- Mc Luanna (Foto: Divulgação/ ONErpm)
SEXTO SENTIDO

Mc Luanna revela lado mais sensível em disco complexo: ‘Consegui trazer uma identidade’

Conhecida por músicas em que ‘humilha homens,’ Mc Luanna falou com a Rolling Stone Brasil sobre dar mais espaço na carreira para Luana Santos Oliveira

Felipe Grutter (@felipegrutter) Publicado em 07/11/2024, às 09h00

Larga essa po*** de vida / 'Cê quer que eu me encaixe nas droga e bebida / 'Cê vive pra cima e pra baixo, não avisa / E ainda me pede pra ter paciência.” Versos ácidos, agressivos e irônicos se tornaram uma marca na carreira de Mc Luanna, um dos nomes em ascensão no rap brasileiro, que decidiu respirar fundo e entregar um trabalho completamente diferente do que o público estava acostumado em Sexto Sentido, com letras mais sensíveis e sonoridade influenciada por diversos ritmos.

Lançado em outubro de 2024 nas plataformas digitais via ONErpm, o disco de estúdio de estreia da cantora baiana, que se mudou para São Paulo na infância, explora ritmos além do rap tradicional, como trap, bounce e dancehall.

A carreira de Luana Santos Oliveira, nome de batismo de Mc Luanna, é muito recente. Embora já tivesse experiência com a dança, onde não se sentiu valorizada, ela decidiu começar a cantar durante a pandemia de Covid-19, período no qual tinha um trabalho registrado.

Apesar de escrever e ler bastante, Luana não gostava da própria voz, por incrível que pareça. “Na pandemia, soltei um vídeo cantando uma letra que eu gostava muito, e aí as pessoas gostaram,” relembrou durante entrevista à Rolling Stone Brasil. “Aí eu fiquei: ‘Como assim as pessoas gostaram?’”

Claro, ela teve apoio neste momento inicial. Com alguns contatos no mundo da música, amigos começaram a auxiliá-la na gravação em estúdio e em todo o processo de colocar uma canção no mundo. Mas, afinal, como conseguiu tanto destaque no rap nacional em um curto espaço de tempo?

Nos últimos anos, Mc Luanna se destacou com músicas próprias, como “Rotina” e “Larga Essa Vida,” e em participações em álbuns de outros artistas, como “Meio Pá,” de Veigh, e “99 Problemas,” de Duquesa. Para a artista, esse (merecido) sucesso se deve muito à identificação com o público que as músicas trazem, assim como o comportamento dela nas redes sociais e internet.

“Você saber quem é o seu público, buscar uma similaridade com o que as pessoas têm faz com que você tenha isso,” afirmou. “Número é importante, sim, feats são importantes, mas eu tenho um público e costumo mostrar a realidade sobre o que eu passava. As pessoas viram que eu era uma pessoa igual a eles.”

Faço as mesmas coisas, frequento os mesmos lugares… eu não coloco esse pedestal de artista e público, sabe? Hoje, as pessoas querem uma pessoa que represente quem elas são.

Como Luana explicou, a identificação que ela traz envolve relacionamento, frustrações, e empoderamento de coisas que tinha como ausência na vida dela. Então, com o tempo, continuou a trabalhar e ter constância nos lançamentos: “Isso também é muito importante, porque não adianta lançar uma música aqui e demorar para lançar outra.”

Ou seja, isso faz com que você seja visto. Ao longo dos trabalhos, você aumenta o leque de quem consome seu trabalho. Por conta disso, você consegue colocar outra linguagem, outro beat, outros projetos, etc.

A cena feminina cresceu muito do ano passado para cá e fez com que isso crescesse para as outras mulheres.
Mc Luanna (Foto: Divulgação/ONErpm)

 

Mc Luanna foi atrás do próprio Sexto Sentido

Parte do que fazia sucesso nas letras de Mc Luanna são os versos em que ela “humilha homens,” expõe atitudes tóxicas e relacionamentos em ruínas. Porém, a artista quis mudar essa visão que muitas pessoas têm dela e, agora, quis dar mais espaço para Luana Santos.

Toda concepção de Sexto Sentido foi bastante tranquilo para a rapper, que fundiu aquilo que vive enquanto artista com a vida pessoal. Além disso, quis explorar sonoridades que gosta bastante que, antes, não conseguia levar para as gravações.

“Recentemente, fiz trinta anos, então quis trazer faixas mais maduras e, ao mesmo tempo, com mais sentimentos aflorados,” disse. “Tem muitas coisas que eu trago da terapia. E isso faz com que as coisas fiquem um pouco mais como se fossem conselhos. Já é uma identidade minha.”

Quis explorar muito mais uma Mc Luanna solo, o que meu público estava com vontade. [...] As pessoas estão muito acostumadas exatamente a me ver ser um pouco mais agressiva, de humilhar homens e tudo mais. Só que eu acho que tinha muitas outras coisas que eu não conseguia mostrar porque eu estava muito atrelada a essa imagem sobre esse tipo de música.

Com o álbum de estreia, Mc Luanna usou do próprio sexto sentido para elementos que queria testar. Todo processo criativo foi bem diferente. Aceitou diversas sugestões dos produtores, além de trabalhar principalmente com artistas fora do eixo de Rio de Janeiro, São Paulo e sudeste.

Eu queria trabalhar de uma forma mais leve e explorar outras coisas sem ser a ‘Luana Odeia Homens’, sabe? Eu queria tirar um pouco disso para mostrar outras coisas da Luana que eu tenho a capacidade de fazer e que eu gosto.

Muitas vezes, quando um artista faz alterações, seja no estilo sonoro ou nas letras, os fãs não aceitam muito bem. Porém, para Mc Luanna, o público dela sabe lidar com essas diversas facetas dela, porque conseguem separar a pessoa física do CNPJ. “Vai dar bom, sim.”

Tudo mudou, mas nada mudou

Na entrevista com a Rolling Stone Brasil, Luana revelou como aborda a carreira na terapia: “Minha psicóloga até fala que eu não aceito a MC Luanna. ‘É como se você não aceitasse o que você é, quem que você é.’ Para mim, querendo ou não, eu tenho quatro anos de carreira, com dois em uma pandemia. É muito doido porque, por exemplo, poucas coisas na minha vida mudaram.”

Após focar 100% na carreira artística, ela continuou a frequentar o mesmo mercado, manteve a rede de amigos e continua com os mesmos hábitos. Para ela, o único fator que mudou foi o trabalho - e isso a deixa um tanto quanto confusa.

Ainda é muito difícil na minha cabeça aceitar que tenho um público, pessoas que saem de longe para consumir meu trabalho. Eu mudo vida de pessoas. Dentro da psicologia a gente consegue separar as coisas muito bem, porque eu não preciso tirar de uma para ter a outra, sabe?

Mc Luanna e Luana se complementam de uma forma ótima. Luana é muito tímida, introspectiva e sensível. Já a destemida Mc Luanna é muito agressiva e impõe tudo: “Costumo falar que a Mc Luanna é tudo que eu não conseguia ser. Esse complemento faz com que fique algo sólido e único.”

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