- Thiago Guerra, Lucas Silveira e Gustavo "Vavo" Mantovani formam Fresno (Foto: Camila Cornelsen)
Entrevista

Fresno lança disco ‘Fresnão clássico’ para falar sobre amor ‘das maneiras mais intensas possíveis’

Com muito estilo e uma sonoridade sólida e complexa, Fresno liberou Eu Nunca Fui Embora - PARTE 1 nas plataformas de streaming nesta sexta, 5

Felipe Grutter (@felipegrutter) Publicado em 05/04/2024, às 13h05

Desde a criação, em 1999, em Porto Alegre, a carreira da Fresno passou por uma verdadeira montanha-russa, na qual estiveram lá no alto durante o primeiro auge, no começo dos anos 2000, e numa descida na parte final dos anos 2010.

No entanto, o grupo formado por Thiago Guerra (bateria), Lucas Silveira (vocal, guitarra) e Gustavo "Vavo" Mantovani (guitarra) encontrou um caminho bem-sucedido novamente, no alto, e sem previsão para nenhuma descida. Após uma série de momentos marcantes com o lançamento de Vou Ter Que Me Virar (2021), os artistas aproveitam esta ótima fase para lançar o décimo disco da carreira, intitulado Eu Nunca Fui Embora - PARTE 1.

Nos últimos anos, surgiram alguns fatores para esse novo auge da Fresno. Além da qualidade musical e experiência dos três integrantes, o movimento emo voltou a ganhar força, no Brasil, durante e após a pandemia de covid-19. Inclusive, em 2024, a banda foi um dos destaques do festival I Wanna Be Tour, que contou com grandes nomes do pop punk e do emo nacional e internacional.

Nos cinco shows em cidades Brasil (São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba, Belo Horizonte e Recife), o grupo foi escalado para abrir I Wanna Be Tour e, apesar da apresentação acontecer no primeiro horário, arrastou multidões para assisti-los no evento — algo bastante incomum em festivais.

Fresno no festival I Wanna Be Tour, no Allianz Parque (Foto: André Figueirêdo)

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E, claro, essa tarefa foi bastante complexa. Para entregar o show, Fresno se obrigou a trabalhar bastante na apresentação, seja em melhorias ou até mesmo modernização, com ensaio e uma equipe sincronizada. Agora, eles mal esperam para começar a turnê do novo disco, algo com o qual estão muito focados.

Durante entrevista à Rolling Stone Brasil, Lucas Silveira relembrou como, na pandemia, um amigo o motivou a fazer um mega festival com bandas brasileiras em estádio. O cantor chegou a ligar para Badauí, do CPM 22, e integrantes do Forfun, por exemplo.

“Mas, na época, ninguém acreditou e nem eu acreditava muito. Mas muita coisa mudou de lá para cá a ponto de ficar plausível juntar várias bandas e fazer um show num estádio,” afirmou. “No caso do Allianz [Parque], em São Paulo, esgotou muito rápido. Quando surgiu o papo do festival, eu já sabia que seria muito f***, principalmente por ser uma coisa que o público às vezes nem sonhava que poderia acontecer de novo.”

[I Wanna Be Tour] provou que o Brasil é um país onde essas bandas foram muito profundas. Foi um negócio muito grande e ainda é. Tem muita coisa ainda para ser explorada, muitos saldos desse festival que podem sair pipocando em outros eventos, outros festivais… foi ótimo para nós.

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Realmente, a Fresno nunca foi embora

Capa de Eu Nunca Fui Embora - PARTE 1 (Foto: Camila Cornelsen)

Com seis músicas e um interlúdio, Eu Nunca Fui Embora - PARTE 1 veio para reafirmar que a Fresno merece estar em um lugar de bastante destaque novamente. Talvez, esse seja um dos discos mais familiares da banda, com uma sonoridade focada em guitarra, baixo e bateria. Anteriormente, especialmente em Sua Alegria Foi Cancelada (2019) e Vou Ter Que Me Virar, eles exploraram outros instrumentos.

Não apenas com uma continuidade sonora, a lírica das novas músicas fazem parte de uma só narrativa, de certa forma. “De uma maneira bem ampla, o álbum fala muito sobre as faces do amor de uma pessoa que já não é mais adolescente, e não é nem mais tão jovem assim,” disse Lucas.

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Esse disco já vem do alto de algo que está acontecendo e das análises que isso gera, sim, da gente mesmo, mas, ao mesmo tempo, sempre buscando o refrão mais bonito que tiver, a melodia mais linda que tiver… falar isso das maneiras mais intensas possíveis, sempre.

Ou seja, Eu Nunca Fui Embora - PARTE 1 conta diversos lados de relacionamentos que acontecem e coisas que os músicos e público queriam que acontecessem, mas nunca foram. Além disso, a divisão do disco em partes vem de uma mentalidade estratégica.

“As pessoas sofreriam demais se fosse lançado numa lapada só. Queríamos muito que prestassem atenção nele inteiro,” revelou o vocalista. “É muito difícil ter a atenção das pessoas”. Então, Vavo complementou a explicação do colega de banda.

“A resposta mais simples seria ‘para ter dois lançamentos.’ É muito importante o momento do lançamento quando divide em duas partes, óbvio que não é quanto mais, melhor. Dentro da proposta do disco, das músicas que ele tem e do jeito que ele foi montado, lançar em duas partes seria uma coisa bem conveniente,” contou o guitarrista.

Amor e sofrência

Desde sempre, as músicas da Fresno lidam bastante com o amor e relações que fracassaram — e não foi diferente com Eu Nunca Fui Embora - PARTE 1. Em muitos casos, o eu-lírico se mostra desacreditado de relacionamentos, algo que contrasta com o atual momento do trio.

Porém, isso não é um demérito, visto que a banda é capaz de falar muito fluentemente sobre qualquer coisa que já viveram. Esse caráter autobiográfico também ajuda os fãs e público se relacionarem de uma maneira próxima das músicas.

“Várias músicas são músicas de amor, mas sinto elas com uma vibe de amor de casado,” explicou Lucas. “Tem coisas ali que não são platônicas, do não correspondido, do que acabou, do pé na bunda, mas relacionamentos que estão acontecendo, que mudam os dramas e situações.

Sei lá, eu precisei talvez ficar dez anos num relacionamento para começar a ter a fluência de falar sobre essas coisas e esse disco tem muito disso. Então, quem é solteiro sabe, quem é casado sabe, sempre vai ter motivo para sofrer.
Fresno (Foto: Camila Cornelsen)

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O auge não assusta

Seria muito fácil para uma banda sentir certa pressão quando atinge um local de destaque na carreira, ainda mais quando não é a primeira vez, mas isso não amedronta os integrantes da Fresno. Um dos segredos disso é acreditar até o fim e confiar no trabalho.

“A gente com 40 anos estar chegando nesse auge é aproveitamento máximo desse momento, da melhor maneira possível, com foco absurdo, e sem os deslumbres da juventude que geralmente estão colados ali,” comentou Guerra. “O foco é o grande lance desse segundo auge — do meu primeiro —, e eu acho que essa energia começa a refletir no que fazemos.”

Em seguida, os três integrantes da Fresno foram questionados sobre a maneira para continuar com essa crescente na carreira, como pensam para se reinventar a cada lançamento.

“Não existe uma pressão para se reinventar, mas ela acontece. Até a própria reinvenção é natural para quem gosta do que faz, para quem é apaixonado por música e pelas experiências que ela traz,” afirmou Lucas. “Estamos sempre ouvindo.”

Essa nova era é apenas mais um grande passo e marco na carreira da Fresno, uma das bandas mais importantes do emo brasileiro. Os três integrantes sempre se mostram conectados e seguros de si, até o próprio Guerra, que entrou na formação em 2013 e “comprou na baixa a sociedade da banda,” como brinca Lucas, manda tão bem na bateria que parece que esteve com o grupo desde o início.

O futuro, como sempre, é incerto, mas a Fresno mostrou ser uma das bandas brasileiras mais relevantes da atualidade, sempre com um som sólido e complexo, que não se prende no conforto ou sucessos anteriores.

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