- Kenny G toca sax em volta da piscina (Foto: Divulgação / HBO)

Kenny G busca nada além de perfeição - e alcança amor e ódio - em documentário sobre carreira do astro do jazz [ENTREVISTA]

A vida e sucesso de Kenny G são assunto do Music Box, série documental da HBO; em entrevista, o compositor de jazz fala sobre perfeccionismo e segurança

Redação Publicado em 04/12/2021, às 18h00

Se você conhece Kenny G, há grandes chances de o amar. Ou o odiar. São ambos caminhos válidos para quem cruza o caminho do astro do jazz e musicalista com mais vendas da história. Penny Lane (diretora cinematográfica, não aquela dos Beatles) tenta explicar o porquê em Listening to Kenny G, episódio de Music Box, série documental da HBO.

 

Em uma hora e meia, Lane conversa com pessoas próximas a Kenny G, além dele próprio, para apresentar a vida do músico. A obra, conforme descreve a sinopse, "apresenta uma visão bem humorada, porém incisiva, do instrumentalista mais vendido da história - e possivelmente um dos músicos mais famosos."

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Kenny G, nascido nos EUA, destacou-se no saxofone ainda na infância. A carreira profissional começou nos anos 1970, quando tocou com Berry White. Durante os anos 1980, ganhou relevância a partir de "Songbird" (1986). Em festivais e apresentações, conquistou simpatia e admiração de outros gigantes do jazz, como Miles Davis, de quem lembra com carinho.

O compositor lançou, na sexta, 3, New Standards, o primeiro disco em seis anos. Com 11 faixas inéditas, buscou resgate do jazz dos anos 1950 e 60. "Emeline", primeiro single, entrega mais de três minutos do sax sensacional de Kenny. O álbum está nas plataformas digitais.

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Em entrevista, Kenny G contou sobre as dificuldades do perfeccionismo, e as críticas duras direcionadas a ele há mais de 30 anos. Confira:


Por que você quis fazer esse documentário?

Na minha idade, e onde estamos no mundo, quando você tem uma chance de ter essa exposição, é importante aproveitar, se você se importa com o rumo da própria carreira. Isso é uma boa oportunidade de expandir minha exposição além de fazer discos e shows. É diferente para mim, e algo completamente novo. Esperançosamente, vai manter minha carreira pelos próximos 20, 30 anos.

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Não precisei pensar muito. Foi um "sim" fácil, especiamente depois de conhecer [a diretora] Penny Lane, e ela comentar a ideia para o filme. Pensei: "Isso é bem verdade, tem um grupo de pessoas muito triste com meu sucesso. Mesmo assim, fiquei 40 anos aqui e vi pessoas realmente aproveitando minha música. Sei da onde minha música vem - do coração - e faço do meu jeito. Estou feliz com meu processo como músico e letrista. Me senti bem, e pensei que seria uma história legal para contar.


Qual era a ideia completa de Penny para você?

Ela disse algo como: 'Você é muito popular pelo mundo, as pessoas amam sua música, e mesmo assim existe um grupo de pessoas muito incomodadas com seu sucesso. Quero descobrir o motivo." Pensei: "Isso é muito bom. Acho que sei porquê, ouço essa mesma fala básica desde o meio dos anos 1980, quando comecei."

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Contei uma história que não estava no filme, mas vou te contar para mostrar como nunca me importei: toquei no Saratoga Jazz Festival nos anos 1980, eu estava no mesmo dia de Miles Davis e Dizzy Gillespie, todo tipo de figurão do jazz. Ninguém conhecia minha música naquela altura, porque eu estava começando a fazer sucesso. Toquei no festival com todo mundo, e aí li a review: "Wow, esse cara é novo, inovador, e um ótimo músico. Virtuoso." Todos esses elogios. Pensei: "ok, legal."

Um ano depois, meu disco da época tinha vendido umas 5 milhões de cópias. Virei um sucesso comercial. Pediram para eu voltar ao festival, e eu fui. Lembrei a setlist do ano anterior, e como tinha ido tão bem, queria repetir - mas esperançosamente tocaríamos melhor, porque tivemos um ano a mais de prática. E arrasamos.

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Quando lemos a review do segundo ano, depois de ter feito sucesso, era: "Nossa, Kenny G se vendeu. A música dele é cheia de frufru, e não tem substância." Foi quando pensei: é isso. Não tinha a ver com minha habilidade no sax, e sim com a percepção de como o sucesso não deixa a gente dizer que ele é cool, ou apoiá-lo. E esse é o ponto, por isso as críticas não me incomodam. Porque vejo como é subjetivo, baseia em uma ideia pré-concebida e não tem a ver comigo. 


Em algum momento da história as críticas te abalaram?

Nunca. Nunca. Uma vez, pude abrir para Miles Davis em Nova York, hpa uns 30 anos, no Lincoln Center. E no meio do meu set, Miles veio e disse: "Gostei essa música, você está ótimo." O Miles Davis me elogiou! Por que diabos eu ouviria um crítico de jazz? Não acha que o Miles Davis tem uma influência maior em mim? Estive perto de muitos gigantes do jazz - George Benson elogiou meu sax várias vezes. Nenhum crítico significa algo perto disso. Sinceramente? Mesmo se esses caras não gostassem da minha música, eu ainda faria.

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Uma hora, no filme, você diz para Penny: "Meu problema é querer ser a melhor entrevista da sua vida. Se isso significa ficar aqui por 12 horas sem comer ou beber, é meu problema." Por que você exige tanto de você, e dá tanto para os outos?

Sim, isso pode soar maravilhoso, mas é um problema. Meu problema é: eu me oriento por resultados. Então, quero perfeição a qualquer custo. E esse custo as vezes é me machucar fisicamente. Se ficar sem comer ou beber por 12 horas... Não quero fazer por 12 dias, mas 12 horas eu faço. É um problema em alguns momentos, mas ótimo em outros. Posso treinar, treinar e treinar, e minha disciplina me melhora, e melhora minhas habilidades.

Mas de vez em quando me deixo para depois, e só quero resultado. Tenho uma nova filosofia, agora, desenvolvi no último ano: pode não ser o melhor resultado, mas foi o meu melhor. É pela tentativa, darei meu melhor. E se 12 horas for meu máximo... Antes, eu [insistiria]. Mas agora, o que será, será.

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Seu novo disco chama New Standards, e tem uma colaboração com "o som" de Stan Getz na faixa "Legacy". Como isso surgiu, e porque foi importante pra você juntar essas músicas?

Sou um grande fã do Stan Getz. Ouço o disco dele, Getz For Lovers, há uns sete ou oito anos sem parar, quase todo dia. Pensei em como poderia incorporar isso, um tributo póstumo. Depois de assistir este filme, pensei: "Wow, se não gostaram [da colaboração de Louis Armstrong em "What a Wonderful World"], vão odiar essa! Será horrível pros caras do jazz!

Mas era só uma ideia. Achei umas anotação do Stan Getz, e montei em uma melodia minha, para fazer parte de uma música minha, e aí fiz uma parte de dueto. E pensei, sabe, gostaria de honrá-lo ao mostrar o som dele para meu público - é grande. Existe maneira melhor de mostrar respeito do que exposição? Talvez ajude o legado. Falei com o filho dele, a esposa, a família, e todos amaram. Ficaram muito animados. Para mim, é uma honra.

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Tecnologicamente, existe o fato de conseguir fazer algo assim. Ele não tocou nenhuma melodia. Eu não fiz o dueto com alguma música existente dele. É uma composição totalmente nova, comigo criando notas dele para tomar minha música. É fantástico.


Outra pessoa que apareceu no filme foi Bill Clinton, um conhecido fã seu, e do sax. O quão bem o ex-presidente dos EUA tocava?

[Risos] ele era OK. E ficaria feliz deu dizer isso. Ele estudou Sax na faculdade, era relativamente bom nisso, mas a política dominou. Ele não tinha o luxo de praticar por três horas como eu fazia. Então, não conseguia ser tão bom. Mas fizemos um dueto há muitos anos, e ele fez um bom trabalho.

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Você disse: "Sou todo sobre detalhes. Tudo que tentei fazer bem, ficou bom." No que você é ruim?

Bom, sou ruim em várias coisas. Mas só não as faço!


E o que te frustra? O que gosta e queria ser melhor?

Gosto de boliche, curto. Mas não sou bom. E o problema com isso, quando jogo fico falando pra quem está comigo: "Vou fazer aulas de boliche. Descobrir o necessário para ser um grande jogador. Trabalhar nas mecânicas." Mas percebo como não tenho tempo para isso. 

Estou aprendendo Francês. Entendo o necessário para ser fluente. Penso: 'não tenho esse tempo', então não fico frustrado se não sou tão bom. Mas é algo que eu pelo menos tento mesmo sem bom, falar francês. Só isso.


Existe outra fala de Ben Ratliff, "A música de Kenny G é uma arma de consenso? Faz as pessoas concordarem em seguir, e por quê?" O que acha disso?

Vi o filme em New York, e ri quando ouvi isso, foi muito engraçado. Aliás, Ben estava lá ontem. Nunca tinha encontrado ele. Então, na coletiva depois, Penny pediu pra falar com algumas pessoas que estavam no filme e estavam na plateia, incluindo ele. Depois, fui dizer oi. Perguntei: "Posso te cumprimentar?" E ele disse: "Claro! Tivemos um papinho, e disse quão ótimo ele é."

Quando ele disse isso, pensei "é um escritor prolixo que conhece de linguagem e conhece de timing. Então, pensei em como a linguagem e as palavras estavam bem estruturadas. Muito bom! E me fez rir! Claro, não vejo minha música assim, mas gostei do fato dele não ter medo de dizer. Muito esperto.

Mas, de novo, não me faz pensar que preciso fazer algo diferente com minha música, mesmo. Sempre terá alguém que não gosta de uma vibe ou som em particular. Mas existem milhões que amam - e eu amo. É o mais importante.


O título de Penny enquanto filmava era Kenny G Has The Last Laugh [Kenny G Ri Por Último]. Você preferiria se ela mantivesse este título?

Com certeza! Achei um erro mudar! Mas só soube disso depois do filme sair. Até disse: "Penny, qual é, era muito melhor!" Ela disse: "Kenny, por isso você não comandava."

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