas faixas, onde você gravou, quem fez parte?
Bruno Palma: A parte instrumental eu fiz toda em casa mesmo. Eu tenho adorado produzir no conforto do lar. Tem ideia que surge na madrugada, por exemplo, daí é muito bom poder sentar no computador e fazer acontecer. Os vocais eu gravei no estúdio Aurora. E a participação do Peo Tavares, do cais, também foi gravada lá. Além dele, participaram do EP a Marina Vello, do Madrid e ex-Bonde do Rolê, e o Lucas Araujo, que tocou no The Baggios. Mas eles mandaram as partes deles pra mim pela internet. Maravilhas do mundo moderno.
Rolling Stone Brasil: As músicas estão mais dançantes e isso vai refletir no show também. Conta como chegou a essa decisão.
Bruno Palma: Eu passei por muitas bandas, tocando basicamente indie rock ou hardcore. Eu gosto muito, acho muito massa tocar guitarra e tal. Mas o Frescobol é o lugar onde eu posso explorar o pop bagaceira mesmo, com gosto. Eu fico sempre buscando fazer algo que eu gostaria de dançar numa pista ou algo do tipo. Fazer um trampo mais dançante e sem guitarras me fez ter vontade de experimentar outra parada ao vivo. Vou testar um show sem banda, com mais cara de festa mesmo.
Rolling Stone Brasil: "Quando o Milo Ainda Era na Minas Gerais" vem cheia de nostalgia no coração de quem viveu uma certa fase. Fala um pouco dessa faixa.
Bruno Palma: O título dessa música já existia na minha cabeça há uns bons anos. Ela só demorou um pouco pra nascer. Às vezes algum amigo relembra alguma história e eu amo rebater com "Nossa, mas isso aí rolou quando o Milo ainda era na Minas Gerais". Virou quase uma medida de tempo pra mim. O Milo era uma casa noturna que eu curtia muito. Fez história no underground paulistano. E continua fazendo, mas num outro endereço já deve ter uma década. Essa música fala sobre coisas que se vão e sobre as mudanças que a gente vai percebendo com o passar dos anos. Eu tenho andado bastante emotivo com isso.
Rolling Stone Brasil: É dessa faixa também o clipe. Como foi a gravação?
Bruno Palma: Foi uma correria danada. O Milo deixou a gente ir gravar lá no atual endereço, na Pompeia, num domingo. E a gente tinha muito pouco tempo. Fomos eu, a Marina Vello e o PC Pereira, um grande amigo meu, que ficou encarregado da direção. E só! A gente voou pra fazer tudo em três horas. Foi surreal, mas deu muito certo.
Rolling Stone Brasil: Como foi o convite à Marina Vello e o que ela traz à faixa e ao EP, como um todo?
Bruno Palma: Foi a coisa mais simples do mundo. Eu conheço a Marina há anos. Convidei ela pra gravar uma das músicas do EP e ela topou de imediato. Ela só demorou um bocado pra me mandar a parte dela, mas rolou. A Marina é incrível. Tem um talento de outro mundo. Eu pedi pra ela me mandar uma coisinha e no fim vieram umas quatro faixas de voz. Eu amo gravar com pessoas que eu gosto e admiro. Também acaba sendo uma maneira de ter a pessoa juntinho comigo em algum lugar, sabe?
Rolling Stone Brasil: É da Marina também uma atuação impressionante no clipe. É atuação, de fato?
Bruno Palma: Cara, ela chorou real. Pra ir até o Milo gravar, a gente se encontrou na estação Vila Madalena e foi andando até lá a pé. Nesse caminho ela foi me contando umas situações chatas que estava passando. Ela não estava num dia muito legal. E na hora de gravar acho que a coisa da nostalgia da música, que fala de uma fase mais leve e simples da vida, acabou batendo meio torto nela por conta de todo o contexto. Foi muito sincero aquilo e ficou muito forte.
Rolling Stone Brasil: Queria saber mais das outras faixas - influências, de onde elas vêm. Você comentaria cada uma delas pra gente?
Bruno Palma: Tudo pra mim vem do pop. Eu demorei muito tempo pra admitir pra mim mesmo que gostava de pop, mas na real eu sempre amei. As letras sempre têm alguma acidez, um pouquinho de humor. Isso eu não posso negar que é uma influência direta do Adriano Cintra, que é meu amigo. Eu admiro muito a forma dele escrever e cheguei a fazer parte da banda de apoio da carreira solo dele. "Tudo que você deixou aqui" é sobre vender as coisas que um date deixou na sua casa. Já fiz isso? Talvez. "Eu espero" é uma música de amor. Eu sou ridiculamente romântico. "Pronto" na minha cabeça é super Britney, mas quem ouve fala que tá mais pra Depeche Mode. Bom, gosto de ambos. Essa já é mais tensa, sobre aceitar qualquer migalha pra estar com a pessoa que você curte. Não recomendo, mas acontece. E "Ele disse que sabia que eu existia" é aquela situação em que você percebe que está com uma pessoa que não tem nada a ver com você.
Rolling Stone Brasil: Como vai ser o lançamento e o trabalho desse EP? Onde você mira?
Bruno Palma: Cara, honestamente não sei dizer. Agora é tentar fazer com que mais pessoas conheçam e fazer uns shows por aí. Eu nunca tenho nenhum grande plano com relação ao que eu faço musicalmente.
Rolling Stone Brasil: Em algum momento vem álbum do Frescobol?
Bruno Palma: Certamente vem mais um EP. E não deve demorar muito. Mas álbum eu já não sei. Tem duas questões aí. A primeira delas é que eu realmente curto o formato EP. Acho que ele dá conta de contar uma historinha, de ser bem amarrado. Eu diria que é uma boa fotografia de um momento pelo qual eu estou passando. A segunda coisa é que todo gasto envolvido nisso sai do meu bolso. Eu ainda tenho a sorte de ter amigos que me ajudam muito. Se não fosse isso, nem EP saía. Mas um álbum provavelmente custaria pra mim o dobro de um EP. Daí já fica bastante inviável.
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