Lançada originalmente em 1986, a canção chegou a ser esnobada pela MTV, mas voltou a repercutir após aparecer em uma das cenas mais marcantes de ‘Stranger Things’
Pedro Figueiredo (@fedropigueiredo) Publicado em 12/06/2024, às 14h16
“Master of Puppets” é a faixa que dá nome ao terceiro álbum do Metallica, lançado em 1986. Entre os sucessos do disco, com “Battery” e “Welcome Home (Sanitarium)” entre as mais ouvidas, nenhuma delas talvez chegue aos pés da canção que batiza a obra. O álbum faz parte da tríade produzida por Flemming Rasmussen, fundador do Estúdio Sweet Silence. São deles também as produções de Ride the Lightning (1984) …And Justice for All (1988).
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Ao longo de oito minutos e 35 segundos, a banda guia por alguns dos solos de guitarra mais insanos de sua discografia. Assim como o restante do álbum, a canção foi gravada na Dinamarca, terra do baterista Lars Ulrich, no ano de 1985.
A faixa foi o primeiro e único single lançado pela banda para divulgar o álbum. Eles até pensaram em gravar um clipe para ilustrar a obra, mas acharam que seriam ignorados pela MTV deixaram a ideia de lado.
“Chegamos à conclusão de que eles não transmitiriam a p***a do clipe do Metallica de qualquer jeito. Por que desperdiçar dinheiro, então? Sabíamos que atrairiamos mais publicidade se não fizéssemos um clipe”, conta Ulrich no livro Metallica – A Biografia (2013), do jornalista Mick Wall.
A canção por si só já valeria uma história, mas tudo fica mais interessante quando ela passa a integrar a trilha sonora de uma das séries de maior sucesso dos últimos anos: Stranger Things (2016). Além de apresentar a música para gerações mais jovens, a produção deu um fôlego novo ao clássico.
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Sucesso dos mais ouvidos do Metallica entre as três primeiras no top 10 da banda por mais de 30 anos, a música ganharia um novo capítulo em plena década de 2020 — mais precisamente em 2022, nas mãos de um guitarrista fictício: Eddie Munson, personagem de Joseph Quinn em Stranger Things, que em dado momento da série usa o solo de Kirk Hammett para derrotar Vecna. Mais de três décadas depois, de uma forma completamente despretensiosa, a Netflix dava ao Metallica um clipe a que MTV nenhuma seria capaz de se opor.
Inicialmente, a ideia de “Master of Puppets” era o conceito do álbum. A primeira parte da composição das canções foi feita por Ulrich em parceria com o guitarrista da banda, James Hetfield. Depois foram adicionadas ideias dos outros dois integrantes, Cliff Burton e Kirk Hammett.
Com a estrutura pronta, eles partiram para a elaboração das letras, a partir do tema. Isso também inspirou o artista Don Brautigam, responsável por pintar a obra que viria a ser a capa do disco posteriormente.
A letra profunda escrita por James Hetfield fala sobre estar preso a uma situação em que não se tem controle como uma marionete. Aqui, essa alegoria é usada para abordar o vício em drogas e como uma pessoa pode se tornar refém delas.
“Eu sou a sua fonte de autodestruição/Veias que pulsam com medo/Sugando a mais escura claridade/Comandando a construção da sua morte,” diz um trecho da letra.
Em 1986, Hetfield falou a Trasher Magazine sobre abordar o tema: “‘Master of Puppets’ lida muito bem com drogas. Como as coisas mudam, em vez de você controlar o que você está tomando e fazendo, são as drogas controlando você”.
Uma curiosidade interessante sobre a canção é que aos 6 minutos e 19 segundos é possível perceber um riff de guitarra inspirado na música “Andy Warhol”, do disco Hunky Dory (1971), do britânico David Bowie.
Segundo informações divulgadas pelo site oficial do Metallica, “Master of Puppets” é a música mais tocada nas apresentações. Desde a estreia, em 31 de dezembro de 1985, no Bill Graham Civic Auditorium de São Francisco, a canção foi tocada 1.705 vezes.
A faixa também é a favorita dos fãs. Pelo menos esse foi o resultado de uma votação promovida pela banda nas redes sociais no ano de 2020 e que envolvia todas as músicas do catálogo do grupo. A canção disputou a final com “One”, do álbum …And Justice for All.
“Não é à toa que essa belezinha está na Biblioteca do Congresso!”, escreveu o Metallica sobre o resultado da eleição. O álbum Master of Puppets integra a Biblioteca do Congresso Nacional dos Estados Unidos pelo valor cultural.
Outra prova da importância da faixa para a história da banda é a quantidade de vezes que ela volta a aparecer na discografia do Metallica. Algumas delas são a gravação de um dos shows da turnê do Black Album (1991), no Live Shit: Binge & Purge (1993). Há também uma versão gravada em parceria com a Orquestra Sinfônica de São Francisco.
“Master of Puppets” também figura na trilha sonora do filme em 3D Metallica: Through The Never, lançado no ano de 2013; os shows em gravados em DVD Quebec Magnetic (2012), The Big 4: Live in Sofia, Bulgaria (2010), Orgullo, Pasión, Y Gloria: Tres Noches En La Ciudad de México (2009), Français Pour Une Nuit (2009), Cunning Stunts (1998) e Cliff ‘Em All (1987).
Em 2017 foi lançada uma versão remasterizada do álbum, na qual é possível conhecer versões diferentes da faixa que dá título à obra, como algumas demo, por exemplo.
Uma das produções mais cativantes da Netflix, em que um grupo de adolescentes se vê enfrentando criaturas sobrenaturais ambientada na década de 1980, já tem uma premissa interessante. Isso somado a uma das trilhas sonoras mais interessantes dos últimos tempos ganha um sabor ainda mais especial.
Nos últimos anos, Stranger Things tem sido responsável por revelar antigas relíquias para um público mais jovem - ou relembrar, se você viveu a década de 1980. Foi o que aconteceu com “Running Up That Hill (A Deal with God)”, de Kate Bush, por exemplo.
“Master of Puppets” também foi redescoberta após aparecer na série. A música aparece na quarta temporada, em uma das cenas mais emblemáticas da produção, quando Eddie Munson, personagem de Joseph Quinn, toca a música na guitarra, para chamar a atenção dos monstros voadores do Mundo Invertido, enquanto o resto do grupo executa um plano para derrotar Vecna.
A supervisora de música da série, Nora Felder revelou à Variety que a canção havia sido escolhida desde o início da produção da temporada. “Essa parte da história foi prevista para ser uma cena crucial e especialmente de arrepiar os cabelos, na qual Eddie heroicamente se ergueu para a luta de sua vida.“
O uso da canção fez com que “Master of Puppets” ganhasse cerca de 2,6 milhões de reproduções no Spotify apenas na semana de estreia do episódio. Ela também foi parar na 14ª posição do Top Global da plataforma de streaming.
A aparição na série também fez com que a canção voltasse a figurar nas paradas de sucesso pela primeira vez em 36 anos. A banda não entrava em uma dessas listas desde 2008. O Metallica chegou a celebrar a conquista com um vídeo tocando a música usando camisetas do Hellfire Club, de Eddie Munson.
"A maneira como os irmãos Duffer tem incorporado música em Stranger Things sempre foi de outro nível, então estávamos mais do que empolgados por eles não apenas incluírem 'Master of puppets' na série, mas também por terem uma cena tão crucial construída em torno dela”, declarou a banda nas redes sociais após a divulgação do episódio.
No TikTok, vídeos que reproduzem a cena chegam a milhões de curtidas e visualizações. O vídeo postado no perfil da banda, em que os músicos tocam a música enquanto a cena passa na metade da tela tem mais de 14 milhões de visualizações e quase três milhões de curtidas. Outros conteúdos como reações de fãs da banda à cena, ou vídeos falando da banda para as gerações mais novas também se tornaram virais. Uma virada digna de Mundo Invertido para quem esnobou a faixa no passado.
A reportagem "O Metallica que virou pop" é parte da edição especial de Rolling Stone Brasil: Stranger Things, à venda no site do Grupo Perfil.
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