No país para quatro shows da turnê Ellipsis, artista conversou com a Rolling Stone Brasil sobre a paixão pela música e os brasileiros
Henrique Nascimento (@hc_nascimento) Publicado em 19/09/2024, às 13h00
Aos 37 anos, mãe de Violet e Shackleton, com mais de uma dezena de álbuns lançados e incontáveis viagens pelo mundo, Joss Stone não é mais a mesma adolescente de 20 anos atrás, que surpreendeu ao entoar canções de grandes artistas como Aretha Franklin, Waylon Jennings e The White Stripes em seu primeiro álbum, The Soul Sessions, com a voz e a alma de lendas do soul.
Se uma garota de 16 anos da Inglaterra não sabia nada sobre dor — crítica que Joss faz questão de relembrar no medley de abertura do álbum ao vivo 20 Years of Soul, lançado em junho —, hoje a artista sabe que, apesar de uma letra sofrida aqui ou acolá, a sua música faz bem para os seus fãs, que seguem ao seu lado mesmo duas décadas depois:
"Sinto que crescemos juntos, porque as nossas idades são as mesmas, certo? Nós passamos por tanta coisa, todos esses álbuns e momentos diferentes. Nós fizemos isso como um time, de certa forma", afirmou Joss em entrevista à Rolling Stone Brasil.
Com uma voz que a coloca automaticamente entre os melhores vocalistas do mundo, a artista acredita que a sua vocação é usar a música para cuidar das pessoas: "Eu sei que as pessoas gostam [da música], então eu acredito que seja o meu propósito. Todos têm um propósito diferente", declarou. "Eu quero que as pessoas se sintam bem. Eu quero que as pessoas se sintam ouvidas, entendidas e confortadas, e eu gostaria de fazer parte disso."
"Então, cantar, para mim, tem sido a forma mais mágica de fazer isso. Eu vejo que as pessoas têm uma sensação de alívio. Quando eu estou no palco, eu consigo ver as pessoas na primeira fileira. E eu falo: 'Como você está? Nós estamos passando por isso juntos'. E eu as vejo cantando comigo e se divertindo", continuou Joss.
"É uma loucura quanto prazer pode vir de uma coleção de notas musicais reunidas. É mágico. É muito mágico. E, para mim, é fácil de fazer isso. Então, é por essa razão que quero continuar a fazer isso. Acho que é parte da magia. Magia de verdade, não aquela inventada", completou.
Começando nesta quinta-feira, dia 19 de setembro, com uma apresentação no Rock in Rio, Joss Stone traz ao Brasil a sua turnê mais recente, Ellipsis. Batizada em referência às reticências — os três pontos ao final de uma sentença, que empregam continuidade à frase —, a ideia é navegar livremente pelo seu repertório: "Uma continuação da diversão", como definiu a própria artista.
"Após [a turnê] 20 Years of Soul, [que celebrou vinte anos do lançamento de seu primeiro álbum], nós não sabíamos para onde ir. Nós pensávamos: 'Bom, isso foi incrível para caralho. Deveríamos fazer isso de novo?'", relembrou.
"Todos fizeram campanha para que eu continuasse com a turnê de 20 anos. E eu, sendo bem literal, não conseguia fazer isso. Eu falei: 'Pessoal, são 21 anos [agora]. Não podemos celebrar 20 anos no 21º ano. Isso é estranho.' Então, eu disse: 'Não, nós precisamos fazer um show novo'", acrescentou.
Na nova turnê, Joss ainda celebra os seus 20 anos de carreira, mas de uma forma diferente: "Eu decidi aproveitar a oportunidade para tocar músicas que eu não toco há um tempo. Nós meio que tiramos a poeira de algumas delas", revelou.
"Uma que eu amo é Stoned Out Of My Mind. Essa é realmente descolada e está no The Soul Sessions: Volume 2 [de 2012]. E eu não a tocava há eras", adiantou Joss. "E há outra que eu venho evitando ativamente por, provavelmente, 15 anos. E as pessoas pediam muito por essa música. A música se chama Spoiled."
"Todos amam essa música, mas eu não queria cantar, porque eu tinha uma emoção muito grande ligada a ela. E havia tanto naquela música que me machucava. Então, ao longo dos anos, as pessoas pediam para tocar Spoiled e eu fingia que não os ouvia. Eu evitava", esclareceu.
"Essas músicas não surgem do nada, elas vêm de uma experiência que eu quero esquecer, ou uma experiência bonita, mas que deu errado. E então eu não conseguia mais cantar, porque eu pensava na beleza [da experiência] e eu não queria mais pensar", continuou Joss. "Porém, agora, muitos anos se passaram e eu realmente superei. Eu realmente superei a dor. Agora eu posso voltar para o amor."
Além dos clássicos, Joss também quer trazer novidades para o público. À pedido da filha mais velha, Violet, a artista pretende lançar um disco dançante, inspirado por artistas do soul dos anos 1970, como Marvin Gaye, e disco music:
"Minha filha me mostrou muito claramente que ela gosta de dance music. E, como você sabe, eu nunca fiz dance music. Eu toquei todos os tipos de soul music, mas ela está obcecada por dance music. E, então, o meu filho também pediu por dança, dança, dança. Tá bem, dane-se. Vou ter que gravar um álbum dançante", contou.
Ainda que o álbum ainda seja apenas uma ideia, Joss pretende acrescentar algumas novidades nas apresentações no Brasil: "No show, eu tenho uma das [novas] músicas, que é basicamente sobre dançar até espantar a sua dor. Porque, às vezes, você precisa fazer isso. Se você está tendo um dia ruim, você precisa ligar uma música alta e dançar até passar. Só se livrar daquela merda", explicou.
"Então, eu peguei um trecho e o refrão, que é sobre estar com as suas amigas, e eu meio que enfiei no meio de um medley de disco. Nós temos essas músicas antigas, que todos conhecem, celebrando disco como um gênero musical, e eu coloco uma música minha ali", completou a artista.
Além de se apresentar no Rock in Rio, Joss Stone leva a turnê Ellipsis para Ribeirão Preto, em São Paulo, no sábado (21); para Belo Horizonte, em Minas Gerais, no domingo (22); e encerra mais uma passagem pelo Brasil novamente em São Paulo, no Espaço Unimed (Rua Tagipuru, 795 - Barra Funda), na terça-feira, dia 24 de setembro — os ingressos para a última apresentação seguem disponíveis.
À Rolling Stone Brasil, a artista, que já veio diversas vezes ao país desde a sua estreia, em 2008, revelou que continua voltando por causa dos brasileiros, que não são tímidos ao demonstrar que sabem aproveitar um bom show:
"Todo país tem uma cultura e uma reação diferentes. Se estamos em um país com uma cultura diferente, e as pessoas são um pouco mais rígidas, pode ser muito intimidador para nós. A experiência é menos agradável, porque nós pensamos: 'Ah, meu Deus, eles estão felizes? Estão tristes?' Às vezes, você vai a algum lugar e o público literalmente senta lá e você pensa: 'Meu Deus, eles estão odiando'", explicou a artista.
"Você não tem esse problema no Brasil. Não há a menor dúvida de que as pessoas estão tendo um momento agradável. É como uma validação do que estamos fazendo", acrescentou Joss. "Quando você vai ao Brasil, eles dizem que estão gostando. Então, você se sente mais confortável. Acho que você se sente mais aceita e menos amedrontada. É uma experiência diferente."
"É por isso que eu volto. E é por isso que eu me sinto em casa, porque vocês não me fazem me sentir como uma estranha. Vocês me fazem me sentir como parte da família. Eu sou apoiada", completou a artista.
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