Beauty In The Silence, do SOJA, estreia em 24 de setembro e fala, principalmente, da recuperação da conexão humana, segundo Jacob Hemphill
Marina Sakai (sob supervisão de Yolanda Reis) Publicado em 19/09/2021, às 18h00
O verão na Flórida (EUA) é muito quente — 36 ºC às 10h da manhã, para ser mais específico. A informação veio de Jacob Hemphill, que tinha um dia cheio de entrevistas para variar a rotina da pandemia: comer, levar o cachorro para passear, andar de bicicleta, ir ao supermercado e repetir. O vocalista comanda a banda de reggae Soldiers of Jah Army, mais conhecida como SOJA, a qual lançará Beauty In The Silence, o primeiro disco em quatro anos, em 24 de setembro de 2021.
Dizer que Jacob está animado com o novo projeto é aliviar a situação. Depois de tantos meses em casa seguindo os protocolos de segurança e isolamento contra a covid-19, o artista sente saudade dos fãs, da vida na estrada e, acima de tudo, da conexão humana. Em entrevista à Rolling Stone Brasil, o vocalista dividiu um pouco sobre as relações dentro do grupo, o conceito do disco e como seu pai influenciou sua relação com a música.
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A Soldiers of Jah Army foi criada em 1997 no Condado de Arlington, em Virgínia, nos Estados Unidos — é uma relação de quase 25 anos entre os integrantes, os quais se conheceram na escola. Jacob foi introduzido ao baixista Bobby Lee Jefferson no primeiro dia do Ensino Fundamental, e a dupla conheceu Ken Brownell e Patrick O'Shea (percussão e teclado, respectivamente) nos anos seguintes. O baterista Ryan "Bird" Berty, por sua vez, entrou para a banda no Ensino Médio.
O segredo da longevidade, de acordo com o vocalista, pode ser dividido em duas frentes. A primeira, claro, é amizade — é difícil sustentar uma relação tão duradoura e intensa sem a presença dos melhores amigos. A segunda é objetividade, saber o papel de cada integrante dentro do grupo.
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Jacob fez uma comparação a um time de futebol para exemplificar: "Cada um é especialista em uma parte do jogo. Sou bom em escrever palavras e melodias, é o meu trabalho. Bobby é mais carismático, tem uma dança diferente para cada música, Hellman Escorcia [saxophone] e Rafael Rodriguez [trompete] sabem ler partituras, e eu não sei fazer isso." O importante é saber reconhecer as qualidades em cada um e conseguir abdicar dos holofotes em prol do sucesso da banda; é puramente trabalho em equipe, nas palavras do vocalista.
“A maioria das perguntas em entrevistas minhas sempre voltam ao meu pai,” brincou Jacob. É verdade. As influências musicais e pessoais do vocalista vêm da figura paterna, que foi, inclusive, quem o ensinou a tocar violão e piano na infância. Aprendeu com ele a tocar as escalas maior e menor, primeiro, e depois os power chords e quais notas combinavam com quais. "Quando entendi, parei todas as aulas e comecei a compor. Só aprendi para poder escrever, não ligava muito para tocar por diversão. Para mim, os instrumentos são um veículo."
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Seu pai era um homem sério, e construiu uma carreira longa no Fundo Monetário Internacional (FMI). Passou a vida morando em países diferentes, o que explica a criação de Jacob em países africanos. Apesar disso, tinha um sonho de ser músico profissional, e quando o filho o realizou, transmitiu a mensagem mais importante para o vocalista: "Quando percebeu que eu ia a lugares como o Brasil, Havaí ou a França, me disse: 'Jacob, você tem um microfone e pode usá-lo para cantar sobre sexo, festas, drogas ou dinheiro. Pode fazer isso e será popular. Ou, pode usá-lo para tentar tornar o mundo um pouquinho melhor."
A partir de então, o vocalista decidiu cantar e escrever apenas sobre assuntos que importam para a raça humana, mas de uma perspectiva otimista, pois "quando chegar ao final da sua vida, não pensará em quanto dinheiro ganhou, pensará se mudou o mundo de algum jeito."
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Com o trabalho no FMI, o pai de Jacob passava muito tempo longe de casa e sabia como era perder casamentos, aniversários, nascimentos e mortes. Antes de sair para turnês, o vocalista sempre se despedia do pai, quem recitava os dois primeiros versos do poema Desiderata, de Max Ehrmann, em seu ouvido: "Go placidly amid the noise and haste / and remember what peace there may be in silence" (Vá placidamente em meio ao barulho e pressa /
e lembre-se de que paz pode haver no silêncio, em tradução livre).
O poema é o preferido de Jacob, e os versos ficam pendurados na parede de seu quarto. Daí veio a inspiração do oitavo disco da banda, Beauty In The Silence. Após muitos meses em casa, seguindo o isolamento global causado pela pandemia de covid-19, o vocalista descobriu um novo jeito de viver. "Estamos reaprendendo a ser humanos depois de tudo isso, porque o ponto da vida humana é conexão, é ter uma conversa de duas horas com seu melhor amigo. Esse álbum tem esse nome para tentar inspirar as pessoas a encontrar a beleza no silêncio, porque está em toda parte."
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Por último, Jacob mencionou a melhor parte de Beauty In The Silence: a música "The Day You Came,” em parceria com UB40 e Rebelution. O cantor tem uma forte relação com a banda de reggae autora da canção "Red Red Wine": aprendeu a tocar instrumentos com o disco Labour of Love II (1989), são como ídolos. "Quando escrevi a música, estava tentando escrever uma música do UB40, de verdade: são complexas e simples ao mesmo tempo, são tristes e felizes. É sempre os dois lados da moeda, como a vida." O empresário do SOJA organizou a parceria e, quando ouviu o vocalista Ali Campbell cantando as palavras que havia escrito, Jacob descreveu como "o que mais tenho orgulho na vida."
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