Cantora do Paramore assumiu o instrumento em raras ocasiões na carreira solo, mas admite que não suportaria críticas sexistas caso tocasse com frequência
Igor Miranda (@igormirandasite) Publicado em 28/12/2022, às 17h00
Em variadas ocasiões, Hayley Williams mostrou-se bastante consciente de como questões relacionadas ao feminismo são importantes na indústria musical. Infelizmente, a forma como o machismo se faz presente nessa área consegue afetar até mesmo a vocalista de uma das bandas de rock de maior sucesso no século XXI, o Paramore.
Em conversa durante o podcast Face to Face com integrantes do duo indie Wet Leg, formado pelas jovens Rhian Teasdale e Hester Chambers, Williams disse que o receio de ser alvo de comentários sexistas a impede de tocar guitarra nos shows de sua banda. Conforme transcrição da Guitar World, o assunto envolvendo o instrumento foi abordado inicialmente por Teasdale, que disse:
“Acho que, para nós, uma das coisas mais difíceis ou irritantes sobre ser mulher [na música] são os comentários estúpidos na internet do tipo: ‘oh, ela está segurando aquela guitarra, mas na verdade não está tocando’. Às vezes não estou usando minha guitarra, mas preciso tocá-la apenas no refrão, daí sempre tem um comentário: ‘garotas não deveriam tocar violão, mulheres não deveriam tocar violão’. Odeio isso, é frustrante.”
Hayley, então, entrou na conversa para relatar uma experiência própria ocorrida em 2020, quando estava divulgando seu primeiro álbum solo, Petals for Armor. Um dos compromissos da agenda era se apresentar no famoso Tiny Desk Concerts, promovido nos Estados Unidos pela National Public Radio (NPR). Naquela rara ocasião, ela se sentiu à vontade para tocar guitarra, o que “desafiou” os comentários machistas citados por Rhian Teasdale.
“Eu nem toco guitarra no palco, nem me atrevo. Porque eu amo tocar guitarra, mas não sei se aguentaria [esse tipo de comentário]... cara, sinto de forma tão forte o que você disse.”
Vale lembrar que, em estúdio, Hayley nunca assumiu as guitarras do Paramore, mas gravou teclados em todos os álbuns a partir do homônimo de 2013. Além disso, ela registrou guitarras em três músicas de Petals for Armor e em todas as faixas de seu segundo disco solo, Flowers for Vases / Descansos - trabalho onde ela tocou todos os instrumentos.
Em diversas entrevistas, Hayley Williams deixou claro seu posicionamento contra o machismo na indústria musical e na sociedade como um todo. Em entrevista à Vulture, em 2020, ela desabafou sobre o tratamento sexista ao qual foi submetida durante a turnê itinerante Warped Tour, nos Estados Unidos, no início dos anos 2000. Na ocasião, Paramore foi colocado em um “palco paralelo” só para mulheres, mas com estrutura visivelmente abaixo dos demais palcos, e a cantora era até confundida com “a garota que vende merchandising” em seus próprios shows.
“Fomos convidados pela Warped, mas havia uma ressalva: ‘é um palco chamado Shiragirl Stage, com tudo feminino’. Fiquei chateada, pois eu queria tocar no Warped de verdade. [...] O palco era, na verdade, um caminhão com carroceria frágil que tremia e desmoronava. [...] As pessoas ficavam boquiabertas com o show. Ficavam confusos, tipo: ‘Sobre o que ela está cantando? Eu sou um cara, como me relaciono com isso?’ [...] No ano seguinte, o palco era um pouco maior, mas era o ano dos preservativos [a entrada do patrocinador Trojan Condoms]. Jogavam preservativos em minha. Em um dos shows, uma camisinha grudou no meu peito e eu fiquei tão envergonhada.”
Por isso, Williams faz questão de falar sobre feminismo sempre que possível, agora que é uma artista consolidada. “Estou no ponto agora em que, se alguém não pode se chamar de feminista, homem ou mulher, eu fico tipo: o que você é então? Eu gostaria que não tivesse que ser uma palavra: feminismo. Isso é apenas decência comum.”
O posicionamento de Hayley Williams fez com que Paramore decidisse parar de tocar seu maior hit, “Misery Business”, após o fim da turnê de After Laughter em 2018, devido a trechos machistas na letra. Na composição, a cantora narra a história de um homem manipulado por uma mulher, que chega a ser chamada de “p#ta” em um dos versos.
No fim das contas, a decisão não foi levada adiante por tanto tempo: no primeiro show propriamente dito após a tour de After Laughter, no último mês de outubro, eles colocaram a canção de volta ao repertório. O trecho mais controverso da faixa foi cantado pela plateia. Antes de tocá-la, Hayley declarou:
“Quatro anos atrás, falamos que iríamos aposentar essa música por um tempo e acho que, tecnicamente, foi o que aconteceu. Cinco minutos depois de eu ter sido cancelada por falar a palavra ‘p#ta’, TikTok decidiu ‘nos liberar’. Faz sentido?”
Lady Gaga no Brasil: Subsecretário do Rio de Janeiro confirma show da cantora em 2025
Como o Slipknot foi alvo de ódio de outras bandas em sua 1ª grande turnê
SZA promete mais músicas novas logo após lançar o álbum deluxe "Lana"
Beyoncé, Kendrick Lamar e mais: Confira as músicas favoritas de Barack Obama em 2024
Teimosia: MK e Edgar buscam resgatar a essência do rap clássico em EP
Toninho Geraes se emociona durante audiência sobre plágio contra Adele; gravadora encerra reunião sem proposta de acordo