- Capa de Grateful Dead, também conhecido por Skull and Roses (Foto: Reprodução)

Grateful Dead: a história centenária - com roubos, poemas e era Vitoriana - do logo da banda

Caveiras e Rosas são a cara do Grateful Dead - e tudo isso surgiu por acaso, dentro de um livro centenário de poemas

David Browne | Rolling Stone EUA Publicado em 05/03/2022, às 18h00

Qualquer pessoa que entrar em uma exibição de arte sobre uma nova era psicodélica em Nova York, eventualmente vai parar e pensar: "Calma, essa é a capa de um disco do Grateful Dead?"

 

Estaria parcialmente correta. Há 30 anos, o artista, curador e colecionador de arte Jacaeber Kastor olhava o leilão de uma galeria e encontrou um desenho a tinta de quase 100 anos que serviu como base para o logo e arte do disco do Grateful Dead. Comprou, e agora a peça (intitulada "Esqueleto Entre Rosas") pode ser visitada pela primeira vez em mais de três décadas em "Field Trip: Psychedelic Solution, 1986-1995", parte da Outsider Art Fair na Metropolitan House, Nova York.

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Desenrolar a saga dessa ilustração é quase tão complicado e estranho quando a própria história do grupo. Em 1966, os artistas Stanley Mouse e Alton Kelley, ambos de São Francisco, formaram uma parceria. Buscando inspirações, iam à biblioteca da cidade para procurar artes raras e pôsteres. 

Naquele ano, foram recrutados para fazer um pôster para o show do Grateful Dead, em setembro de 1966, no Avalon Ballroom. De volta à biblioteca, e às pilhas de livros, encontraram The Rubaiyat of Omar Khayyam, coleção de poemas persas do Século XI. Esta edição em especial, de 1913, tinha ilustrações de Edmund Joseph Sullivan, artista britânico, e uma em particular chamou atenção: um desenho em preto e branco de um esqueleto rodeado de rosas, com uma coroa na cabeça. "Vimos e pensamos: 'Tem Grateful Dead escrito nisso  - precisamos usar," relembrou Mouse. Devido a quão antigo o livro era, Mouse acrescentou: "Parecia com algo de patente vencida."

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O problema é: o livro era tão valioso que não poderia ser tirado da biblioteca. Kelley cortou a página com um canivete, escondido, e levou para o estúdio. Com uma máquina de cópias, tirou uma xerox, e Mouse pintou e adicionou a - agora icônica - logo. (Parte do poema do livro, não usada no pôster, é: "Algo é certo, a vida voa; algo é certo, o resto é mentira.")

Depois de usada nos pôsteres do show, Grateful Dead recortou o crânio e usou para a capa do disco de 1971 (Grateful Dead Ao Vivo, também conhecido por Skull and Roses (Crânio e Rosas), ou o nome que a banda prefere, Skullfuck). A imagem também virou o logo da banda, usado em mercadorias e cartões.

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Por volta de 1993, Kaston, dono da lendária galeria Greenwich Village, foi a um leilão em Nova York de olho em uma arte rara do Velvet Underground. Em outra sala, espiou a montagem de uma prévia de leilão, essa de arte da era Vitoriana.

Lá, estava a arte original de Sullivan, em tinta - cerca de 25 x 18 cm - a mesma reproduzida no livro.

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Kastor, quem viu Grateful Dead tocar ao vivo pela primeira vez em 1967, reconheceu instantaneamente. "Olhei todos esses desenhos, e esse fez travar meus calcanhares," disse, "Pensei "Espera um segundo? Que p**ra é essa? É o esqueleto com rosas! Isso está à venda?" Olhando mais de perto, Kastor percebeu como o desenho incluía algumas partes originalmente apagadas e movidas.

Então pertencente a um colecionador britânico, o desenho original estava de fato à venda. No leilão, Kastor colocou um lance inicial de US$ 10 mil. Quase ninguém mais pediu; comprou por US$ 11 mil. "Essas pessoas eram totalmente Vitorianas. Ninguém entendeu a referência."

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A exposição Field Trip também tem trabalhos de H.R. Giger, Robert Crumb, Rick Griffin, Victor Moscoso, Gary Panter e Robert Williams, entre outros, junto com algo que Kastor chama de uma aquarela "viajada" de 1967, de Joni Mitchell. Mas o desenho de Sullivan destaca-se de muitas maneiras. "Tem um tapete de veludo vermelho e está bem trabalhado," diz o curador Fred Tomaselli. "Está bombadão."

Mouse, agora com 81 e ainda no trabalho, ri enquanto relembra a origem do esqueleto com rosas: "Sou mais famoso por algo que não fiz" Kelley morreu em 2008. Ele tinha um pouco de vergonha pelo roubo ilícito do trabalho, mas agora está tudo bem. "Há uns anos, em uma palestra em uma biblioteca, ele confessou. Riram muito. Imagino se Sullivan riu do túmulo dele."

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Edmundo J. Sullivan (1869 - 1993) Esqueleto Entre Rosas, 1990, Tinta em Tela. Coleção de Jacaeber Kaston. 

 

 

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