Livro 'A Vida Me Ensinou a Caminhar' traça a história de MV Bill desde a origem no grupo Geração Futuro; saiba mais
Redação Publicado em 11/04/2022, às 19h53
O sucesso que nasce do abandono. A superação que vence a violência. MV Bill assume a caneta de escritor para contar sua história em A Vida me Ensinou a Caminhar, obra autobiográfica do rapper carioca, com previsão de lançamento nesta sexta-feira, dia 15 de abril, pela Editora Age.
Em 27 capítulos, Alex Pereira Barbosa - ou MV Bill - narra histórias que incluem passagens por Florianópolis, São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Teresina e Belém. Episódios como sua participação no Free Jazz, com arma na cintura, em 1999, e o encontro com o presidente Lula, no Palácio do Planalto, em Brasília, em 2002.
À Rolling Stone Brasil, a editora enviou o primeiro capítulo completo da obra, "Quando Conheci o Rap", onde Bill narra o princípio de sua trajetória na música ao lado do grupo Geração Futuro, em 1991. Trata-se de um relato de impacto, que contextualiza o Brasil da periferia no início dos anos 90 - com toda a desigualdade e o racismo estrutural presentes. Abaixo, um trecho que ilustra bem o cenário:
Eu não estava acostumado a ver gente preta estampando capa de revista, a não ser criminosos ou atletas. Era uma puta inspiração pra gente! Eu delirava quando via o KRS-One com uma metralhadora fazendo alusão à clássica foto do Malcolm X; as minas do Salt-N-Pepa, Kool Moe Dee com seus raybanzões de sempre; LL Cool J, N.W.A., Big Daddy Kane, Eric B & Rakim os obscenos do 2 Live Crew, Ice-T, o “original gangster”; e até o Will Smith, que na época era conhecido como “Fresh Prince”, e fazia dupla com DJ Jazzy Jeff.
Os caras viviam no gueto, mas era gueto de primeiro mundo. Aqui no Brasil, me chamava a atenção que o preto ia preso com a cara escondida na camisa, de cabeça baixa… Ele ia humilhado, derrotado. Neutralizado. Nos Estados Unidos não. Vez ou outra um rapper fazia algum bagulho mais sério e ia preso. E em qual quer situação, a cabeça dos caras estava sempre erguida. A postura diante das câmeras ou no tribunal era totalmente diferente da nossa aqui no Brasil.
Àquela altura, eu já tinha uma boa noção do que era certo e errado, e obviamente não tínhamos orgulho nenhum de pessoas sendo presas, mas aquela postura dos caras era fascinante.
A gente aprendeu o rap assim, na praça, com muita marra, um pouco de ódio e alguns sonhos. Um tom ameaçador que a gente gostava de chamar de “atitude” porque era mais cult, segundo o Adão, nosso mentor intelectual, o cara que lia o Segundo Caderno, quando para a gente jornal era O Povo, que se torcesse a página pingaria sangue de tanto crime — a única coisa aliás, segundo os jornais, que acontecia nas favelas naquela época.
No resgate, MV Bill ainda lembra de sua casa e da influência dos pais em sua própria formação musical:
Minha casa também era muito musical. Algumas vezes vi o meu pai beijar minha mãe pela casa, ao som de Tim Maia, Agepê, Roberto Carlos, Benito di Paula, Maria Bethânia… Eu sabia que meus pais tinham tido uma bela noite de amor quando de manhã tocava Geovana, “Quem tem carinho me leva”. E sabia também que a chapa estava quente quando ele punha “Quando será?”, de Zé Rodrix.
Por influência deles aprendi a escutar de tudo e qualquer coisa black; eu chamava de “balanço”. O meu critério era simples: Deu pra dançar? É balanço.
Todo esse relato serve para MV Bill compor a cena em que formaria, ao lado de Adão, Teko, Deco e Lirinha, o Geração Futuro - grupo que, à época, ele bateu o pé para que fosse chamado assim, Futuro, no masculino.
— É Futura.
— É FUTURO!
— Não é, cara. É Futura! Geração Futura, com “A” no final. — o Teko me corrigiu pela segunda vez. Tinha estudado muito mais que eu, que só fui até o sétimo ano e aos quinze desisti da escola. Porque a escola já tinha desistido de mim fazia tempo.
— NÃO É, PORRA! É FUTURO! — engrossei. — Geração Futuro! Com “O” no final, entendeu? A gente é homem, porra! É “O” no final!
Eu não tinha nem um terço da escolaridade do Teko, mas era mais alto e falava mais grosso. Entre a gente, isso valia mais que qualquer escola. Era a universidade da favela. E nessa eu dava aula.
O Teko ainda tentou me explicar qualquer coisa sobre o adjetivo variar com o nome, sei lá, eu nem ouvi. A regra até podia ser essa, mas a gente era a exceção. Aliás, éramos a exceção de uma regra na qual devíamos estudar pouco, entrar para o crime e morrer cedo. Exceção na forma de vestir, andar e pensar. Exceção em nos reunirmos na praça para falar de rap, de questões raciais, e na formação de um movimento cultural, tudo sempre acompanhado de muita música, com rádios ligados a uma gambiarra elétrica que nós mesmos fazíamos no poste, e que vivia sendo arrancada pelo coroa do trailer.
Nesse dia estávamos justamente discutindo o nome do grupo. Eu havia acabado de compor a primeira música. Era um passo muito importante.
Para ler o primeiro capítulo completo de A Vida me Ensinou a Caminhar, de MV Bill, clique aqui. O livro está em pré-venda no site da Editora Age.
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