André Abujamra relembra os bastidores de álbum clássico de 1995, eleito por duas vezes como um dos melhores discos de rock do continente pela Rolling Stone; banda se apresenta dia 20 no Blue Note SP
Eduardo do Valle (@duduvalle) Publicado em 11/06/2024, às 12h06
"O Karnak é a única banda com um cachorro que subiu no Pão de Açúcar e a única banda brasileira que, apesar de não ter estourado, ficou antes d'Os Mutantes na lista da Rolling Stone." André Abujamra lembra da surpresa e da comoção com que recebeu a notícia da entrada de Karnak (1995), disco de estreia de sua banda homônima, na sétima posição entre os melhores álbuns de rock latino da Rolling Stone.
O ano era 2012 e, àquela altura, duas décadas se passaram desde o regresso da viagem definitiva que lançou André ao mundo após o fim d'Os Mulheres Negras, seu duo com Maurício Pereira. Das experiências entre a Espanha e o Egito - onde conheceu o Templo de Karnak - trouxe na bagagem os áudios gravados em fita por diversos lugares mundo afora. Trouxe também uma ideia - a de fazer a banda "mais pop do universo": "Achei que ia ser tipo um Phil Collins."
O Karnak não foi um Phil Collins, mas trazia seu próprio Face Value: reunindo 11 músicos, dois atores e um cachorro - o saudoso Jeton -, eles apresentariam no início dos anos 1990 um rock de diferentes influências e aspirações. Um trabalho que dobrava as apostas antropofágicas de uma geração com as andanças cosmopolitas e a performance teatral de Abujamra.
Lançado pelo selo Tinnitus, de Pena Schmidt, Karnak chegou ao público em 1995. Nos créditos do disco, nomes como Chico César, Tom Zé, Marisa Orth, Lulu Santos, Paulo Miklos e Paulinho Moska dividiam espaço com a trupe, que lançava mão do pop alinhado com o rock, o jazz, o reggae e os sons de lugares distantes - mas com um aviso: "Karnak não é World Music!", como adiantava o próprio encarte do álbum.
No caldeirão do Karnak, Abujamra e os companheiros adicionara "muita loucura". Nas letras, "Lee-o-Dua" e "Hymboraewqyeyra" sugeriam alternativa ao rigor temático, enquanto "Alma Não Tem Cor" e "O Mundo" cantavam as aspirações globais do grupo - a útima, aliás, ganharia ótimas versões nas vozes de Paulinho Moska e de Ney Matogrosso.
Sonoramente, o Karnak trouxe para dentro da estreia os sons de um mundo que o estúdio desconhecia: "Tem a risada da minha tia Celina, que morreu. Desde pequenininho ela olhava para mim e dava risada. Ela não podia olhar para mim que ela ria. Uma graça. Aí eu falei: 'tia, eu vou botar você no meu disco'".
Karnak ainda incluiu a participação do diretor e apresentador Antônio Abujamra, pai de André, com uma declamação antológica na faixa de encerramento do álbum ("Cala a boca menino", que ainda inclui Marisa Orth e Tom Zé) e também com um sample de um álbum de música africana: "Um disco de 1930 e alguma coisa, das primeiras gravações dos africanos. Então tem uma música que o Chico César fez quando veio para São Paulo que tem esses caras cantando na introdução."
Hoje, diversas das camadas incluídas no disco acabaram perdidas junto com a master de Karnak - exceto pela lembrança dos músicos: "Eu me lembro de tudo", garante André. Para quem for "meio nerd" e curioso, ele recomenda hoje o uso de programas de inteligência artifical que abrem os elementos das músicas digitalmente: "é inacreditável as coisas que que você consegue escutar abrindo".
As aspirações pop, enquanto gênero, acabariam superadas: "É um disco que tem muita informação. Eu acho pop, mas não é pop porque tem muita informação". Mas Karnak caindo no gosto popular - elevados por uma MTV Brasil que ainda apostava na legimitidade, quanto pelas boas vendas, de mais de 50 mil cópias, que extrapolariam mesmo as fronteiras do país:
"Lá pelos anos 2000, a gente tocou muito nas estações de radios lá dos Estados Unidos. A gente fez muito show lá. Você tem duas bandas brasileiras que tocavam para um público que não era brasileiro, que era a Marisa Monte e o Karnak - era raríssimo."
O sucesso fora do Brasil os colocaria, anos depois, nas páginas da Rolling Stone. Eleito em 2012 pelo especialista em música latina Ernesto Lechner como o 7º entre os 10 melhores álbuns de rock latino de todos os tempos, Karnak seria o nome brasileiro melhor rankeado na lista - à frente de ninguém menos que Manu Chao, Os Mutantes e Santana.
"Teve muita crítica positiva e muita crítica negativa por causa disso [do posicionamento à frente d'Os Mutantes na lista de 2012]. Mas o primeiro disco do Karnak é, modéstia à parte, um marco. Eu voltei do Egito em 91, 92, e já sampleava, colando fita K7 com fita adesiva", diz André.
Em 2023, a mesma Rolling Stone atualizaria e ampliaria o ranking do rock latino. Dessa vez, Karnak acabaria atrás de Os Mutantes (1968, na sexta posição) e de Clube da Esquina (1972, no quarto lugar). Na 17ª posição, porém, o álbum seguiria reconhecido por sua singularidade: "Uma estreia ampla, cosmopolita e amplamente comovente", diz a revista. "O álbum mais criminosamente subestimado da América Latina"; ou "dolorosamente à frente do seu tempo", afirma a crítica dramática e até hiperbólica - como o próprio Karnak nunca deixou de ser.
No próximo dia 20 de junho, Karnak é a atração do Rolling Stone Sessions no Blue Note SP. No palco da cada paulistana, a trupe celebra as três décadas do sucesso e também o reconhecimento renovado pela Rolling Stone em 2023. Os ingressos estão à venda no Eventim.
Em show especial, a banda homenageia Eduardo Cabello, um dos músicos fundadores da banda, que partiu este ano.
No repertório, “O Mundo Muda” - parceria de Eduardo Cabello com Abujamra, “Ai, aí, aí, aí, aí, aí, aí”, “Zoo”, “O Mundo”, “Juvenar” e outros clássicos que não podem faltar num show karnakiano.
“O Karnak fala de coisas sérias, mas as pessoas vão ao show e começam a rir. Somos engraçados no palco, mas se a pessoa parar para prestar atenção, vai entender que o que falamos é muito sério e continua atual”, diz André Abujamra.
A banda é formada por André Abujamra (Guitarra e voz), Carneiro Sandalo (Bateria), Kuki Stolarski (Bateria), Luiz Macedo (Guitarra e voz), Mano Bap (Guitarra e voz ), Eron Guarnieri (Teclados), Sergio Bartolo (Baixo), Marcos Congento (Voz, trompete e flauta), Marcelo Pereira (Sax e voz) e Maestro Tiquinho (Trombone).
Ingressos à venda em eventim.com.br/karnak.
Data: quinta-feira, 20/06/2024
Abertura da casa: 19h00
2 sessões: às 20h00 e às 22h30
Local: Blue Note São Paulo
Endereço: Avenida Paulista, 2073 - 2º Andar - Consolação - São Paulo, SP
Ingressos em Eventim: eventim.com.br/karnak.
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