Cantora celebra fase de sucesso em novo show: "Uma nova experiência pop", promete
Beatriz Bim (sob supervisão de Eduardo do Valle) Publicado em 21/02/2022, às 17h00
Ao subir ao palco montado do Autódromo de Interlagos, no próximo dia 27, Gloria Groove deve estrear um show inédito em um grande festival, com a carreira no momento mais alto até então. Um feito raro, mesmo para um line-up extenso como o do Lollapalooza 2022. Entre os encontros e reencontros que o evento promete, será de Gloria uma das apresentações mais aguardadas, com o début do álbum Lady Leste nos palcos.
"O Lollapalooza vai ser uma grande experiência porque é onde vou realmente iniciar o Lady Leste Tour", disse a cantora, "é nele que começo oficialmente a turnê dessa era, a divulgação em grandes palcos, começando com o Lolla e indo até o Rock in Rio."
À Rolling Stone Brasil, Gloria conta que seu novo show será "um show como sempre quis fazer, com novos telões, cenários, figurinos, repertório". "Amo criar shows e não vejo a hora de tentar fazer essa missão impossível de condensar toda uma vida de símbolos, com tudo que há de novo do Lady Leste e que queremos ouvir."
É um "perrengue chique", nas palavras da própria, para celebrar a boa fase, que se estende desde a estreia de "Bonekinha", em junho de 2021. O single já rendeu à performer 56 milhões de visualizações, somente no YouTube. Na sequência viria "A Queda", que rendeu à drag paulistana sua primeira entrada na parada da Billboard. Em fevereiro lançaria Lady Leste, seu trabalho mais celebrado até o momento, em que lançou mão de parcerias com nome como Priscilla Alcântara, Hariel, Marina Sena, além de Daniel Garcia, o performer por trás de Gloria, cada vez presente em frente aos palcos e câmeras.
As parcerias, o processo criativo e os detalhes do novo show são tema da conversa entre Gloria e a Rolling Stone Brasil, que você confere com exclusividade abaixo:
Rolling Stone Brasil: Você se apresenta no Lollapalooza em alguns dias. Como é voltar a cantar ao vivo e se apresentar no festival?
Gloria Groove: O disco Lady Leste é feito ser cantado em público, com pessoas e com todo mundo junto. O Lollapalooza vai ser uma grande experiência porque é onde vou realmente iniciar o Lady Leste Tour. É nele que começo oficialmente a turnê dessa era, a divulgação em grandes palcos, começando com o Lolla e indo até o Rock in Rio.
Com isso, espero ter uma nova experiência pop, um show como sempre quis fazer, com novos telões, cenários, figurinos, repertório. Amo criar shows e não vejo a hora de tentar fazer essa missão impossível de condensar toda uma vida de símbolos, com tudo que há de novo do Lady Leste e que queremos ouvir. É um perrengue chique!
Rolling Stone Brasil: A sua carreira enfrentou um crescimento grande após o lançamento do primeiro disco, "O Proceder." Qual foi o caminho entre esse trabalho e o seu projeto mais recente, Lady Leste?
Gloria Groove: Incrível! Sou outra artista hoje. Proceder é um álbum de 2017, Lady Leste, de 2022. Nesse tempo fui acumulando a vivência como artista. Foi após O Proceder que realmente vivi os cenários dos shows e de estrada, que tive minha era dos singles soltos, e depois a era mais R&B. Muito aconteceu nesse meio tempo artisticamente, e pessoalmente também.
Mas a principal diferença é que, com Lady Leste, tenho muita segurança do meu texto. Sei exatamente com quem estou falando, e não tenho mais medo de me comunicar de uma forma diversa e plural, de usar a minha versatilidade. Hoje consigo ter a confiança de uma artista pop para fazer um álbum como Lady Leste, que talvez na época do Proceder não conseguiria.
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Rolling Stone Brasil: Inclusive, esse período ocorreu grande parte na quarentena. Como esse cenário afetou seu processo criativo e a sua relação com o mundo da música?
Gloria Groove: Afetou completamente meu processo criativo. Não foi à toa que durante a pandemia nasceu a era Affair. Foi um EP, um projeto completamente direcionado para o estilo R&B, que gosto muito e fez parte da minha vida desde o início. É uma das minhas principais referências musicais, minhas primeiras divas foram cantoras de R&B, Mariah Carey, Alicia Keys. Sinto que o Affair veio para fazer uma homenagem a essa minha fase e referência.
Mas, por conta disso, a era Affair não teve turnê e divulgação, porque aconteceu toda em meio a pandemia. Foi o momento de soltar um projeto com clima de festa, curtição, pista, pop. Mergulhei sem medo nesse processo da música romântica. Lady Leste foi a minha saída disso, de um projeto intimista, romântico, com uma estética clean para buscar de novo quem gostaria de ser como cantora drag, pop, da pista. O Lady Leste é o resultado dessa minha busca.
Rolling Stone Brasil: Que imagem você gostaria de transmitir, como artista, com esse novo trabalho e com o lançamento de Lady Leste?
Gloria Groove: Com Lady Leste sinto que finalmente consegui atingir a estética sonora, visual, que sempre quis enquanto artista. É um disco que me representa de A a Z. Apesar de eu ser o Daniel e a Gloria Groove ser a criação, é através da minha criação que expresso tudo que mais amo, que acho lindo, estético, agradável, e, até o momento, não tive uma era que me contemplasse por inteiro. Sempre conseguia representar um pedacinho de mim, e Lady Leste - talvez por levar no nome o lugar de onde vim - estou abrindo meu coração mais do que nunca.
Tem uma importância gigante originar, nesse momento de mais subida da minha carreira, uma era onde aponto para o meu lugar de origem. Isso é algo que não passa batido. Engrandece ainda mais esse conceito e ideia de referenciar a zona leste, a minha família, cultura, tudo que tem a ver com a minha vida como alguém que nasceu em São Paulo. A minha pessoa, meu estilo, essa diversidade, multiplicidade que mostro, se justifica também na minha vivência geolocalizada.
Rolling Stone Brasil: De todas as canções de Lady Leste, qual a sua favorita?
Gloria Groove: “Bonekinha” segue sendo [a minha favorita]. Ela carregou algo muito melhor do que podia esperar. “Bonekinha” nasceu antes de várias coisas do disco, mas, como a carro-chefe, ela levou o funk que tem no álbum, o rock, o rap, tudo isso em uma única música. Continuo com esse carinho por ela, porque foi nela que a brincadeira começou. “Bonekinha” foi uma música feita para ser a roupinha da Lady Leste. Sempre vou ter esse amor por essa brincadeira de boneca que foi fazer a música “Bonekinha.”
Rolling Stone Brasil: Você já colaborou com diversos artistas ao longo da sua carreira, mas Lady Leste é o primeiro disco que as parcerias ocorreram com as suas canções. Como foi trabalhar com esses músicos em um projeto tão autoral?
Gloria Groove: Foi surpreendentemente incrível, porque tem gente no disco que conhecia há muito tempo, gente nova que fiz amizade no ano que estava fazendo [o álbum], e pessoas que, literalmente, gravamos a música começando uma amizade e temos uma relação muito breve.
Admiração nos leva para muitos lugares. Assim como tenho no disco a Pri, a Priscilla Alcântara - quem conheço desde criança, e nos reencontrarmos agora, enquanto artistas pop - temos também o Bruno do Sorriso Maroto, quem foi sempre uma referência na minha vida, mas o conheci recentemente para gravarmos a música, o Hariel, quem fui conhecer o trabalho mais profundamente através das minhas amigas, me tornei fã e ele está no meu álbum, e a Marina Sena, quem eu acompanhava há pouquíssimo tempo e se tornou minha amiga em 2021.
Poder trocar com esses artistas [foi incrível], mas, principalmente, mostrar como vou em todas essas vibes, como Gloria Groove, moro em todas essas casinhas. Sou Priscilla Alcântara, quanto sou Hariel e Sorriso Maroto. Eles agregam esse valor gigantesco para o disco, o fato de estarmos juntos e fazer sentido só vem para assinar embaixo e confirmar essa versatilidade artística que venho mostrando um pouco mais profundamente desde o Show dos Famosos. Hoje tenho a autoconfiança e a segurança com o meu texto para fazer isso sem medo de parecer algo que não está direcionado. Acredito que a diversidade é algo que se faz tema na minha carreira em mais de um aspecto.
Rolling Stone Brasil: “A Queda” fala sobre a cultura do cancelamento e as diversas formas que ela pode se manifestar na nossa sociedade. O que você pretende debater com o seu público ao fazer uma música sobre essas questões?
Gloria Groove: “A Queda” segue sendo um fenômeno para mim. Ninguém acredita quando conto, porque a nossa estratégia com a música passou longe de ser algo como: “Vamos fazer o clipe da nossa vida.” Fizemos esse clipe, com esse tamanho e sentido, porque acreditávamos muito nessa mensagem. Achávamos, inclusive, que “A Queda” poderia ser muito ignorada, por tratar de um tema forte.
A ideia de falar e tratar sobre o ódio coletivo - o que acredito ser o terror dessa geração - e a intenção de fazer de “A Queda” um single, era porque ouvimos a música no estúdio e falávamos: “Isso é um filme, precisamos fazer um filme disso.” O Halloween estava chegando, então decidimos fazer [o clipe] nessa época. Tudo foi feito para ser divertido, bom e legal. Não foi pensado para ser um grande sucesso. Talvez por isso tenha feito o barulho que fez, quebrado tantas barreiras. Era um tema que precisávamos conversar há algum tempo, o que tratei em “A Queda.”
Associei o sucesso de "A Queda" não só a música, que é muito bem construída, ou ao vídeo, que é realmente um universo a parte e uma experiência cinematográfica. Atrelo o sucesso principalmente a mensagem que a música carrega, algo atemporal com o qual todo mundo consegue se conectar. Fico feliz demais de ter uma música com uma grande virada de chave. É algo muito gratificante!
Rolling Stone Brasil: Lady Leste conta com músicas voltadas para o pop, funk, rap, pagode. Como foi, como artista, lançar um disco tão múltiplo?
Gloria Groove: Foi empolgante, já tinha vontade de fazer isso! Meus trabalhos anteriores com compilados, geralmente estavam um pouco mais segmentos. O Proceder, apesar de ter pop e R&B, é muito mais hip hop trash, o Affair, era todo focado em R&B. Então, nunca coloquei várias identidades em um projeto fechado.
Tive essa empolgação de pensar que, em Lady Leste, inventaria uma Lady Leste para cada pessoa. Tem essa responsabilidade de fazer algo que pode evoluir para diversos lugares. A faixa com o Sorriso Maroto, pode ir para um lugar onde a faixa com o Hariel não vai, ou a Tasha & Tracie vai para um lugar onde a da Priscilla não vai. Viver isso com a era é muito bom, principalmente com uma era que já começa vitoriosa.
Entrei na era da Lady Leste tendo três símbolos com muitos números, com muita percussão, isso também é algo inédito. Nunca iniciei um trabalho antes de estrear. Quando lancei “Bonekinha” ainda estava no processo de Lady Leste. É uma vitória para mim também, ter conseguido lançar o disco. Imagina se eu não conseguisse? Estava falando disso há um tempão.
Está sendo uma primeira experiência como uma era que nasce antes do nascimento, e, Graças a Deus, uma experiência muito maravilhosa, porque é quase como se estivesse chegando vitoriosa na partida. É muito bom olhar para um projeto inteiro e pensar: ‘Caramba! Consegui fazer uma era pop como eu sempre quis fazer!’
Vivi os anos 2010 enquanto fã de grandes estrondos. Fui fã de Lady Gaga, Beyoncé, RBD, High School Musical, de várias coisas que fizeram barulho no mundo todo. Tinha muita vontade de oferecer um trabalho desse nível para as pessoas que me acompanham, e só consegui fazer isso agora, com Lady Leste. Estou celebrando todos os dias e estou feliz porque sempre quis fazer isso, mas só agora tenho o espaço, a confiança, a condição e tudo que precisava ter para estar aqui agora. É muito bom!
Rolling Stone Brasil: Lady Leste está fazendo o maior sucesso. “A Queda” alcançou o Top 10 em todas as plataformas de música, “Leilão” tem mais de 50 milhões de acessos e você está entre as 10 artistas mais escutadas do Brasil. Como você se sente com esse reconhecimento?
Gloria Groove: É surreal porque, como artista, focamos sempre no próximo passo. Chegar nesse momento, com um novo reconhecimento, no qual tudo está redesenhado, o número de pessoas que me acompanha é muito maior. Estou passando do ponto [de me perguntar:] “Será que vai ou será que não?” ou “Isso vai durar ou não?” Essa sensação é muito boa, porque sinto que não estou fazendo algo efêmero.
Estou contribuindo com a cultura do meu país de uma forma extensa e plural, e sentido que posso contribuir muito mais. Não só canto, eu atuo, danço, não sou só a Gloria Groove, sou o Daniel. Procuro entender isso como sinais de que existe muito mais guardado para mim, mais do que consigo enxergar agora, e do que posso fazer como Gloria Groove.
Rolling Stone Brasil: Tem algum projeto no futuro que você sonha em realizar?
Gloria Groove: Quero realizar muitos sonhos relacionados a música ainda, como cantor, como a própria Glória Groove, quero chegar em lugares inimagináveis. Mas sinto muita saudade da atuação. Amo teatro e cinema e a minha relação com a cultura drag veio através da minha experiência com o teatro musical, então, de certa forma, a Gloria nasce nesse espaço.
A experiência que tive no Show dos Famosos foi muito boa para mim por conta disso. Estava com saudade dessa vivência, de estudar um personagem, uma nova linguagem corporal, um novo timbre de voz, estava muito carente disso por passar tanto tempo enfiada no mundo de Gloria Groove. O Show dos Famosos foi uma ótima sacada, uma janela e faculdade para mim. Aproveitei cada segundo, porque ali estava me desenvolvendo quase como se continuasse o que brequei para poder ser a Gloria Groove.
Conforme for realizando mais sonhos como Gloria Groove, vou retomando os meus objetivos que estavam em paralelo. Meus estudos, tudo que pensei que ainda ia fazer, e que fui surpreendido e ofuscado por essa estrelaque apareceu no meio do caminho. Gosto de fazer tanta coisa, então é assim que vejo tudo isso que aconteceu até agora.
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