LP apelidado de “Cérebro Eletrônico” foi criado durante prisão domiciliar e ajudou a transformar Gil em ícone da música brasileira
Por Rodrigo Tammaro Publicado em 03/09/2024, às 17h13
A Universal Music lançou nesta terça-feira (3) uma edição do icônico álbum Gilberto Gil, publicado originalmente pelo cantor e compositor baiano em 1969. A nova versão é feita em vinil azul.
Também conhecido como “Cérebro Eletrônico”, o terceiro LP do artista traz o rock ao estilo de Rogério Duprat, que assina a direção musical.
O repertório, porém, está ancorado em referências de afeto e humanidade em duas canções clássicas: “Aquele Abraço”, um dos maiores sucessos do país já em 1969, e “Cérebro Eletrônico”, atual como nunca, mesmo depois de 55 anos.
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Criado em um contexto histórico repleto de expectativas e novidades que iam da conquista do espaço à contracultura, o disco expandiu o tropicalismo trazendo influências de outros ritmos. O rock das guitarras de Lanny Gordin também tem doses de blues e psicodelia, que se somam à brasilidade da bateria de Wilson das Neves e do violão do próprio Gil.
Produzido por Manoel Barenbein, com arranjos de Rogério Duprat e Chiquinho de Moraes, o disco foi gravado em Salvador, São Paulo e Rio de Janeiro, entre abril e maio de 1969. Gilberto Gil estava em prisão domiciliar e proibido de dar shows, depois de ter passado dois meses encarcerado no Rio — a semana inicial, em solitária.
Três das músicas – “Cérebro Eletrônico”, "Futurível” e “Vitrines” – foram compostas no quartel de Deodoro (zona oeste do Rio), segundo Gil, “sob enfoque ou delírio científico-esotérico”, com o violão emprestado por um dos guardas.
Pronto para o exílio na Inglaterra, Gil lembra dos passeios motorizados em família na Bahia, deixando recados para o pai e a mãe em “Volks-Volkswagen Blues”. Ele mantém o estilo blues-rock no baião “17 Légua e Meia”, de Humberto Teixeira.
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A última canção a entrar no disco foi um samba inspirado no impacto de sair da prisão, numa Quarta-Feira de Cinzas, e passar por uma cidade ainda em trajes carnavalescos: a vida no Rio continuava normal, continuava linda. Gil partiu do bordão do humorista Lilico, que estava na boca do povo carioca, mas que ele só conhecia pela boca de seus carcereiros: “Aquele Abraço”.
Lançada em compacto em agosto de 1969, a música estourou imediatamente. Antes de se consagrar como hino extraoficial do Rio de Janeiro, a canção ecoou por todo o país como fenômeno popular. A partir de “Aquele Abraço” e deste LP, Gilberto Gil assumiu o papel de ícone da música e da cultura brasileira.
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