Rapper lança It Girl (2023), disco de estúdio de estreia nesta terça, 12
Pedro Figueiredo (@fedropigueiredo) Publicado em 12/12/2023, às 21h00
Se rap é compromisso, como diria Sabotage, Mc Soffia é definitivamente uma rapper. Apesar da pouca idade — são apenas 19 anos — a garota já demonstra profissionalismo de gente grande. Com 13 anos de carreia, ela lança It Girl, primeiro álbum de estúdio nesta terça. Mas antes de falarmos do álbum é preciso fazer uma retrospectiva para entender o fenômeno Soffia.
Em conversa com a Rolling Stone Brasil, a artista conta que a relação com a música é ancestral. “A minha família sempre foi movida à música. Eu tinha um bisavô por parte materna que era músico. Ele tocava todos os instrumentos de corda, falava três línguas e trabalhava com isso.” Era desejo do bisavô que alguém da família seguisse o caminho da arte. Os dois não se conheceram, mas o sonho dele se tornou realidade.
Desde quando Soffia era pequena, as pessoas diziam que ela seria artista. A entrada no movimento Hip Hop aconteceu ainda na infância, quando a garota de apenas seis anos passou a frequentar uma oficina chamada Futuro do Hip Hop, idealizada por Vivian Marques.
Nós, crianças, aprendíamos tudo sobre o movimento. Break, grafite, DJ, B-boy, MC — Mestre de Cerimônia. E nessa se deu início ao meu nome: MC Soffia. E aí, assim por diante, canto até hoje. Nunca trabalhei com outra coisa, sempre vivi de música.
“Eu brinco que faço faculdade de música,” reflete sobre os 13 anos de estrada. Todo a trajetória da rapper a preparou para esse momento. Ela lembra das referências e aprendizados adquiridos ao longo do caminho e da importância de cada coisa para a artista que é hoje. “Quem é Mc Soffia? O que ela quer passar a para o Brasil e para o mundo? Porque eu sempre quis ser uma artista internacional!”, revela.
Um dos primeiros sucessos, lançados ainda na infância, “Menina Pretinha” revisitaria um tema recorrente na discografia de Soffia: a autoestima. Na canção, a artista faz questão de exaltar os próprios traços e raízes e leva, de maneira leve e direta, uma mensagem para outras meninas pretas, que nem sempre se veem representadas na mídia.
A rapper conta que sempre foi uma prioridade da família que ela reconhecesse a própria beleza. Desde a infância foi cercada por livros com histórias de personagens pretas, bonecas pretas e “que não tinha gênero. Um dia era menino, no outro era menina.”
A base do conhecimento da autoestima é você ter em quem se inspirar, você se ver. Isso que foi nos tirado: a referência. E o movimento Hip Hop sempre foi isso: música de força, de resistência, de luta pelos direitos. Então eu falava sobre aceitação.
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Ela aprendeu porque deveria amar seu cabelo e se achar linda e queria que outras crianças sentissem o mesmo. Daí nascem os versos potentes da canção: “Menina Pretinha/ Exótica não é linda/ Você não é bonitinha/ Você é uma rainha.”
Soffia ainda lembra da importância de ensinar sobre o continente africano para além das mazelas deixadas pela colonização europeia: “Existiam reis e rainhas no continente africano, que muitas escolas não falam. E existe a lei 10.639/03, que deve se falar sobre a cultura e, se falar, vai ver que nossa cultura é bem mais forte que o navio negreiro.”
A gravação do clipe aconteceu no Rio de Janeiro, com participação das meninas do grupo Pretinhas SA. A cantora relembra a viagem de carro até a capital fluminense e a gravação com uma “camerazinha.” A canção é um sucesso até hoje e a artista conta como vê muitas escolas usando para levar a mensagem para crianças.
“Entrar no movimento Hip Hop me deu essa liberdade de poder falar e inspirar outras pessoas abertamente. Sim, posso fazer música chiclete, mas trabalhar a estética e a letra nessa minha construção foi muito importante,” diz. A imagem é parte fundamental da artista, desde os primeiros passos.
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Seja pela idade, ou pela geração na qual está inserida, Soffia é figura marcante nas redes sociais. E não só isso, gosta de aparecer — da mesma forma que os fãs apreciam quando isso acontece. “A internet fez isso, nós ficamos mais próximos dos nossos fãs,” relata. “Para mim é o máximo.” Ela usa as redes sociais com maestria, com intuito de aproximaros seguidores da artista e da pessoa física.
Ela usa isso também como uma maneira de testar os passos na carreira artística. “Antes de lançar qualquer coisa, eu jogo lá nas páginas para ver como a galera vai repercutir isso.” Ela fez isso para medir a expectativa dos admiradores em relação ao álbum. Foi um jeito de entender que o produto seria bem-aceito pelos fãs.
Em um dos episódios mais marcantes de Soffia nas redes sociais foi a paródia que a cantora fez do hit “Tudo Para Amar Você”, de Marina Sena. As divas já se conheciam e chegaram até a fazer publicidade juntas. Em um dos tradicionais stories se arrumando, Soffia, ao colocar uma minissaia e um cinto — marca registrada da cantora mineira —, achou que estava parecida com ela.
“Eu falei: ‘Nossa, pareço a Marina Sena, porque ela sempre tem essa de usar sainha,” comenta. Então a cantora improvisou uma nova letra para a canção, que chegou até a mineira — e ela postou uma gravação da tela no próprio perfil.
Qual não foi a surpresa de Soffia, quando em um aniversário no qual as duas estavam, e Marina se apresentou, a mineira fez questão de cantar a versão da rapper. Ela chegou a gravar a versão no estúdio, mas ainda não sabemos se ela será lançada — esperamos que sim.
essa aqui é hit @amarinasena pic.twitter.com/n09gSy3IHX
— Mc Soffia (@mcsoffia) August 17, 2023
Há cerca de um ano, Soffia lançou Rapper (2022), EP responsável por nos dar sinais de uma artista mais amadurecida que sabe o que quer. Entre as faixas, a mais emblemática é “Lady da Quebrada.” Além de ser dançante, traz, na letra, uma ideia de quem é a jovem: uma sonhadora pronta para transformar os desejos em realidade.
“‘Lady da quebrada/ A preta é chique’, ela é lady, ela é da quebrada, mas ela é chique. Tem réplica da Prada — e tá tudo bem —, mas em breve ela tá de grife, se ela quiser. Anda de metrô, anda de busão, mas tá ali com a sua lace, com seu mega hair.” Isso também a fez reconhecer o público que cresce e amadurece com ela.
Acostumada a lançar singles, rapper foi uma maneira de atualizar as canções dos shows. O nome foi uma maneira de se afirmar como parte do movimento Hip Hop. A artista chegou a ser aconselhada a deixar esse estilo. “As pessoas falavam para tirar o Mc do nome, mas o Mc foi minha construção,” relembra. Outras diziam que rap não dá dinheiro, “mas eu vou fazer dar!”
Outro ponto que ela levanta é a falta de visibilidade das mulheres na cena. Há quem diga que elas não estão no rap. Mito desconstruído por Soffia que faz questão de enaltecer as colegas e diz sonhar em fazer um feat com todas elas: “Eu queria fazer um set com todas elas, as minas do rap. Pegar um beat f**a e chamar: Slipmami, Ebony, Tasha & Tracie, Luathug, Bivolt, Tássia Reis, Karol Conká, Flora Matos... chamar todas!”
Rapper é o nome do meu EP, onde lancei ‘Lady da Quebrada,’ que fala sobre essa menina da periferia e que é chique. Lancei ‘Realeza,’ bem dançante. ‘Baile na Quadra,’ um afrobeat. ‘Postura de Dama,’ voltando para o amor, na qual falo que estava apaixonada, nem estava, mas só fiz, mesmo. E ‘Novinha da Lancha,’ porque eu também posso ter minha lancha.
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O trabalho foi uma maneira de se fazer enxergar, mostrar que ela é a Mc Soffia, que canta rap. Além disso, a ideia também é inspirar outras meninas a se verem como parte do estilo musical. Aproveitando o clima de copa, a cantora posa na capa com uma roupa com a bandeira do Brasil estampada.
“Para mostrar que a galera usava o look do Brasil para uma coisa que não era para ser,” diz. Sem falar nada, Soffia mostrou poder, referências e deu recados sobre o que pensa em relação a diversos assuntos. Rapper foi o início de uma maturação que presenciamos.
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Ao longo dos 13 anos, Soffia aprendeu e evoluiu, algo bastante natural. A ideia de trazer um álbum foi amadureceu durante essa trajetória. Se o aspecto imagético antes era importante, agora é fundamental.
A Mc não é só uma cantora, é uma fashionista nata: “Decidimos fazer esse álbum, chamado It Girl, por causa disso. Eu vi que é isso mesmo que quero para mim, trazer a moda, a referência da música. Posso lançar um afrobeat, um funk, um trap, um rap. Sou livre, vivo da música.”
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A artista não cresceu somente nos palcos, fez questão de elevar o nível em todos os aspectos. Fez um curso de produção musical para se apoderar ainda mais da própria arte. Quando era pequena, apesar de saber o que queria, não sabia exatamente como se expressar. Hoje, a artista domina mais técnicas, e isso facilita a execução dos trabalhos.
Apaixonada pelos shows, Soffia desenvolveu o disco pensando nisso. Cada música foi pensada para o setlist dela. As canções também se encaixam em temas nos quais a artista gosta de trabalhar: autoestima, estética, paixão. “Esse álbum mostrará muito a Mc Soffia da nova geração.” Uma artista mais focada com entendimento de que esse é o trabalho dela e o que quer passar para os fãs.
Como toda boa It Girl, Soffia também bebe da fonte de referências notáveis. Desde pequena esteve antenada em figuras que marcaram a trajetória e a ajudaram a encontrar o que há de melhor nela mesmo. Na infância, a cantora gostava de acompanhar Willow Smith. “Ela vinha com cabelos diferenciados,” lembra. Ao ver a cantora norte-americana usando black para fazer um moicano, a rapper se inspirou para fazer o mesmo na primeira aparição na televisão, no programa da Eliana.
Outra figura importante na história da cantora foi Karol Conká, que posteriormente se tornou madrinha da artista por um período, levando ela a eventos e gravando no mesmo estúdio. Mais tarde, ela conhece por intermédio de uma amiga a rapper Nicki Minaj. “Quando vi, falei: ‘É ela!’”. Para os shows, ela se inspira em Beyoncé. A maior referência de estilo atualmente é Rihanna. “E aí, um pirlimpimpim, brotei, Mc Soffia,” brinca.
It Girl é um álbum separado em duas partes. A ideia também pode ser classificada como uma característica geracional. Como boa parte das pessoas da idade dela, Soffia não tem paciência de álbuns muito longos, por isso lança seis nessa primeira fase e as outras vem na parte dois.
Ela traz feats importantes para essa primeira etapa, uma delas é da amiga Urias. A artista participou do clipe de “Money,” gravado na casa da tia de Soffia. “Não tinha como deixar fora, ela é a própria it girl, sempre trouxe muita referência de moda e personalidade. Você vai ao show dela e fica hipnotizada.” A faixa “Chica Mala” ainda conta com Marie colaborando com a dupla.
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Em outra canção, colabora com Larinhx, produtora carioca. Além de trazer também Luathug e Amabbi para outras participações. A parte dois também teve feats, mas a artista faz mistério e diz que depende do público engajar com a obra.
O meu primeiro álbum #ItGirl está chegando e eu não estou sozinha! SEGURA ESSES FEATS, FAMÍLIA!🔥
— Mc Soffia (@mcsoffia) December 8, 2023
Dia 12/12 em todas as plataformas digitais! 💙
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Soffia revela que podemos esperar um espetáculo a partir do lançamento de It Girl. Ela não esconde as ambições: “Quero ser a rapper mais ouvida.” Ela adianta também que uma das faixas, “Ref Delas,” ganhará clipe. Ela também quer que o álbum renda premiações. “Eu amo prêmios, quero ter estantes e estantes.” Soffia mostra determinação, não apenas para lançar um disco, mas para fazer história.
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