IBORU é o nono disco de estúdio de Marcelo D2 e foi lançado nesta quarta, 14, nas plataformas digitais
Felipe Grutter (@felipegrutter) Publicado em 14/06/2023, às 09h27
Com músicas sempre politizadas, letras poderosas e um jeito de fazer rap inconfundível, Marcelo D2 se prepara para lançar o disco mais diferenciado da carreira: IBORU, nono álbum de estúdio lançado nesta quarta, 14. O projeto é sucessor de Assim Tocam os MEUS TAMBORES (2020) e a Rolling Stone Brasil teve acesso antecipado para a elaboração desta review.
O novo projeto tem a mesma linha que ATOMT, mas explora muito mais o samba e quase que não canta rap, algo que fica apenas para uma faixa ou outra. Isso não é ruim, porque os sambas feitos por D2 são muito interessantes.
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Ao longo das 16 faixas, o cantor brasileiro celebra bastante o samba e toda vida dele (as raízes) antes de se tornar artista. IBORU abre com "SARAVÁ.", uma espécie de interlúdio que estabelece o tom do álbum, com repertório de resistência, discurso social e muitos elementos de samba e das religiões de matriz africana. Inclusive, saravá significa "salve" ou "bem-vindo."
As influências e referências de religiões de matriz africana, além de estarem nas músicas do disco, aparecem no próprio título do trabalho. Iboru vem do cumprimento "Iboru, Iboya, Ibosheshe," usado pelos praticantes de Ifá, que tem complexa tecnologia de comunicação e transmitido através da cultura oral.
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Durante entrevista à Casa Natura Musical, o cantor também revelou outras influências, como saberes de Luiz Antônio Simas, samba de Clementina de Jesus e, especialmente da esposa, Luiza Machado. "Ela me conduziu para esse lugar, levou-me lá para o candomblé, para o Ifá," disse. "Ela sempre foi uma pessoa de muita fé, não só de religião, mas fé. Isso acendeu nossa parceria."
Além disso, Marcelo D2 também reconhece muito da origem e ancestralidade dele, com algumas passagens nas quais remonta os ambientes nos quais nasceu. Isso começa a ficar mais evidente em "KALUNDU," a primeira música do álbum a ter mais relação com rap, sem desapegar do principal foco, o samba. Inclusive, ele cita como a sobrevivência o faz voltar para própria raiz.
Para fazer o futuro, precisamos resgatar o passado," canta em 'SARAVÁ.'
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Vale lembrar como IBORU vem alguns meses após um disco de inéditas do Planet Hemp, um dos principais grupos de rap do Brasil, e o cantor quis fazer algo diferente com esse novo álbum. "Escrever disco de rap, o Planet Hemp, meus solos… eu sempre vim em uma luta, sempre escrevi em um lugar de confronto," explicou à Casa Natura.
Eu resolvi falar de uma outra maneira nesse disco, falar de ancestralidade, falar de futuro, falar de onde eu vim, falar de pé no chão, falar de comida, falar de alegria, de esperança. Essa ancestralidade de futuro talvez seja o conceito do disco.
É muito legal ver essa abordagem diferente em uma discografia extensa e repleta de hits, porque D2 mostra um conhecimento e intimidade com o samba, e isso te deixa com a sensação de que ele trabalhou com o gênero por toda carreira.
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Em uma das canções mais poderosas, "SÓ QUANDO MEU SAMBA MORRER" abre com trecho de "No Meio do Povo" e fala da relação dele com samba, assim como exalta ícones do gênero, como Mestre André, Zeca Pagodinho, Arlindo Cruz, Alcione, Beth Carvalho, Bezerra da Silva, João Nogueira, entre outros.
Só morro quando meu samba morrer," canta. "Se eu morrer, só se for de alegria quando a melodia invade a mente."
Como se fosse um verdadeiro samba raiz, como se estivesse em uma tradicional roda de samba, Marcelo D2 traz uma letra de perseverança em "TEMPO DE OPINIÃO": "E se sufocar, hei de me lembrar quem já tombou por mim. Não vou me entregar, o meu canto é guerra. Vai cobrir de terra quem desejou o meu fim."
"PEDACINHOS DE PAULETE," por mais que seja um interlúdio, é uma das faixas que mais emociona em IBORU. Nela, D2 homenageia a mãe, Paulete, que morreu em 2021. "Mães só se vão fisicamente, elas ficam nos corações e dona Paulete é luz, iluminava qualquer lugar por onde ela passava," afirmou na época em publicação nas redes sociais.
Uma das músicas mais fortes do álbum, "O SAMBA FALARÁ + ALTO" comenta toda força do samba e até traz um orgulho de ser brasileiro. O ponto alto é a parceria com Alcione, cuja voz lendária canta: "Enquanto arrepiar, a emoção não vai morrer, se eu não puder lutar, o samba vai estar lá e vai surpreender."
Na reta final de IBORU, tem uma música intitulada "PRA MARCELO," descrito como "samba de morro." Nela, Marcelo D2 fala sobre ele mesmo, enquanto aproveita para mandar um discurso social que vem como uma porrada: "Quando é força que nos cala, não é paz, é medo."
Mesmo bastante afastado do rap em IBORU (musicalmente falando), Marcelo D2 lançou um disco muito autêntico e emocionante muitas vezes. Esse trabalho pode ser visto como uma realização de como lidamos com a passagem do tempo e usamos isso para evoluir, com muito samba, claro.
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