Após receber críticas por "Bicho," Caetano Veloso apostou nas canções em mais um trabalho incompreendido
Marcelo Ferla Publicado em 10/02/2023, às 14h33
O colo de mãe. A capa singela do LP que sucedeu o criticado Bicho, concebida pelo artista visual Aldo Luiz, é um bom retrato do Caetano Veloso do final dos anos 1970. Como quem buscava amparo para a patrulha ideológica que sofria, o artista que tinha chamado os críticos de racistas e preconceituosos repousava nos braços de Dona Canô, a mulher de voz aguda com quem o quinto filho aprendeu a amar o cancioneiro brasileiro dos anos 1930 e 1940. Não por acaso, Muito é focado em canções.
O primeiro LP gravado com A Outra Banda da Terra (o tecladista Tomás Improta, o baixista Arnaldo Brandão, o baterista e violonista Vinicius Cantuária e os percussionistas Bolão, Marcos Amma e Bira da Silva), responsável pelos arranjos musicalmente mais simples e pop, foi massacrado pela crítica e ignorado pelas rádios, vendendo só 30 mil cópias. Soa até nonsense que uma obra com a linda versão para “Eu Sei que Vou te Amar” (Tom e Vinícius), a releitura funk para “Quem Cochicha o Rabo Espicha” (Jorge Ben) e a leitura pomposa para “Muito Romântico”, que Caetano fez sob medida para Roberto Carlos e aqui surge com um coral regido por Perna Fróes, tenha sido tão incompreendida.
Parece mentira que um disco com versos como “De onde nem tempo, nem espaço / Que a força mande coragem / Pra gente te dar carinho / Durante toda a viagem / Que realizas no nada”, da transcendental “Terra”; e que tem a deliciosa “Tempo de Estio”, em que Caetano descreve o verão carioca e diz “Rio / Eu quero suas meninas”; e o samba reggae “Love, Love, Love”, que rende tributo a Pelé e faz um elogio ao brasileiro – “...o Brasil pode ser um absurdo (...), mas ele não é surdo / O Brasil tem ouvido musical / Que não é normal” –, tenha sido considerado um trabalho menor do artista.
Inclusive porque é em Muito que está o samba “Sampa”, uma das mais belas homenagens a uma cidade, que de alguma forma antecipa que já não havia amor em SP, a feia capital “da força da grana que ergue e destrói coisas belas”. E também estão a deliciosamente cafona “Muito”, com arranjo jazzístico, em que Caetano diz que “Eu sou muito louco, muito / Mas na sua presença / O meu desejo / Parece pequeno”; e “São João, Xangô Menino”, singela parceria com Gilberto Gil. Resta aqui apenas parafrasear Cae: vocês não entendem nada!
DESTAQUES: “Terra”, “Muito Romântico”, “Sampa”.
Muito – Dentro da Estrela Azulada (1978) é um dos discos resenhados no Especial 80 Anos de Música, uma edição exclusiva da Rolling Stone Brasil dedicada à Geração 1942, que reúne nomes essenciais da MPB, como o próprio Caetano Veloso, Milton Nascimento, Paulinho da Viola e Gilberto Gil, além de panorama global dos nascidos neste ano. O especial impresso já está nas bancas e nas bancas digitais. Clique aqui para saber mais.
Ouça Muito – Dentro da Estrela Azulada:
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