Dois anos após o lançamento do álbum que o levou a ser nomeado para o Grammy Latino, o rapper revisita e amplia o projeto
Pedro Figueiredo (@fedropigueiredo) Publicado em 20/04/2024, às 08h00
Criar um conceito, trabalhar nas composições, entender o caminho para se contar uma história ao longo de um álbum. Nada disso é simples. Ampliar esse universo, pode parecer ainda mais complicado. Isso, no entanto, não parece um obstáculo para Kayode.
O rapper, indicado ao Grammy Latino pelo formidável Flow da Pele (2022), retoma o que havia feito antes, mas com mais profundidade. Assim nasce Flow da Pele (Deluxe), lançado dois anos após o álbum de estreia do artista.
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Antes de falarmos do álbum, é importante entender o momento do artista. Kayode falou com a Rolling Stone Brasil após ser indicado e um algumas semanas antes da cerimônia de premiação do Grammy Latino. Algum tempo depois, o artista classifica a experiência como "muito boa", ainda que não tenha trazido o prêmio para casa.
"Tanto eu quanto meu produtor nunca tínhamos saído do país. Apesar de não termos ganhado o prêmio, a nomeação foi muito além das nossas expectativas," relembra. O nome dele entre os indicados também endossa a qualidade do trabalho artístico e ajuda a mostrar a força do artista para o cenário nacional.
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Kayode vê a versão deluxe do álbum como a expansão de um universo musical que ele criou há mais de dois anos. "Eu descobri muita coisa que não sabia que podia fazer. Entendi referências e consegui trazer isso melhor e um pouco antes da nomeação entendi que Flow da Pele era 20%, 30 % do que eu tinha produzido naquele período.
A nova versão do projeto nasce a partir daí. O artista trouxe colaborações que ele e Paiva — produtor do álbum entenderam como compatíveis com o conceito da obra, trazendo mais força para um trabalho que se constrói a partir da potência.
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O rapper revela que não tinha a intenção de lançar o deluxe desde o princípio. Isso era causado por uma insegurança. "Eu não fazia a menor ideia de qual seria a aceitação e da leitura que as pessoas iriam ter daquilo," explica.
O material que produzimos veio muito dessa insegurança. Queríamos fazer algo grandioso, mas não sabíamos imaginávamos Grammy, não passava pelo nosso imaginário.
O artista se sente mais seguro hoje, por um lado. Mas reflete que enquanto homem preto, a nomeação ao prêmio não o valida em todos os espaços. ''Não é uma parada que mudou minha vida financeiramente, por exemplo." Ele ressalta que segue na luta.
Outro ponto interessante são as colaborações que o álbum novo traz. Ao longo das 11 faixas, Kayode divide canções com nomes como Rincon Sapiência, Sotam, Neguinho do Kaxeta,
Coruja BC1, El Coffee, Onnika, Anarka MC, Galo de Luta, Wesley Camilo, Gigante no Mic e
Sharif Shabazz.
Além de acompanhar — e admirar — o trabalho de cada um desses artistas, o músico usou como critério trazer pessoas da cena underground. "Os convites foram feitos como fazemos para um amigo," explica o artista.
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"Se tem uma coisa que aprendi, desde a minha entrada na Yalla Rec. em 2019, foi a me desenvolver artisticamente," reflete. Mas isso não faz com que o artista se sinta pressionado pelas expectativas de terceiros.
Eu não tenho muito o intuito de agradar, ou impressionar as pessoas. Acredito que arte é exatamente o contrário. É mais sobre incomodar.
O trabalho de Kayode também é marcado pela preocupação com as imagens e os visuais tanto quanto com as palavras que canta. Não à toa, "Podcast/Pedra da Memória" foi indicado a Melhor Vídeo Musical - Versão Curta. O artista explica que sempre teve um apreço pelo audiovisual e aprendeu muito sobre isso na Yalla.
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"Eu pretendo continuar produzindo e me desenvolvendo. Era algo que já existia, mas que aflorou lá dentro," relembra. Ele considera importante participar de todas as etapas do trabalho e às vezes já compõe pensando na imagem que vai ilustar as palavras que idealiza.
O processo criativo de Kayode passa pela inspiração de maneira mais distante. O que realmente o motiva é a sensibilidade com o que está ao redor dele. "Se eu estou em um ambiente caótico, a tendência é que eu produza algo com um teor um tanto caótico, ou um contraponto, algo extremamente calmo, para questionar aquele caos todo."
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Voltando ao Deluxe, o trabalho se mostra não só uma expansão do primeiro álbum, mais um complemento. O rapper endossa isso ao falar de como a obra carrega uma diversidade rítmica e criativa de cada faixa.
Kayode fala ainda sobre levar o trabalho para a estrada. Apesar de se mostrar preparado para isso, ele não acredita que propostas devem acontecer com frequência. "Justamente pelo teor ideológico do álbum. A minha saída da Yalla também está me fazendo reestruturar essa parte empresarial e comercial da parada."
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O rapper também se mostra animado para colocar mais projetos na rua e estar nos palcos com mais força. Kayode vem se conhecendo nos últimos anos como artista e adquirindo experiência para alçar voos mais altos.
Se o que ele mostrou até o momento é uma amostra do que veremos no futuro, não vamos demorar a ver o nome de Kayode indo cada vez mais longe. E torcemos para isso.
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