A banda se apresenta na próxima semana em São Paulo; em entrevista à Rolling Stone Brasil, Ryan Guldemond revelou processo por trás da criação de 'Grief Chapter'
Heloísa Lisboa (@helocoptero) Publicado em 18/10/2024, às 10h00
"Wait! They don't love you like I love you", canta Karen O em trecho de "Maps" que viralizou no TikTok no período em que esta entrevista foi publicada. Mother Mother também teve que assistir aos refrões de suas músicas — "Hayloft", principalmente — virarem trilha sonora de vídeos curtíssimos.
Ryan Guldemond, vocalista da banda, porém, não demonstrou preocupação com os fãs de um hit só. "A música é atemporal", refletiu em entrevista à Rolling Stone Brasil ainda em junho. Formado também por Molly Guldemond, Jasmin Parkin, Ali Siadat e Mike Young, o Mother Mother fez até mesmo uma sequência para a canção divulgada em 2008, no álbum O My Heart. "Hayloft II" foi incluída na versão deluxe do Inside (2021), lançada em 2022.
Outra novidade foi a chegada de Grief Chapter, 10º álbum de estúdio do grupo canadense. O título dado ao projeto que saiu em fevereiro foi inspirado em uma conversa entre Guldemond e um amigo mais velho, "na casa dos 70 anos", revelou o cantor.
Ele explicou: "O pai dele faleceu, assim como alguns amigos, então ele estava lidando com muitas perdas enquanto eu o consolava. Eu disse: 'Cara, sinto muito. Parece que você está em um capítulo de luto'. E aí ele respondeu: 'Sim, estou, mas isso soa como o título de uma música que você deveria escrever'.
O disco de inéditas dá atenção especial a questões de saúde mental. "Head Shrink", faixa predileta de Ryan, teria sido resultado de uma epifania obtida graças a uma lesão nas costas. "Enquanto lidava com essa dor [na lombar], notei essa ideia de que a dor física é uma expressão da dor emocional", contou Guldemond.
Um toque sombrio foi acrescentado ao disco com a ajuda de Colin Minihan, cineasta conhecido por produções de terror. O single "Normalize", que questiona o normal em fatores como sexualidade e religião, ganhou videoclipe dirigido por ele.
Guldemond admitiu que nunca assitiu aos filmes do diretor: "Não assisto a muitos filmes de terror. Tenho pesadelos quando assisto". A parceria entre Minihan e o grupo, porém, já é de longa data. "Ele fez nossos videoclipes para 'O My Heart' e 'Body of Years'", lembrou o músico.
Marcado para a próxima quarta-feira, 23, a apresentação do Mother Mother em São Paulo, no Tokio Marine Hall, deve abranger o repertório adquirido recentemente pela banda em "uma setlist que passa por cada fase, seja antiga, nova ou algo entre essas duas".
Os canadenses estiveram no Brasil no ano passado, quando receberam um convite de última hora para compor o line-up do Lollapalooza. Eles entraram no lugar de Dominic Fike.
Fazer um show solo é como ter uma lista especial de convidados. É o seu jantar privado — seus amigos mais próximos aparecem, vocês compartilham segredos, abrem seus corações, todos se sentem seguros e conectados. Um show solo é mais ou menos assim.
Leia entrevista completa com o Mother Mother:
Rolling Stone Brasil: Como é ter uma música antiga fazendo muito sucesso anos após o lançamento devido ao TikTok?
Ryan Guldemond: Acho que, para a banda, é estranho, mas a música é atemporal, é eterna, e, por isso, tem uma noção de tempo diferente da dos humanos. Então, para nós, é tipo: "Isso não faz sentido". Mas a música está tipo: "Estarei por aí para sempre, então não importa quando as pessoas vão me notar".
Rolling Stone Brasil: E como foi revisitar essa música e trabalhar em uma nova versão dela?
Ryan Guldemond: Acho que há algo especial que acontece no início da nossa jornada com a arte e a criatividade quando você é jovem. Você é ingênuo e, por isso, quebra todas as regras que você nem sabia que existiam. Quando ouço as primeiras músicas do Mother Mother, escuto essa ignorância bonita na composição e me reconecto com elas. Elas me inspiram novamente para pensar como um jovem sendo compositor, o que é muito positivo e saudável.
Rolling Stone Brasil: Como isso impactou o Grief Chapter?
Ryan Guldemond: Muito positivamente. Acho que, de novo, você é lembrado que não existem regras na arte — e aprendemos isso com as músicas antigas e aplicamos em nosso novo álbum. A gente terminava de compor uma música para o Grief Chapter e parecia acabado, mas, aí, pensávamos: "Espere, antes de terminarmos, podemos deixá-lo mais estranho, vamos ver se conseguimos adicionar outras coisas, vamos mudar a batida, vamos quebrar uma regra". Quebramos todas as regras? Essa é a pergunta.
Rolling Stone Brasil: Qual você acha que é a resposta?
Ryan Guldemond: Não quebramos todas as regras — sempre tem mais regras para serem quebradas. Mas acho que quebramos o suficiente para nos sentirmos satisfeitos.
Rolling Stone Brasil: Acho que muitas músicas do Mother Mother podem se conectar com problemas enfrentados pela geração Z, como "Normalize". Como você acha que sua música se comunica com as diferentes gerações e como consegue manter os fãs antigos enquanto garante novos?
Ryan Guldemond: Acho que, seja você um jovem ou um idoso, você é uma pessoa, e existe uma dificuldade universal em encontrar paz, autenticidade, amor, em um mundo que torna tudo muito difícil de funcionar. Então, nossa música é sobre isto: a tarefa de encontrar paz nesse mundo problemático. Não há discriminação, todos são bem-vindos. Nesse momento, a saúde mental é mais proeminente para as gerações mais novas por diversas razões. O mundo é muito doido, e a tecnologia e as redes sociais não tornam as coisas mais fáceis, então consigo entender por que tantos jovens estão se identificando com esses temas em 2024.
Rolling Stone Brasil: De onde vem o nome do novo álbum?
Ryan Guldemond: Estava trocando mensagens com um amigo que é mais velho — ele está na casa dos 70 anos. O pai dele faleceu, assim como alguns amigos, então ele estava lidando com muitas perdas... Enquanto eu o consolava, disse: "Cara, sinto muito. Parece que você está em um capítulo de luto". E aí ele respondeu: "Sim, estou, mas isso soa como o título de uma música que você deveria escrever". Essa foi a inspiração. Quando comecei a escrever Grief Chapter, li nossas mensagens, levei o que ele disse quase literalmente e coloquei em música. Foi como se a música já estivesse escrita e eu só tivesse que me abrir para ela.
Rolling Stone Brasil: E como ele reagiu à música e ao álbum?
Ryan Guldemond: Ele chorou e ficou grato. Ele ajudou com a música, sabe? Acompanhou a jornada de composição. Eu perguntava: "O que achou da letra?" Então, meio que fizemos juntos. Foi lindo.
Rolling Stone Brasil: Qual a sua música preferida do Grief Chapter?
Ryan Guldemond: Minha música preferida é "Head Shrink"!
Rolling Stone Brasil: Por quê?
Ryan Guldemond: Porque essa música nasceu de um período muito difícil, quando fiquei acamado por cerca de um mês com uma lesão nas costas. Quem ler isto vai pensar, "Ah, sim, dores na lombar são as piores", e vão enfatizar que provavelmente sou muito jovem para ter dor na lombar. Mas enquanto lidava com essa dor, notei essa ideia de que a dor física é uma expressão da dor emocional. Estar preso à cama com essa lesão foi como um portal para mim mesmo, e descobri que a ferida é a cura. Este é o caminho para a cura: encarar sua dor. A música é sobre isso, e eu amo quando algo difícil cria algo bonito como uma música.
Rolling Stone Brasil: Como escolheu as sonoridades que seriam incluídas nesse disco? Há músicas de rock, guitarras pesadas e tudo mais, e músicas como a faixa-título, que é mais calma, eu acho...
Ryan Guldemond: Acho que todas as histórias que você conta em um álbum têm começo, meio e fim. Quando lemos um livro, queremos embarcar em uma viagem, com altos e baixos, felicidade e tristeza. Queríamos concluir o disco de uma forma que fizesse sentido. É isto o que fazemos nos nossos álbuns: contamos uma história e levamos o ouvinte para uma viagem.
Rolling Stone Brasil: Como foi trabalhar com Colin [Minihan] nos videoclipes?
Incrível! Ele é um velho amigo. Foi o primeiro diretor que apareceu e nos ajudou a nos expressarmos visualmente. Ele fez nossos videoclipes para "O My Heart" e "Body of Years" em 2007, 2008. Retornar ao seu brilho foi nostálgico, poético e muito gratificante, porque ele é extremamente talentoso. Amamos os vídeos que ele fez.
Rolling Stone Brasil: Você gosta dos filmes dele?
Ryan Guldemond: Nunca assisti aos filmes dele. Não sou um grande... Não assisto a muitos filmes de terror. Tenho pesadelos quando assisto.
Rolling Stone Brasil: Como foi se apresentar no Lollapalooza Brasil após receber um convite de última hora?
Ryan Guldemond: Foi meio tenso, né? O Brasil significa tanto para a gente, porque vemos nos bastidores do Spotify que temos muitos ouvintes brasileiros. Sabemos que temos esse apoio incrível e essa fanbase no país. Pensamos: "Esse é o momento, temos duas semanas para nos prepararmos". Foi muito significativo para a gente, e o Lollapalooza é tão famoso, reverenciado, então foi uma experiência realmente empolgante — estressante e tensa —, mas incrível.
Rolling Stone Brasil: Quais são as diferenças entre fazer um show de abertura ou em um festival e uma apresentação solo?
Ryan Guldemond: É como se você fosse a uma festa onde tem alguns amigos, mas há também gente que você não conhece. Você dá uma volta, conversa com alguém, de quem gosta bastante, fala com outra pessoa, de quem não gosta muito — ou que não gosta de você... Daí você passa um tempo com seu amigo e depois pensa: "Ok, isso foi demais. Preciso tirar um cochilo". Isso é como um festival.
Fazer um show solo é como ter uma lista especial de convidados. É o seu jantar privado — seus amigos mais próximos aparecem, vocês compartilham segredos, abrem seus corações, todos se sentem seguros e conectados. Um show solo é mais ou menos assim.
Rolling Stone Brasil: Dito isso, o que os fãs podem esperar do show em São Paulo?
Ryan Guldemond: Podem esperar por uma celebração de todos os álbuns e uma setlist que passa por cada fase, seja antiga, nova ou algo entre essas duas. Podem esperar um show de luzes lindo, muita energia da banda, palavras positivas entre as músicas e um ambiente seguro, acolhedor e festivo, onde todos podem se conectar e aproveitar ao máximo.
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