- Capa de Clube da Esquina 2 (Foto: reprodução)

Milton Nascimento e o Clube da Esquina 2: Um símbolo da música brasileira

Em Clube da Esquina 2, Milton Nascimento domou a MPB e criou umas das preciosidades da música nacional

Redação Publicado em 07/02/2023, às 15h52 - Atualizado às 16h01

A metade da década de 1970 foi intensa para Milton Nascimento. Em dois anos, ele lançou quatro álbuns – os já citados Minas e Geraes, além de Native Dancer (1975), parceria com o saxofonista Wayne Shorter, e Milton (1976), com canções em inglês, em mais uma tentativa de atingir o público internacional.

A verdade é que Bituca sentia o cansaço da vida na estrada e o peso de ser a voz de uma
geração (algo que jamais o deixou confortável). Ele precisava puxar o freio, e um dos caminhos foi ressuscitar o projeto Clube da Esquina.

A verdade é que o clube era meramente um conceito – uma reunião de amigos em criações coletivas a partir de músicas escritas por Milton com seus parceiros letristas, além de faixas de outros compositores. Só que seis anos haviam se passado desde o primeiro álbum e seu fundador já circulava em outras rodas. Ou seja, se o projeto continuasse, seria com novos sócios e outras regras.

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Para começar, Milton foi atrás do principal parceiro da empreitada. Distante nos anos anteriores, Lô Borges contribuiu, mas dessa vez menos intensamente: só duas canções (as marcantes “Ruas
da Cidade” e “Pão e Água”), além de alguns backing vocals e a guitarra de “Maria, Maria” – a qual, aliás, foi composta por Milton para a trilha sonora do balé homônimo do Grupo Corpo.

Apinhado de momentos marcantes ao longo de oitenta minutos (seu trabalho mais longo até então), Clube da Esquina 2 brilha justamente nas músicas de outros autores, como “Tanto” (de Beto
Guedes), “Paixão e Fé(Tavinho Moura) e “Canoa, Canoa” (Nelson Ângelo). “Mistérios” teve o violão da própria autora, a cantora Joyce, além de vocais do Boca Livre.“Nascente” é de Flávio Venturini, do 14 Bis, antigo frequentador das gravações de Milton.

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Sócios mais ilustres também se juntaram ao clube. Com Chico Buarque, ele dividiu “Canción Por La Unidad Latinoamericana” (escrita por Chico com Pablo Milanés). Com Elis Regina, cantou “O
Que Foi Feito Devera (De Vera)”, que evoca o tema de “Vera Cruz”, com letras de Fernando Brant e Márcio Borges, cada um responsável por uma metade. E “Canção Amiga” é uma “parceria” com
Carlos Drummond de Andrade, em que Milton musicou, com permissão, os escritos do lendário poeta mineiro.

Em entrevista à Rolling Stone Brasil em 2011, ele comentou sobre seu aspecto favorito de Clube 2.

Esse foi um disco que, diferente do Clube 1, no qual a maioria dos músicos era de Minas, resolvi convidar amigos de diversos lugares. Foi assim que entraram Elis Regina, minha maior inspiração, Chico Buarque, Francis Hime, Pablo Milanés e os grupos Boca Livre e Tacuabé.” Em seguida, mencionou outros nomes que também devem ser lembrados, “como João Donato, tocando trombone, Maurício Einhorn, Jacques Morelembaum, Edson Maciel e César Camargo Mariano. Em algumas músicas, o coro foi formado por Gonzaguinha, Olivia Hime e Cristina Buarque. Foi um disco que reuniu uma turma tão impressionante que ainda hoje fico emocionado só de lembrar”.

Ainda que seja mais domado e menos experimental do que o primeiro Clube, Clube da Esquina 2 é um dos trabalhos mais consistentes de Milton. Mais do que isso, é um atestado de sua habilidade de reunir talentos dignos de sua grandeza, consolidando a faceta agregadora pela qual é respeitado até hoje. A esquina onde todos se encontram é mesmo o próprio Milton.

80 anos de música

A resenha de Clube da Esquina 2 está presente na Especial 80 Anos de Música, uma edição exclusiva da Rolling Stone Brasil dedicada à Geração 1942, que reúne nomes essenciais da MPB, como Gilberto Gil, Caetano Veloso, Paulinho da Viola e o próprio Milton Nascimento, além de um panorama global dos nascidos neste ano. O especial impresso já está nas bancas e ns bancas digitais. Clique aqui para saber mais. 

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